"Dezembrite": entenda a síndrome que afeta a saúde no fim de ano
Cansaço, ansiedade, sensação de fracasso e vontade de fugir das festas de Natal e Réveillon estão entre os sintomas
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Natal, Ano Novo. As festas de fim de ano estão chegando. Para muitas pessoas significa que é hora de celebrar e renovar. Mas, em vez de ficar feliz, você está ficando cada vez mais ansioso e estressado? Não se assuste, você não é o único com sintomas de “dezembrite”.
Segundo a psicanalista Rachel Poubel, a síndrome de fim do ano, popularmente conhecida como dezembrite, é um conjunto de sensações psicológicas comuns nessa época, mas pouco discutidas.
Seus principais sintomas são angústia, ansiedade, cansaço, vontade de fugir das festas de fim de ano e sensação de fracasso.
“Chega esse período e as pessoas acabam publicando aquela felicidade, aquele encantamento de Natal. Mas, veja bem, a vida vai acontecendo durante o ano. E muita gente, por exemplo, mudou de cidade, está sozinha ou terminou um relacionamento... Nem todo mundo se encaixa naquela felicidade. Isso vai causando um sentimento de ansiedade, angústia profunda que pode chegar a gerar um quadro de depressão”, explica.
A psiquiatra Maria Benedita Reis acredita que os efeitos mentais da síndrome de final de ano são resultado de uma sociedade que preza por metas e resultados que possam ser mostrados.
“É o efeito da nossa sociedade de consumo. Hoje tudo é feito para ontem. Então, a pessoa postergou por vários motivos durante todo o ano e quando chega o final, ela começa a ficar ansiosa. Começa a querer cumprir as metas de 2024. Isso tem uma carga emocional muito grande”, explica.
O psiquiatra João Paulo Cirqueira analisa que o Natal é um período de laços comunitários e familiares, mas pode agravar sentimentos de solidão, ansiedade financeira e também de luto.
“Aqueles que já estão isolados ou enfrentam luto podem experimentar piora nos sintomas de depressão e ansiedade nessa época. Embora essa época seja frequentemente associada a um 'efeito protetor' causado por rituais familiares e laços comunitários”, diz João Paulo Cirqueira.
O psiquiatra também alerta que há estudos apontando que, no Ano Novo, há um aumento no risco de suicídios, principalmente, no dia 1º de janeiro.
“O dia 1º de janeiro apresenta um pico de suicídios. Esse aumento pode estar relacionado ao chamado 'efeito de promessa quebrada', quando as expectativas de um novo começo não são atendidas, levando a sentimentos de frustração e desesperança”, explica.
Ornamentação de Natal
“Mês tem boas lembranças”
Para a mãe da professora Christina de Castro, de 55 anos, as festas de final de ano são um momento de melancolia. Em abril de 2019, Marileide Aparecida de Castro, 79 anos, teve um AVC que a deixou sem poder andar.
“Mamãe me pediu para não deixar de ornamentar a casa para o Natal, eu o fiz, mas ela se entristece com as lembranças e seu quadro atual”, explica Christina. Nessa situação, a professora enfatiza que, para as duas, dezembro ainda tem mais boas lembranças. “Gostamos de tudo do Natal e final de ano”, diz.
Opiniões
Saiba mais
O que é
A Dezembrite ou a síndrome do fim do ano é um conjunto de sensações que se apoderam das pessoas quando o fim de ano está chegando.
Angústia, tristeza, ansiedade, cansaço, sensação de fracasso e aversão às festas de final de ano podem ser alguns dos sentimentos enfrentados por quem está passando pela dezembrite.
Segundo a psicanalista Rachel Poubel, se esses sentimentos persistirem por muito tempo, inclusive após as festas de fim de ano, isso pode ser um gatilho e desencadear até mesmo um quadro de depressão.
A psicanalista Lucimei Couto indica o estudo da International Stress Management Association (Isma). Ele revelou que 80% das pessoas economicamente ativas apresentam níveis maiores de estresse, ansiedade e até depressão no final do ano.
Lucimei também destaca que sentimentos de autocobrança e insuficiência também são comuns nessa época. Além disso, há o impacto das perdas.
Conselhos
Faça escolhas saudáveis. Pergunte-se: quais são as coisas mais necessárias? Quais são suas prioridades? O que é possível realizar? Não é só por que o fim de ano está chegando que você deve se desesperar e tentar cumprir em um mês, tudo que não fez em 2024. Por exemplo, uma de suas metas neste ano era ir ao ginecologista. Mas você ainda não foi. Ligue e marque a consulta, mesmo que para janeiro de 2025.
Olhe para dentro de si com bondade. Faça um levantamento de tudo de bom que você realizou esse ano. A psiquiatra Maria Benedita explica que somos, desde a infância, acostumados a nos criticar. Assim, é preciso cultivar um olhar benevolente.
Vai passar as festas sozinho? A dica é não ter vergonha de pedir ajuda a amigos ou a colegas de trabalho com quem tenha intimidade. Essa é uma boa opção para quem, por exemplo, não tem família no Estado.
Metas diárias
No final do ano, as pessoas costumam fazer grandes metas para o an inteiro. Mas, ao longo do ano, essas metas acabam não sendo realizadas. Isso vai causando uma sensação de fracasso e angústia.
Nesse caso, a dica é estabelecer metas diárias e semanais. Escolha três atitudes que você deve promover em um dia. Elas vão te ajudar a alcançar uma meta semanal e depois uma meta mensal e por aí vai. “Se você tem metas diárias, você vai realizar muito mais e vai se sentir muito mais produtivo quando chegar no final do ano”, aconselha a psicanalista Rachel Poubel.
Comunhão
O Natal deveria ser um momento de comunhão e não de obrigação. E, para isso, não há um “relacionamento padrão”. Passar bons momentos com pessoas que você gosta é o que torna o natal – ou o Ano Novo – um momento especial.
Saúde emocional
Realizar práticas que invistam na saúde emocional é importante para uma boa qualidade de vida.
Por exemplo, desconectar das redes sociais, por alguns momentos no dia. Além disso, se algo que você vê nas redes sociais, te deixar triste e incomodar, deixe de seguir.
Fonte: Especialistas entrevistas e pesquisa A Tribuna.
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