Especialistas revelam quando medo preocupa
Conheça o limite entre comportamentos normais e patológicos; fobias, compulsões e relacionamentos que suscitam preocupação
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Até que ponto ter medo ou alguma mania pode ser considerado normal? Especialistas revelam quando o comportamento deixa de ser algo excêntrico e passa a ser patológico, sendo motivo de preocupação.
“A diferença do comportamento excêntrico para uma questão psiquiátrica, de adoecimento, é o grau. Às vezes, a pessoa não percebe o sofrimento, mas há um grau tão grande desse comportamento que configura um adoecimento mental”, explica o psiquiatra Jairo Navarro.
Há também o sofrimento que tais comportamentos podem causar. “Há pessoas, por exemplo, que colecionam camisa de futebol ou figurinha, mas ao mesmo tempo está dentro de sua funcionalidade. Essa pessoa trabalha, é como se fosse um hobby, ela sabe até que ponto pode ir. Um acumulador já é diferente. Ele não vê disfuncionalidade, sendo que família e vizinhos reclamam”.
A psiquiatra Maria Benedita Reis, membro da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes), pontua que algumas vezes a distinção entre um comportamento e uma doença pode não ser fácil.
“Devemos observar o sofrimento referido pela pessoa. Uma história médica bem feita, realizada em um ambiente acolhedor, com uma escuta qualificada, costuma ser a chave para o diagnóstico. Nem sempre conseguimos fazer um diagnóstico certeiro em um único atendimento”, destaca.
Nas fobias, de acordo com o psiquiatra João Paulo Cirqueira, as pessoas deixam de vivenciar coisas importantes por conta desse transtorno de ansiedade. “O medo e a ansiedade paralisam e causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo”.
Já a compulsão, segundo explica Cirqueira, tanto as repetições mentais quanto comportamentais acarretam em prejuízos uma vez que limitam a vida da pessoa, que habitualmente despende tempo excessivo.
A psicóloga Luiza Bazoni alerta também para o fato de haver estudos já publicados revelando que foram encontradas taxas significativas de comorbidade e tendência suicida em pessoas com quadros de fobias e compulsões, bem como a dificuldade de relacionamento, devido às crenças limitantes.
“Outras consequências, como o abuso de álcool e drogas, também podem acontecer, gerando mais complicações na vida pessoal e profissional”.
Fobias e compulsões exigem tratamento
Com todos os prejuízos que as fobias e compulsões podem causar, além de poder levar à depressão e isolamento social, é necessário, segundo especialistas, que haja tratamento. Ignorar as condições não é a melhor solução, eles apontam.
A psicóloga Luiza Bazoniter é enfática ao dizer que todas as fobias e compulsões, sem exceção, exigem tratamento. Ela destaca também que é importante buscar o que está por trás dos comportamentos, quais são as emoções e sentimentos que podem estar camuflados.
“Dificilmente uma pessoa conseguirá se recuperar sozinha. É possível com acompanhamento psicológico e com medicamentos ministrados por um psiquiatra, conquistar grandes mudanças no estilo de vida, na transformação das crenças limitantes e na sensação de bem-estar ”.
Identificar e agir precocemente diante desses comportamentos, segundo a psicóloga Mariana Carmo, é essencial para evitar consequências mais graves e adversas. “Pois quanto maior tempo de transtorno e gravidade dos comportamentos, mais complexo é o tratamento”.
Tanto a fobia quanto a compulsão são sintomas com aspectos internalizantes, isto é, vivenciados pelo sujeito de forma silenciosa, explica o psiquiatra João Paulo Cirqueira.
“Em transtornos mentais com sintomas internalizantes intensos é fundamental o suporte familiar, uma vez que diversas distorções da realidade podem estar presentes, sendo a terapia de família muitas vezes uma ferramenta importante para a mudança de dinâmicas”.
Segundo a psiquiatra Maria Benedita Reis, atualmente o tratamento com maior grau de evidências é a terapia cognitivo-comportamental.
“Nela, o terapeuta e o paciente vão observar os pensamentos automáticos, as distorções cognitivas, as rotulações, os pensamentos dicotômicos, as conclusões precipitadas e os esquemas mentais por trás dos sintomas apresentados”.
Famosos
Medo do palco
A cantora britânica Adele foi diagnosticada com fobia social e medo do palco. Ela já recorreu à terapia para tratar o problema. A cantora revelou também, em entrevista a Oprah Winfrey, que as crises de ansiedade com a separação de seu marido, em 2018, a fizeram perder mais de 40 quilos, já que recorria aos exercícios físicos para aliviar as crises.
Fobia de altura
O ator norte-americano Zach Galifianakis tem fobia de altura (acrofobia). Em 2013, ele esteve no Brasil para participar de uma coletiva sobre o filme “Se Beber, Não Case! - Parte 3”, mas o ator não conseguiu subir ao Morro da Urca, no Rio de Janeiro, para participar da entrevista, devido ao seu medo. Ele participou da conferência por telefone.
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