“Quero que ele confesse e pegue pena máxima”, afirma mãe de enfermeira assassinada
Mãe de Íris Rocha de Souza, assassinada em 2024 quando estava grávida de 8 meses, desabafa às vésperas do julgamento do crime
A poucos dias do júri sobre o assassinato da enfermeira Íris Rocha de Souza, que será realizado na segunda-feira, a mãe da vítima, a aposentada Márcia Rocha, 62 anos, conversou com a reportagem de A Tribuna ontem.
Em uma entrevista marcada pela emoção e por momentos em que chegou inclusive a chorar, Márcia disse esperar que o réu, Cleilton Santana dos Santos, de 27 anos, confesse o crime e seja condenado a pena máxima.
“Acredito que, pelo menos das últimas vezes, ele não tinha confessado o crime, nem esboçado nenhuma emoção. Gostaria e espero que ele se arrependa, mas que ele confesse o crime, assuma a responsabilidade, já que ele nunca assumiu antes. Eu só quero que ele pegue a pena máxima e a Justiça de Deus, porque essa nunca falha”, afirmou Márcia.
Íris, na época com 30 anos, foi morta a tiros em Alfredo Chaves, Região Serrana do Estado, no dia 11 de janeiro de 2024. Ela estava grávida de oito meses, de uma menina, que se chamaria Rebeca. O acusado pelo crime é seu ex-namorado e pai da criança, Cleilton. Ele está preso desde 18 de janeiro do ano passado.
“Ele não deixou a Íris contar para ninguém sobre a violência que sofria. Ele agiu muito possessivamente com ela, a vigiou 24 horas por dia. Ele tinha o celular dela completamente ligado ao dele (choro)”, afirmou a aposentada.
Márcia Rocha disse que passou a fazer acompanhamento com psicólogo e a tomar medicação, além de se apegar à fé, ao neto de 10 anos, filho de Íris de um relacionamento anterior, à filha Iane, de 27 anos, e demais familiares e amigos.
“Nunca passei nada parecido e não desejo para ninguém. É dilacerante. Rasgou, como até hoje está rasgado, meu corpo por dentro e por fora. É visível, uma parte está estraçalhada dentro de mim. É muito destruidor”, afirmou.
A aposentada também falou sobre a morte da bebê que a filha esperava.
“Tem a minha neta. Ele não deixou a gente ver o rostinho dela, pegá-la. Foram tantos sonhos, que a gente queria cuidar dela. Minha filha dizia: ‘Mãe, se Deus quiser, a Rebeca vai ser nossa companheira para tudo’. Além do dia a dia, das alegrias e das viagens, ele destruiu uma família (choro). Não tenho minha filha e minha netinha”.
A Tribuna: Quem foi a Íris para a senhora?
Márcia Rocha: Nossa. É uma menina de luz. Sempre foi aquela menina maravilhosa, carismática, alegre, divertida, dinâmica, positiva em relação à vida. Gostava muito de viver. Aventureira, poderia dizer, de tanto que ela gostava de nadar, andar de bicicleta, de skate, praticar capoeira.
Praticava muitos esportes, participava de muitos eventos, tudo o que fosse para melhorar a vida, para o bem-estar dela ou de alguém ela estava sempre disposta. Realmente, uma entrega total para a vida. Sinto demais a falta dela.
Como você conseguiu ressignificar a ausência dela?
Ainda estou neste processo, porque estou passando por psicólogo, tomando medicação, fazendo muitas orações, recebendo o carinho dos amigos e familiares, porque é um processo muito longo.
Minha filha Iane, de 27 anos, tem sido muito apoio para mim também. Não sei se algum dia vou falar o contrário, mas por enquanto ainda estou trabalhando isso, tentando mover uma emoçãozinha daqui para ali.
É uma lembrança do futuro que ela queria conquistar tanto para ela quanto para o meu neto, para a neném, que ela estava gerando, nossa querida Rebeca, sabe?
Como tem sido para o seu neto?
Quando meu neto lembra, ele chora. Quando está brincando com os amigos ele fala: “Não tenho mãe, estou aqui com a minha avó”. Aí, as pessoas falam que sentem muito e ele diz: “Não, vamos brincar”. Ele tenta também ser forte. Mas é lógico que tem muitos momentos que ele fica quietinho, chorando, no cantinho dele. A gente vê que aquele mundinho ali é só dele. Eu não posso nem pensar em perguntar porque são as lembranças dele.
Quando ele vê alguma coisa que lembra muito a mãe dele, quando vê alguma criança brincando com brincadeiras que a minha filha brincava com ele, na hora, parece que ele foge. Senta em um cantinho, abraça os joelhinhos. Até fecha os olhos quando ele consegue.
Pode ser em qualquer lugar, pode ser na praia, no parquinho, no shopping, ele faz essa internalização. Eu, o pai dele, as pessoas que gostam dele, a gente respeita.
Ele sabe realmente o que aconteceu com a mãe?
Sabe, desde o primeiro dia, o pai dele preferiu contar para ele. Mas meu neto só fala sobre a falta da mãe, não questiona outras coisas, nunca mais tocou no assunto.
Está preparada para perdoar o Cleilton?
Não. Ainda estou no processo, bem no comecinho. Por enquanto, somente ressignificar a ausência, a falta da minha filha e da minha neta. Ainda não consegui elaborar outros passos. É muita aflição.
Como você está a poucos dias do julgamento?
Não consigo ter rotina. Durmo ou me alimento a qualquer hora. Está sendo muito difícil. Essa semana estou muito mais ansiosa, tive que aumentar a dose de remédios, as sessões com psicólogo e meus amigos e familiares se aproximaram ainda mais.
Vai ao júri?
Vou, se Deus quiser, vou lutar lá porque é a última força que Deus vai me dar para ir lá. Vou ficar lá o tempo que puder, porque não sei se vou aguentar. Posso até sair, mas vou ficar lá até o final. Não estou preparada, mas quero estar lá.
Outras pessoas da família e amigos irão?
Alguns amigos vão, só quem pode, porque é longe. Quem quiser que vá. Mas tem que ser em silêncio, coisa pacífica, porque o pior já foi feito. Só não quero que aconteça com mais ninguém. “Não ao feminicídio! Não à violência contra as mulheres!”. Que essa rede de apoio realmente exista para cada uma de nós. Porque às vezes apenas por sermos mulheres é que somos atacadas e é nesse sentido que precisamos estar juntas, com irmandade.
Crime
A enfermeira Íris Rocha de Souza, 30 anos, foi morta a tiros em Alfredo Chaves, Região Serrana do Estado, no dia 11 de janeiro de 2024.
O corpo foi encontrado pela polícia às margens de uma estrada rural coberto com cal.
Íris estava grávida de 8 meses de uma menina que se chamaria Rebeca.
Ela tinha outro filho de 8 anos e morava em Jacaraípe, na Serra.
Prisão
Cleilton Santana dos Santos, de 27 anos, foi preso no dia 18 de janeiro de 2024, sete dias após o crime. Segundo as investigações, o motivo seria a desconfiança dele quanto à paternidade da menina.
Exames de DNA, no entanto, confirmaram que ele era o pai.
Julgamento
Cleilton irá a júri popular nesta segunda-feira, em Alfredo Chaves, na Região Serrana do Estado.
A decisão é do juiz Arion Mergar, da Vara Única de Anchieta, responsável pelo processo.
Defesa
Segundo a defesa, a expectativa é de um júri técnico, conduzido de forma tranquila e direta, respeitando o ritmo do procedimento.
Fonte: Polícia Civil e defesa de Cleilton Santana dos Santos.
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