Polícia investiga gangues de mulheres que atacam em lojas
Crime ocorre com mais frequência na Grande Vitória, seja em lojas de rua ou shoppings. Ação é vista como desvio de foco para outros delitos
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Elas entram nas lojas sozinhas, mas nunca estão desacompanhadas: no mínimo, um cúmplice pode estar do lado de fora. Ou podem estar em duas, até em quatro mulheres. Não escondem seus rostos, entram como clientes comuns, algumas inclusive estão grávidas.
Seja distraindo vendedores, escondendo mercadorias, como bolsas, sapatos, alimentos, e até joias no corpo ou em bolsas, gangues de mulheres são investigadas pela Polícia Civil no Espírito Santo.
Esse tipo de crime ocorre em toda a Grande Vitória, seja em shoppings ou em lojas de rua. Na tarde da última sexta-feira (29), a reportagem de A Tribuna esteve no bairro Glória, em Vila Velha, um dos maiores centros comerciais a céu aberto do Estado.
E não faltaram relatos sobre a ação dessas criminosas. Em uma loja de roupas, uma vendedora de 18 anos disse que o estabelecimento estava cheio, no início deste ano, quando duas criminosas entraram no local.
“Elas entraram em duas (na loja), por volta de 14 horas. Rodearam até o final da loja. Pegaram um conjunto de cuecas, um kit de três peças. Agiram em menos de 10 minutos. A loja estava muito cheia. Achamos suspeitas, mas só ficamos sabendo sobre o que ocorreu quando o policial trouxe as roupas, que ainda estavam com as etiquetas, após prender as duas mulheres”, contou a vendedora.
Já uma loja de artigos de festas, somente neste ano, foi furtada duas vezes no intervalo de 15 dias. Uma funcionária de 39 anos que trabalha no local, e que pediu para não ser identificada, revelou como é o modo de agir das criminosas.
“Elas entram juntas, como clientes normais, abordam funcionários, tiram dúvidas. A outra se afasta e coloca as coisas na bolsa, às vezes entram separadas. Fingem pedir informação”, conta.
Às vezes, a ousadia fica atrás dos óculos escuros. “Uma mulher entrou na loja de vestido, óculos escuros, bolsa do lado e estava grávida. E estava com um homem. Foi na sessão de chocolates e escondeu o produto no corpo e na bolsa. A Guarda a reconheceu e prendeu”, contou.
Como diz a funcionária, às vezes, elas “agem em bando”. “Esses dias veio uma grávida e mais quatro mulheres. Uma vinha e enchia o carrinho de Nutella. Entrava outra pessoa e colocava na bolsa e saía”.
Você sabia?
No Brasil, o artigo 155 do Código Penal define o crime de furto como “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Quem furta pode pegar de um a quatro anos de reclusão e multa.
Ação para desviar o foco da polícia
Apesar de, inicialmente, parecerem que cometem crimes de menor gravidade, de acordo com o especialista em Segurança Pública e Privada Emir Pinho, a ação dessas gangues de mulheres é orientada.
“Essa tipificação de crime já foi e continua sendo praticada em quase todo o Brasil, e já há indícios de que faça parte de uma orientação dos líderes de organizações criminosas, para tomar o tempo das equipes de investigações, desviando o foco da polícia”, destaca.
O especialista observa que elas atuam como soldados do crime. “Apesar de parecerem mulheres comuns e inofensivas, tratam-se de 'soldadas' de um exército de criminosos, podendo ser violentas e perigosas quando flagradas”.
Emir Pinho ressalta ainda que não é de hoje que gangues femininas desafiam a vigilância de estabelecimentos comerciais.
“Enquanto uma ou duas envolvem o atendente, as outras realizam o furto de produtos de médio e maior valor que possam ser revendidos, abastecendo os mercados paralelos”.
O especialista em segurança destaca que os comerciantes ainda precisam investir em segurança em seus estabelecimentos.
“As poucas alternativas para os comerciantes se baseiam no investimento em aumento de 'armadilhas' de detecção e alarmes sobre produtos, aumento das equipes de segurança que tenham foco em redução de perdas e furtos e também no maior preparo dos colaboradores, capacitando-os para tentar identificar as atitudes recorrentes dessas gangues”, destaca.
Registro de ocorrência e apuração
A reportagem de A Tribuna procurou a Polícia Civil, a Polícia Militar e a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) em busca de um representante para dar entrevista sobre a ação de gangues de mulheres.
Por meio de uma nota, a Polícia Civil respondeu que está atenta aos crimes contra o patrimônio e que investiga todos os casos reportados.
Orienta ainda as vítimas desses crimes a registrar a ocorrência em qualquer delegacia ou por meio da delegacia on-line, utilizando todo o material disponível que comprove o crime e auxilie a polícia nas investigações.
“Dentro de suas atribuições, a Polícia Civil do Espírito Santo tem dedicado esforços na investigação e solução desses crimes, além da prisão dos autores”, informa o texto da nota.
A Polícia Civil destaca o papel importante da população nas investigações e encoraja a contribuição de informações de forma anônima por meio do Disque-Denúncia 181. O site do Disque-Denúncia permite o envio de imagens e vídeos de ações criminosas.
O anonimato é garantido, e todas informações fornecidas pelo cidadão são investigadas pela polícia.
As demais fontes não retornaram o contato da reportagem.
Roubo de R$ 1,5 milhão
Três mulheres e dois homens que furtavam roupas de lojas de departamentos em seis shoppings de Cariacica, Vila Velha e Vitória foram presos no início de janeiro deste ano. O estoque estava guardado em um quarto de hotel em Camburi. O prejuízo foi de R$ 1,5 milhão.
Eles colocavam as roupas em uma sacola fabricada em material que impede a detecção pelo sensor de furto das lojas. Os bandidos agiam em todo o Brasil, segundo a Polícia Civil.
Idosa rouba mais de 5 mil reais
Uma idosa de 65 anos foi presa acusada de roubar mais de R$ 5 mil em joias de uma joalheria de um shopping, na Serra, de roubar chocolates de outro estabelecimento do centro comercial e de pegar um anel de outra loja. O caso ocorreu em 2023.
Segundo a ocorrência, uma segurança do shopping afirmou aos PMs que testemunhas teriam visto a idosa furtar diversas joias de uma das lojas e colocou em uma sacola.
Ela foi levada à delegacia, com os materiais apreendidos. Segundo a polícia, a idosa já tem passagem na Justiça pelo mesmo crime.
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