Descobertas sobre o Alzheimer dão mais esperança a pacientes
Remédios para atrasar a progressão da doença e vacina para prevenir o declínio cognitivo são as apostas dos cientistas
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Há 117 anos houve o primeiro registro de diagnóstico de Alzheimer. A doença, descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra Alois Alzheimer, foi descoberta após o médico analisar o cérebro de sua paciente Auguste Deter, que morreu aos 55 anos, quatro anos depois de ter desenvolvido um quadro de perda progressiva de memória.
De lá para cá, a ciência tem se esforçado para achar a cura da doença. Enquanto isso não acontece, novas descobertas prometem dar mais esperança aos pacientes, como remédios e testes genéticos.
A grande novidade no tratamento da doença de Alzheimer, de acordo com especialistas, são os anticorpos monoclonais que se ligam à proteína amiloide e conseguem limpar essa proteína do cérebro.
“Esses medicamentos foram aprovados pelo FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) e já temos dois anticorpos no mercado: o Lecanemabe e o Donanemabe. Esses anticorpos monoclonais têm uma eficácia modesta na fase muito leve de comprometimento cognitivo e na fase de demência leve da doença de Alzheimer”, destaca o neurologista Fábio Henrique de Gobbi Porto, doutor em neurologia, que também é diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), regional São Paulo.
O neurologista explica que com 18 meses de uso é possível atrasar a progressão da doença em cerca de dois a três meses em comparação com quem não usou o medicamento.
O Donanemabe é da farmacêutica Eli Lilly. Luiz André Magno, diretor sênior médico da Lilly, explicou à reportagem que a molécula está sendo estudada para o tratamento da doença de Alzheimer em fase inicial, quando o paciente já começa a ter sintomas, e para a fase pré-clínica, quando já acontecem modificações no cérebro, mas o paciente ainda não apresenta sintomas.
“Estamos falando na possibilidade de retardar o avanço da doença e o declínio cognitivo dos pacientes. Isso é algo extremamente valioso para os próprios pacientes e aqueles que estão ao seu redor”, afirmou Luiz André.
Há ainda algumas vacinas que estão em andamento contra a beta-amiloide, segundo o geriatra Rafael Neder, pós-graduado em Neurociência e mestre em Neurologia. “Mas a proteína amiloide faz parte do nosso corpo. Precisamos destruir a beta-amiloide que se deposita no cérebro. Eu acredito que em alguns anos teremos isso”, afirma.
Ajustes na rotina após descoberta
O ator Chris Hemsworth, de 40 anos, fez mudanças no seu estilo de vida após descobrir predisposição ao Alzheimer. Ele possui duas cópias do gene APOE e4, que aumenta de oito a 10 vezes os riscos da doença.
A descoberta aconteceu em 2022, após a realização de um teste genético para uma série de longevidade. Chris revelou que o resultado foi como um “chute”, um lembrete para que ele faça tudo aquilo que estiver ao seu alcance e tenha chances de lutar.
Com isso, ele fez uma série de ajustes em sua rotina, como redução da carga de trabalho. O astro também disse que está dormindo mais, tem feito mais exercícios cardiovasculares e de resistência e meditação.
FIQUE POR DENTRO
Anticorpos monoclonais
Donanemabe
O anticorpo monoclonal Donanemabe, da Eli Lilly, está sendo estudado para tratar o Alzheimer em estágios iniciais e pré-clínicos.
O medicamento atua especificamente sobre a placa amiloide, que se acumula no cérebro e que é um dos indicativos da doença.
Como resultado, o tratamento reduziu a placa amiloide em média 84% em 18 meses, em comparação com uma redução de 1% para os participantes com placebo.
O medicamento foi submetido, em 2023, para aprovação no FDA (órgão regulatório dos Estados Unidos) e aguarda resposta do órgão, prevista para este ano.
Lecanemabe
O medicamento age da mesma forma no cérebro: eliminando aglomerados de beta-amiloide, uma proteína que danifica os neurônios. O Lecanemabe é da farmacêutica japonesa Eisai e foi aprovado ano passado pelo FDA.
Vacinas
Uma nova vacina está sendo desenvolvida para prevenir o declínio cognitivo da doença de Alzheimer. Os testes preliminares foram feitos com camundongos por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Juntendo, no Japão.
A dose experimental conseguiu intervir na formação das placas de proteína beta-amiloide no cérebro, consideradas um dos biomarcadores do Alzheimer.
Correntes elétricas
Estimular o cérebro com correntes elétricas pode prevenir sintomas de Alzheimer até 20 anos antes da manifestação da doença, segundo estudo da Universidade de Tel Aviv, em Israel.
Pesquisadores aplicaram eletrodos no cérebro de ratos para emitir ondas elétricas mensais de baixo nível, impedindo a formação de proteínas prejudiciais e o encolhimento do centro de memória cerebral. Essas correntes elétricas evitaram a deterioração associada ao Alzheimer, equivalente a um estágio precoce da doença em humanos.
Exames
Estudos de predisposição genética, segundo a neurologista Alyne Mendonça, especialmente em associação às novas ferramentas de dosagem de biomarcadores permitem uma intervenção mais precoce, na medida em que podem induzir ao tratamento em fase inicial da doença, quando os sintomas ainda não são limitantes.
No Brasil, a análise de líquor tem se popularizado, assim como testes de sangue em busca de proteínas indicativas da doença.
Outra novidade é o teste Altoida, que utiliza inteligência artificial e realidade aumentada para rastrear condições neurológicas, incluindo Alzheimer.
Fonte: Eli Lilly, Ipea, especialistas consultados e pesquisa AT.
Características da doença de Alzheimer
72,7 anos: idade média de início dos sintomas.
75,8 anos: idade média na ocasião do diagnóstico.
42% das pessoas com história familiar, sendo 86,3% delas com um parente de 1º grau.
61,2% com hipertensão arterial, a comorbidade mais prevalente.
16,2% com doença de Alzheimer de início precoce.
9,4 anos: taxa média de sobrevivência.
Fonte: 1º Big Data Abraz.
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