'Medo fica', diz mãe de criança abusada por psicólogo durante atendimento no ES
Crimes foram descobertos após o relato de uma menina de 8 anos de idade
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"Por ele não falar, eu sempre tive muito medo da escola. Mas eu nunca pensei que partiria da terapia". A declaração é da mãe de uma das vítimas do psicólogo preso sob suspeita de abusar de crianças autistas durante sessões de terapia em uma clínica de Cariacica.
Em entrevista à reportagem da TV Tribuna/Band, a mulher relatou como se sentiu após descobrir os crimes — que vieram à tona após uma denúncia feita por uma menina de 8 anos.
"Eu fiquei tão revoltada, porque eu não conseguia entender o motivo de o meu filho ter tantas crises. E eu não queria julgar o profissional, porque ele era bem reconhecido na clínica na época. Eu tentei não questionar, mas meu filho me mostrava que não estava bem. Ele não fala e tinha pavor desse profissional", disse a mãe, que não quis se identificar.
Ela disse ainda que, durante as sessões, o menino costumava chorar e ficava agitado. "Ele ficava 40 minutos naquela sala gritando, e eu na recepção. Eu ia, olhava e voltava, porque os pais não podem entrar. [...] Eu cheguei na sala dele, bati na porta, meu filho estava com o joelho todo ralado e ele (o psicólogo) estava como se nada tivesse acontecido", relatou.
A mulher afirma que, após as denúncias, entendeu que o filho estava dando sinais de que algo de errado estava acontecendo. "Eu não entendia. Isso me dói muito, mesmo. Por ele não falar, eu sempre tive muito medo da escola. Mas eu nunca pensei que partiria da terapia".
Por fim, ela diz que agora a criança está em outra instituição e que ela e outras mães lutam pelo direito de acompanharem os filhos durante as sessões. " O medo fica. Ele está em outra instituição e eu e outras mães vamos conversar, porque a gente não aceita não ter acesso as crianças, que ficam ali 40 minutos com o profissional. E a gente não sabe o que acontece. A gente sabe que tem profissional bom, mas é o filho da gente que vai. Eles pegam e levam. E eles não imaginam o que pode estar acontecendo lá dentro", concluiu.
Entenda o caso
A Polícia Civil do Espírito Santo ainda investiga quantas crianças foram vítimas de abusos sexuais por parte de um psicólogo que atuava em uma clínica na cidade de Cariacica. O suspeito, que não foi identificado, foi preso na última quinta-feira (20) na zona rural de Bom Jesus do Galho, em Minas Gerais.
Detalhes da investigação foram repassados pela corporação em uma coletiva nesta quinta-feira (27). De acordo com a polícia, o suspeito trabalhava com crianças e adolescentes com diagnóstico de autismo até o último dia 28 de janeiro, quando foi demitido. Os crimes foram descobertos logo depois, quando uma das vítimas relatou para a mãe que era abusada sexualmente pelo psicólogo durante as sessões de terapia.
Segundo a delegada Gabriella Zaché, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), a vítima, uma menina de 8 anos de idade, é autista de nível 1 de suporte e, por isso, conseguiu dar detalhes de como os abusos eram cometidos.
"Ela revelou para a mãe que, durante os atendimentos, ela era abusada sexualmente por ele. Ela já era atendida por ele há cerca de um ano e aí, durante esses atendimentos, ele colocava a mão nas partes íntimas dela, por dentro da roupa, se masturbava e pedia que ela manipulasse os órgãos genitais dele", revelou.
A menina teria informado para a mãe, ainda, que era ameaçada de morte por ele para que não revelasse os abusos para ninguém.
Todos os atendimentos do profissional eram gravados. A menina, no entanto, relevou que o psicólogo tampava a câmera de segurança com papéis ou toalhas, a fim de esconder os abusos. Ao ouvir o relato da filha, a mãe da criança se dirigiu até a clínica — onde foi constatado que ele estava, de fato, tampando a lente do equipamento.
A polícia já teve acesso a dois meses de gravação e, durante as investigações, constatou que o psicólogo teve a mesma conduta diversas vezes, o que contribui para a suspeita de que ele tenha cometido abusos sexuais contra diversas crianças. "Não conseguimos precisar a quantidade de crianças (vítimas) nesse momento", afirmou a delegada. Segundo a polícia, ainda não há confirmação de que houve conjunção carnal.
O psicólogo, que tem 49 anos de idade, foi localizado e preso no Córrego dos Capitães, zona rural de Bom Jesus do Galho, no estado mineiro. Durante a operação, foi cumprido um mandado de prisão preventiva expedido contra o suspeito.
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