Consumo de antibióticos dispara e acende alerta entre médicos
Segundo dados da OMS, a resistência a antibióticos já deve ser responsável por mais de 1,27 milhão de mortes por ano no mundo
O consumo de antibióticos voltou a crescer no País e já acende um novo alerta entre médicos e especialistas. Só no primeiro semestre deste ano, as vendas de azitromicina aumentaram 5%, em meio a um cenário de automedicação e avanço da resistência bacteriana.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a resistência a antibióticos seja responsável por mais de 1,27 milhão de mortes por ano. Caso o cenário atual se mantenha, esse número pode chegar a 10 milhões de óbitos anuais até 2050, ultrapassando o câncer como principal causa de morte no mundo.
A farmacêutica Francine Guimarães revelou que, na prática, é sentido o aumento tanto na prescrição de antibióticos quanto na procura por pessoas que nem passaram por um médico. “É preocupante também porque a maioria dos problemas relacionados ao antibiótico está ligada à falta de adesão ao tratamento completo. Isso leva à resistência aos antibióticos”.
A médica infectologista e membro da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), Leticia Janotti, destacou que a consequência mais perigosa do uso indiscriminado de antibióticos é a resistência antimicrobiana.
“Essa resistência faz com que os antibióticos percam a sua eficácia, dificultando o tratamento – que passa a ter maior tempo, maior custo e, muitas vezes, levando à hospitalização”.
O médico infectologista do Hospital São José e professor do Unesc, Eduardo Toffoli Pandini, fez um alerta para o aumento no uso de antibióticos.
“É bem possível que, no futuro, muitos antibióticos que usamos hoje deixem de funcionar, porque a maior parte das bactérias terá se tornado resistente a eles”.
Ele pontuou que os principais erros que contribuem para esse cenário são o uso sem indicação ou com indicação errada – a exemplo de uso em infecções virais –, ou uso em dose errada ou tempo inadequado.
Ele enfatiza que os protocolos da pandemia, como os “kits covid”, que muitas vezes tinham antibióticos, piorou muito o cenário de resistência.
“A azitromicina, por exemplo, que muitos diziam erroneamente que podia desinflamar os pulmões dos pacientes com covid, foi tão utilizada e banalizada que a maior parte das bactérias causadoras de infecções respiratórias hoje é resistente a ela”.
Saiba mais
Resistência a antibióticos
1,27 milhão de mortes por ano é estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por resistência antimicrobiana bacteriana.
10 milhões de mortes são estimadas por ano, caso o cenário atual se mantenha em 2050, ultrapassando o câncer como principal causa de morte no mundo.
Uma em cada seis infecções bacterianas confirmadas entre 2018 e 2023 apresentou resistência a antibióticos, segundo relatório divulgado pela OMS em outubro de 2025.
A resistência aumentou mais de 40% nesse período, entre os medicamentos monitorados.
Automedicação
Um terço dos brasileiros, no fim de 2024, consumiam antibióticos sem prescrição médica, segundo estudo divulgado pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Apesar de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exigir receita para a venda desses medicamentos, há ainda quem burle a legislação, respondendo por 27% das compras irregulares.
Venda de antibióticos
Azitromicina e Azitromicina Di-Hidratada
- 1º semestre de 2025: 21,091 milhões de unidades.
- 1º semestre de 2024: 20,066 milhões de unidades.
Aumento: 5%
Cefalexina
- 1º semestre de 2025: 19.842.870 de unidades
- 1º semestre de 2024: 20.816.642 de unidades.
Redução: 4,5%.
Problemas relacionados ao uso indevido de antibióticos
Efeitos colaterais
O uso incorreto de antibióticos pode gerar efeitos colaterais e agravar o quadro de saúde do paciente.
Entre os principais riscos estão reações alérgicas, danos aos rins e ao fígado, interações com outros medicamentos e infecções secundárias, como diarreias graves.
Alteração da microbiota
Antibióticos eliminam não apenas bactérias ruins, mas também as benéficas, que vivem no organismo, como no intestino e nas partes íntimas.
Isso favorece quadros de candidíase, náuseas, vômitos e distúrbios gastrointestinais.
Tratamentos ineficazes e agravamento de quadros
O uso de dose errada ou por tempo insuficiente não elimina a infecção.
A infecção pode se agravar, exigindo tratamentos mais caros ou, em alguns casos, até mesmo internação.
Bactérias sobreviventes tornam-se mais fortes e resistentes.
Resistência a antibióticos
Esse é o principal problema relacionado ao uso inadequado de antibióticos.
Em algumas situações de infecções por bactérias multirresistentes, às vezes não se dispõe de antibióticos ativos para o tratamento, aumentando o risco de morte.
Erros que colocam pacientes em risco
- Automedicação.
- Parar de tomar o antibiótico antes do tempo prescrito pelo médico.
- Uso de antibióticos para tratar viroses, ampliando o risco de resistência bacteriana e comprometendo a eficácia de terapias futuras.
Fonte: Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp) e especialistas.
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