Miocardite viral: entenda a doença que matou jovem de 17 anos no ES
Para esclarecer dúvidas, médicos explicam, falando o que é a miocardite, como ela pode evoluir e quais sinais precisam de atenção
A morte precoce de um jovens, como aconteceu com Gabriel Henrique Souza, de 17 anos, causa comoção e questionamentos. Para esclarecer dúvidas, médicos explicam, falando em um contexto geral, o que é a miocardite, como ela pode evoluir e quais sinais precisam de atenção. Eles também alertam sobre os riscos da morte súbita em jovens.
O cardiologista Rafael Altoé explicou que a miocardite é uma inflamação que atinge justamente esse motor, o músculo cardíaco chamado miocárdio.
“Quando ele inflama, perde força, como um motor que falha. Isso compromete sua capacidade de bombear sangue, podendo causar desde cansaço e arritmias até, nos casos mais dramáticos, uma parada cardíaca ou morte súbita”.
No caso de miocardite em jovens, muitas pessoas questionam: como uma simples gripe pode levar a um desfecho tão trágico?
“O vírus da gripe (influenza) é uma das causas conhecidas de miocardite. O que acontece é que, em algumas pessoas, o sistema imunológico, ao combater a gripe, produz uma resposta inflamatória tão forte que acaba atacando o próprio tecido do coração”.
Segundo ele, se um jovem com miocardite não diagnosticada, causada por uma gripe, submete o corpo a um esforço físico intenso, o coração inflamado pode não suportar a demanda, levando a arritmia fatal ou falência aguda.
Já o cardiologista Vitor Dornela de Oliveira, especialista em arritmias cardíacas, explicou que a morte súbita em jovens, especialmente durante atividades físicas, costuma estar relacionada a doenças cardíacas silenciosas, muitas vezes sem sintomas prévios.
As principais causas incluem cardiomiopatia hipertrófica, uma condição genética em que o coração tem espessamento anormal do músculo; arritmias genéticas, como a síndrome do QT longo ou síndrome de Brugada, que afetam a condução elétrica do coração; e miocardites, geralmente provocadas por infecções virais.
Ele citou outros exemplos, como malformações das artérias coronárias, que podem comprometer a circulação durante o esforço; uso de substâncias ilícitas ou anabolizantes. “Em alguns casos o primeiro sintoma é a própria morte súbita”.
"Os casos mais graves de miocardite são mais comuns em jovens, sobretudo homens, após viroses. Risco aumenta com esforço físico intenso durante ou logo após a infecção”
Rafael Altoé, médico cardiologista
"Com uma boa conversa (anamnese) e um exame físico bem feito, o médico pode identificar sinais de alerta para possíveis doenças cardíacas ainda não diagnosticadas”
Vitor Dornela de Oliveira, médico cardiologista
Tire suas dúvidas
1 - O que é miocardite viral?
É uma inflamação do músculo do coração (miocárdio) causada por infecções virais, como as provocadas por vírus da gripe, covid-19, dengue, entre outros. Esses vírus podem atingir o coração e causar uma resposta inflamatória, que pode atrapalhar o funcionamento normal do órgão.
Os sintomas podem variar desde leves (como cansaço, dor no peito e palpitações) até mais graves, como falta de ar, tonturas e até desmaios.
Em casos mais sérios, pode levar a arritmias ou insuficiência cardíaca. O diagnóstico geralmente envolve exames como eletrocardiograma, ecocardiograma, exames de sangue e, em alguns casos, ressonância.
Na maioria das vezes, o tratamento é feito com repouso, controle dos sintomas e, se necessário, medicamentos. Com diagnóstico precoce e acompanhamento médico, a maioria dos pacientes se recupera bem.
2 - O que aconteceu com Gabriel é raro ou esses casos são comuns?
A morte súbita de um jovem atleta por miocardite é um evento raro, como destacou cardiologista Rafael Altoé, pós-graduado em Medicina Esportiva.
No entanto, segundo ele, a miocardite em si não é. Muitos casos mais leves acontecem e passam despercebidos, tratados apenas como um 'mal-estar forte' da gripe. “A raridade do desfecho fatal não pode nos deixar confortáveis com o risco”, enfatizou.
3 - Existe perfil de pessoa mais suscetível a casos graves?
Os casos mais graves de miocardite tendem a ocorrer com maior frequência em jovens, sobretudo homens, após viroses, e o risco cresce quando o atleta realiza esforço intenso durante ou logo depois da infecção.
Também preocupam pessoas com doenças autoimunes, imunossuprimidos, em uso de medicamentos ou substâncias tóxicas ao coração, crianças e idosos.
4 - Como a medicina faz para identificar essa inflamação no coração?
o cardiologista Rafael Altoé diz que há ferramentas muito eficazes. “Começamos com a suspeita clínica e exames básicos, como o eletrocardiograma e exames de sangue que medem a troponina, uma enzima que “vaza” do músculo cardíaco quando ele está sofrendo. Mas o exame que nos dá a imagem mais clara, o nosso padrão-ouro, é a ressonância magnética cardíaca”.
Ela é capaz de mostrar a inflamação, o inchaço e as cicatrizes no coração, confirmando o diagnóstico e ajudando a entender a extensão do problema.
5 - Quais são as principais causas de morte súbita em jovens?
A morte súbita em jovens, especialmente durante atividades físicas, costuma estar relacionada a doenças cardíacas silenciosas, muitas vezes sem sintomas prévios, como alerta o cardiologista Vitor Dornela de Oliveira.
Entre os exemplos, cardiomiopatia hipertrófica; arritmias genéticas; miocardites, geralmente provocadas por infecções virais; malformações das artérias coronárias; uso de substâncias ilícitas ou anabolizantes.
6 - Quais são os sinais de alerta para atletas jovens?
Vitor Dornela citou sintomas que devem sempre ser investigados com atenção. São eles: dor torácica durante exercício; desmaio ou quase desmaio, especialmente durante ou logo após esforço; palpitações frequentes ou desconforto cardíaco com exercício; fadiga desproporcional ao esforço; história familiar de morte súbita antes dos 50 anos; história familiar de cardiomiopatia, canalopatias ou uso de CDI (desfibrilador implantável); história pessoal de doenças cardíacas já identificadas e pressão arterial muito elevada em repouso ou com exercício.
7 - Quais exames devem ser feitos e com qual frequência?
A prevenção de eventos cardíacos em jovens atletas começa com a avaliação pré-participação esportiva, que é indispensável.
Essa checagem, repetida até anualmente de acordo com a intensidade e volume de treinamentos, inclui uma consulta detalhada, exame físico e um eletrocardiograma (ECG) de repouso.
Além disso, é fundamental que atletas e familiares aprendam a reconhecer sinais de alerta como dor no peito, palpitações, falta de ar desproporcional, tonturas ou desmaios durante o esforço.
Na presença de qualquer um desses sintomas, a atividade deve ser interrompida imediatamente para uma avaliação médica.
Fonte: Médicos consultados.
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