Fungo causou surto no Hospital Santa Rita, conclui investigação
O Histoplasma capsulatum, encontrado em fezes de aves (como pombos) e morcegos, foi o que contaminou pelo menos 33 pessoas
As investigações sobre o surto infeccioso no Hospital Santa Rita, em Vitória, foram concluídas e mostram que a causa é o fungo Histoplasma capsulatum. A conclusão foi divulgada na segunda-feira (10), em entrevista coletiva, pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
A informação já havia sido antecipada pelo secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann, para a reportagem de A Tribuna, na edição de domingo.
“A gente continua testando amostras de sangue e outras amostras para ter mais um dado estatístico, mas a conclusão, a partir de 30 casos, a gente já pode afirmar com convicção que o surto foi causado por um fungo que é o histoplasma”, disse o secretário.
O fungo é comumente encontrado em fezes de aves (como pombos) e morcegos. Ao todo, 141 casos estão sendo investigados, sendo 33 confirmados, entre funcionários, pacientes e acompanhantes.
A ala E, de internação de pacientes do SUS e o centro cirúrgico 1, anexo à ala, foram fechados pelo hospital. Segundo Tyago Hoffmann, o hospital está apto a reabrir os setores a qualquer momento.
“Nós, a partir do surto, preparamos um ofício com uma série de considerações e recomendações para o hospital reabrir, tanto o centro cirúrgico quanto a ala de internação e o hospital enviou para nós documentações comprovando que tudo que nós já solicitamos, foi cumprido”, explicou.
Conforme o secretário também antecipou para a reportagem na edição de domingo, alguns novos casos confirmados são de pessoas que passaram por novos testes.
Segundo o diretor do Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen), Rodrigo Rodrigues, não houve tantos casos positivos na primeira testagem, pois existe o período de incubação, em que a maior parte dos pacientes não irá manifestar indício que tem o histoplasma.
“Você precisa de uma janela temporal que varia entre 12 e 15 dias pós-início de sintomas. Como nós entramos no caso muito rápido, pegamos os pacientes exatamente nesse período que não tinha essa manifestação”, explicou.
Na ocasião, uma amostra identificou o fungo. “Essas amostras que testaram negativas da primeira rodada foram submetidas de novo a esse exame Western Blot (sorologia). E além delas, nós também tivemos outras que positivaram – a chamada soroconversão. Então, tinha um surto ativo e agudo. Se nós tivéssemos apenas um caso, não teria como vincular e dizer se ele se contaminou no Santa Rita”.
Terra remexida pode ser foco
Um mapeamento de todas as obras que estão sendo feitas no Hospital Santa Rita é realizado, segundo Orlei Cardoso, subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
“Sabemos que pela questão da dispersão dos esporos de fungo, ela pode ser tanto pelo ar, tanto por mexer em terra, quanto pelo ar-condicionado”.
O subsecretário destacou que, a partir do surto, novas diretrizes serão enviadas a todos os hospitais do Estado. “Nós temos a lei para a parte interna do hospital, que é rígida em relação ao uso de equipamento de ar-condicionado, de toda essa parte. Na parte externa, a legislação sanitária não prevê, mas nós estamos agora adotando medidas para poder orientar todos os outros hospitais”.
Segundo o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann, o índice de faltas a exames de radioterapia e cintilografia, desde o início do surto chega a 50%. Além disso, os estoques de sangue do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado (Hemoes) que fica ao lado do hospital estão baixos.
“Pedimos principalmente aos pacientes oncológicos que não deixem de ir ao hospital, porque a descontinuidade de um tratamento pode e deve agravar a situação de saúde desses pacientes”, disse.
Para ser considerado caso suspeito, a pessoa precisa ter estado no Hospital Santa Rita a partir de 20 de setembro, segundo nota técnica da Secretaria de Estado da Saúde, além de ter circulado na ala sob investigação e apresentar sintomas.
Paciente também foi contaminada por bactéria
Além do surto de histoplasmose, dois casos foram confirmados de contaminação pela bactéria Burkholderia cepacia, segundo o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann.
“Nós tivemos um problema paralelo que foi desta bactéria que contaminou, até o presente momento, duas técnicas de enfermagem, que foram exatamente os dois casos mais graves. Uma delas, inclusive, é o caso mais grave. Infelizmente, além da Burkholderia, num reteste que nós fizemos, também testou positivo para histoplasma”, afirmou.
No último dia 5, técnica de enfermagem Giani Corrêa Coutinho Santos, de 49 anos, comemorou sua alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Rita, em Vitória.
Giani passou mais de 20 dias internada, sendo uma semana em coma. Ela foi considerado o caso mais grave. “Só tenho a agradecer a Deus, estou muito feliz. Eu percebi o quanto sou amada por tantas pessoas, que fizeram orações e torceram por minha alta da UTI”, disse, na ocasião.
Entenda
Fungo
A contaminação pelo Histoplasma capsulatum se dá pela inalação de esporos do fungo, presente em fezes de animais como aves e morcegos.
O fungo não é transmitido de pessoa para pessoa. É avaliado se ele entrou no hospital pelo ar-condicionado ou por fresta em janelas.
Segundo especialistas, é comum que os esporos dos fungos se dispersem no ar quando o solo ou superfícies em que estão depositados sejam mexidos, como em casos de obras.
Ao entrar pelas vias aéreas do indivíduo, o fungo provoca uma resposta inflamatória causando sintomas como febre e mal-estar, dor no corpo e dor de cabeça.
Também pode evoluir para sintomas de doença respiratória, com tosse, dor torácica, se comportando como uma pneumonia.
Bactéria
A bactéria Burkholderia cepacia foi encontrada na água do bebedouro da sala de descanso dos técnicos em enfermagem.
A Burkholderia cepacia é típica de ambiente hospitalar, transmitido principalmente por contato com água contaminada ou de pessoa para pessoa. Ela causa infecções pulmonares mais graves.
Além do surto de histoplasmose, dois casos foram confirmados de contaminação pela bactéria em trabalhadores do hospital.
Uma técnica em enfermagem contraiu o fungo e a bactéria. Ela é considerada o caso mais grave. Ela teve alta da UTI semana passada.
Fonte: Sesa e pesquisa AT.
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