Prejuízo de idosos em golpes do Pix é 16 vezes maior que de jovens
Enquanto jovem perde R$ 270, prejuízo dos idosos é de R$ 4.200. Considerando todas as faixas etárias, o valor é de R$ 2.100
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Pessoas com mais de 60 anos têm prejuízo médio de R$ 4.200 em golpes envolvendo Pix, valor quatro vezes maior em comparação com um jovem de 18 a 24 anos (R$ 1.046) e 16 vezes maior se comparado a uma vítima com menos de 18 anos (R$ 270). A média de prejuízo das vítimas, considerando todas as faixas etárias, é de R$ 2.100.
Os dados são de um levantamento da Silverguard, empresa de proteção financeira digital, com dados do Banco Central.
Um caso aconteceu em Vila Velha. A mãe, uma aposentada de 61 anos, acreditou que o filho, um servidor público, estava pedindo dinheiro emprestado a ela. Para ajudá-lo, fez quatro Pix no valor total de R$ 4.800 e só percebeu que se tratava de uma fraude ao fazer a última transferência.
“Meu filho estava viajando para São Paulo. Eu recebi uma mensagem pelo WhatsApp e tinha a foto dele. O texto dizia que ele não podia ligar, mas que o número anterior tinha dado problema e pediu para que eu fizesse as transferências”, afirmou a aposentada.
Ela conta que, como o filho estava viajando de avião, não conseguia falar no número habitual dele. Somente no desembarque, quando ele atendeu, o filho disse para a mãe que ela havia caído em um golpe.
“Fiz boletim de ocorrência, fui até o banco, mas só consegui recuperar o valor do último Pix. Hoje sei que é preciso ficar mais atenta. Mas quando se fala em filho, mãe, pai, a gente ‘embarca’”, diz a mãe.
O coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Aposentados no Estado, Jânio Araújo, frisa que é preciso ter um trabalho preventivo com os idosos.
“Porque senão, nós vamos ficar jogando os nossos idosos na cova do leão. Não tem jeito. Tem que ter um trabalho preventivo, tem que ter um trabalho de conscientização, uma campanha para instruir as pessoas”, afirma Jânio.
Presidente da Comissão Estadual dos Direitos das Pessoas Idosas da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), Juliana Pimentel está finalizando uma cartilha que será lançada mês que vem.
“Esse tipo de golpe está crescendo porque explora a vulnerabilidade emocional de idosos e o uso crescente de plataformas, como o Pix. A conscientização e a prudência são essenciais para evitar esses prejuízos”, afirma.
SAIBA MAIS
Pesquisa
A pesquisa é da Silverguard, com dados do Banco Central e análises de cinco mil denúncias de vítimas na Central SOS Golpe, de janeiro a junho deste ano.
MÉDIA DE PREJUÍZO
Faixa etária | Valores
- Menos de 18 anos | R$ 270
- 18 a 24 anos | R$ 1.046
- 25 a 29 anos | R$ 2.165
- 30 a 39 anos | R$ 2.530
- 40 a 49 anos | R$ 2.885
- 50 a 59 anos | R$ 2.400
ANÁLISE
> A média de prejuízo das vítimas, considerando todas as faixas etárias, é de: R$ 2.100
> O estudo Golpes com Pix revela que, entre a classe AB, as perdas são de R$ 6.300; na C, a cifra é de R$ 3.500; e na DE, R$ 1.500.
> Entre as vítimas com mais de 60 anos, a maior incidência de golpe é de impostor pedindo dinheiro emprestado e/ou ajuda (48%).
> Na sequência aparecem compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (18%) e golpe da falsa central de atendimento do banco (7%). O WhatsApp foi o canal inicial de 69% das vítimas com 60 ou mais anos.
ALERTA
> O coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Aposentados no Estado, Jânio Araújo, alerta para a necessidade de fazer um trabalho preventivo com os idosos para evitar novas vítimas.
CUIDADOS
> A presidente da Comissão Estadual dos Direitos das Pessoas Idosas da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), Juliana Pimentel, listou uma série de cuidados para se proteger.
> Desconfiança: desconfie de qualquer pedido urgente de dinheiro, especialmente se envolver uma transferência rápida, como via Pix.
> Verificação: se alguém afirmar ser filho ou parente, tente entrar em contato com ele por outros meios (ligação telefônica, por exemplo) para confirmar a história antes de realizar qualquer pagamento.
> Educação: muitas campanhas de conscientização têm sido feitas por instituições financeiras e pela polícia, alertando os idosos sobre esses riscos e orientando-os a buscar ajuda caso suspeitem de um golpe.
Eles são maioria das vítimas
Lidar com a tecnologia e evitar golpes é difícil para todo mundo, mas para o idoso que não está tão familiarizado com ela, é mais difícil ainda. Talvez por isso os idosos sejam a maioria das vítimas dos golpes do Pix, de acordo com a delegada Milena Gireli, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa.
“Toda semana estamos registrando casos de pessoas que caíram em golpes de Pix, onde os prejuízos variam entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, em média”, explica a delegada.
A delegada destaca que é importante ter acesso às informações sobre como são os golpes.
Alerta
“Nosso objetivo é ir informando, falando o que não pode, para criar o alerta mesmo. Ao receber uma ligação ou mensagem de um suposto filho ou filha, é importante que a pessoa olhe o número, vá nos seus contatos e verifique se o telefone está correto. Mande uma mensagem para o número verdadeiro, para ver se é verdade ou não”, orienta.
O coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Aposentados no Estado (Sindnapi-ES), Jânio Araújo, afirma que pessoas idosas “estão no meio do furacão e ninguém teve a preocupação de prepará-los para isso”.
“Tem caminho para delegacia, mas o telefone que o bandido usou é um telefone que não atende mais ligação e a conta que ele abriu é uma conta fantasma. Então tem que ter um trabalho preventivo, senão não tem jeito, isso não vai acabar nunca. A tendência é só piorar”, destacou.
Especialista revela golpes mais aplicados na 3ª idade
Os cinco golpes mais comuns que têm idosos como alvos são golpe do falso funcionário de banco, da clonagem do WhatsApp dos filhos, do falso advogado, da novinha (pedófilo) e do crédito consignado, de acordo com o especialista e consultor em tecnologia da informação Eduardo Pinheiro.
“A maioria deles envolve transferências via Pix, com exceção do primeiro, pois no golpe do falso funcionário de banco, o próprio golpista terá acesso a conta bancária da vítima”, afirma o especialista e consultor.
Eduardo Pinheiro destaca que, nessas ações criminosas, os golpistas utilizam a engenharia social. É quando eles convencem a vítima a fazer algo que será prejudicial a ela, como passar informações pessoais, como senhas, de forma voluntária, sem perceber que estão sendo enganadas.
“Todos os golpes envolvem engenharia social. A arte ou estratégia de manipular e enganar pessoas”, destaca o especialista e consultor.
Eduardo Pinheiro lembra que as duas melhores formas de se proteger são ficar bem informado sobre os golpes do momento e desconfiar de tudo que envolva dinheiro ou outra vantagem.
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