Lesão medular: descoberta dá esperança a pacientes no Estado
Pesquisadores afirmam que remédio deve ser aplicado até três meses após a lesão. Previsão é de que esteja disponível em 3 anos

Uma proteína extraída da placenta humana pode mudar o rumo de tratamento em pacientes com lesões na medula recém-ocorridas.
Ainda em fase de estudos por pesquisadores brasileiros, o medicamento polilaminina representa uma esperança para quem perde os movimentos em acidentes que levam a uma paraplegia – paralisia dos membros inferiores – ou tetraplegia – de membros inferiores e superiores.
O medicamento é fruto de 25 anos de pesquisa liderada por Tatiana Coelho de Sampaio, professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Resultados dos estudos – apresentados semana passada pela farmacêutica Cristália – apontam que a polilaminina é capaz de estimular neurônios maduros, que não iriam mais se desenvolver, a rejuvenescerem e a criarem novos axônios, fios finos que transportam os impulsos elétricos pelo corpo.
Em estudos experimentais, cerca de 10 pacientes conseguiram recuperar parte ou todo o movimento com o uso de polilaminina, entre eles um jovem de 31 anos que sofreu trauma por acidente de trânsito, uma mulher de 27 anos, que sofreu uma queda, e um homem de 33 anos, que sofreu lesão por arma de fogo.
Os efeitos da polilaminina também foram testados em animais. Em cães, por exemplo, dos seis que receberam a aplicação, quatro conseguiram recuperar movimentos.
Os pesquisadores ressaltam que os resultados apontam que, quanto mais rápida a aplicação, melhor o resultado. A ideia é que o medicamento seja aplicado até três meses após a lesão.
Cautela
Especialistas consultados pela reportagem afirmaram que a iniciativa é promissora, mas ainda pedem cautela, já que a chegada no mercado ainda tem um longo caminho a percorrer.
O laboratório aguarda a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar estudo clínico ampliado.
Dois hospitais de São Paulo estão credenciados para a aplicação do antídoto, diretamente na medula, quando autorizados. A expectativa é que o medicamento leve cerca de três anos para chegar ao mercado.
“Vai passar por avaliação”

Com apenas 16 anos, o estudante Paulo Victor Ferreira da Silva vive um processo diário de superação após sofrer uma lesão medular em um acidente no mar, há sete meses.
O impacto o deixou sem movimentos, mas, com fisioterapia intensa na Ufes e em casa, ele já conquistou avanços importantes: consegue firmar o pescoço e movimentar parcialmente os braços. “Antes eu não queria sair de casa, mas agora já saio”.
A adaptação não é fácil: além da cadeira de rodas, ele está reorganizando sua vida escolar, que será retomada em casa com a ajuda de um tablet, fornecido de Secretaria de Estado da Educação, e de um óculos especial comprado, com os comandos de um teclado.
A mãe de Paulo, Simone Ferreira, 51, tem esperança de que novas descobertas da Ciência – a exemplo da polilaminina – possam acelerar sua recuperação. “Em novembro, vamos para Brasília, onde ele passará por uma avaliação na Rede Sarah”.
Entenda
O que é a polilaminina
É um medicamento inédito e inovador desenvolvido no Brasil a partir da proteína laminina, extraída da placenta humana.
A substância tem ação direta sobre o sistema nervoso, estimulando neurônios já maduros a rejuvenescerem e criarem novos axônios, responsáveis por transmitir os impulsos elétricos do corpo.
O fármaco é resultado de 25 anos de pesquisa liderada pela professora doutora Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália.
Resultados das pesquisas
Os primeiros testes foram realizados em animais e mostraram efeitos promissores.
Em ratos, a recuperação ocorreu em 24 horas; em cães com lesões na medula, houve retomada da marcha.
Já Nos estudos clínicos iniciais em humanos, oito voluntários receberam o medicamento por meio de aplicação direta na medula espinhal.
A ideia é que o medicamento seja aplicado três meses após a lesão, já que os resultados foram mais expressivos.
As pesquisas ainda revelaram que lesões mais antigas também foram impactadas com o medicamento, com um grau de melhora, mas os resultados são melhores quando aplicados rapidamente.
Não foram identificados efeitos colaterais significativos, o que será confirmado em estudos de maior escala.
Caminho para liberação
O laboratório Cristália, parceiro no desenvolvimento do fármaco, informou que investiu cerca de R$ 28 milhões no projeto e que já está produzindo a polilaminina a partir de placentas doadas por mulheres saudáveis.
Agora, aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar estudos clínicos regulatórios em maior escala.
A expectativa é que a autorização seja concedida em aproximadamente um mês.
O que eles dizem

MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários