Gangues saqueiam cargas para roubar bebidas e alimentos
Investigações apontam que elas monitoram os acidentes de caminhões em grupos de WhatsApp para chegar rápido ao local
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No ranking da região Sudeste, o Espírito Santo é o estado com menor número de furtos com saques e arrombamentos de caminhões, além de roubos de cargas. No ano passado, foram registradas 49 ocorrências, sendo 22 no primeiro semestre. Já neste ano, de janeiro a junho, 39.
Mesmo diante das estatísticas, os dados preocupam, já que os criminosos continuam agindo. Na lista dos produtos mais cobiçados pelas quadrilhas estão alimentos, bebidas, eletrônicos, cosméticos e cargas fracionadas (diversos tipos de produtos no mesmo veículo).
No rastro das organizações criminosas que agem no Estado, o delegado Christian Waichert, titular da Delegacia Especializada de Crimes Contra o Transporte de Cargas, alerta para o aumento no número de furtos e saques na região Sul do Estado, sobretudo em Mimoso do Sul e Rio Novo do Sul.
Esses criminosos, na maioria das vezes, praticam furtos durante a madrugada. As investigações apontam que eles monitoram acidentes de caminhões em grupos de WhatsApp com uma finalidade: chegar rapidamente aos locais e realizar saques das cargas.
O delegado conta ainda que os bandidos chegam a esconder os produtos no mato quando não conseguem levá-los na hora em veículos próprios.
À reportagem, o superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas (Transcares), Mario Natali, falou sobre outra estratégia usada por quadrilhas entre Mimoso do Sul e a divisa do Estado com o Rio de Janeiro.
“Eles furam pneus com miguelitos, que são objetos pontiagudos feitos com pregos, forçando o caminhoneiro a parar. Essa armadilha também provoca acidentes. Ao parar, eles fazem saques das cargas”, contou Mario Natali.
O assunto tem preocupado e será um dos pontos abordados por ele durante o Fórum de Segurança, Prevenção e Combate ao Roubo de Cargas, que será realizado hoje no Hotel Ilha do Boi, em Vitória.
“O roubo de cargas é um assunto que não nos permite relaxar e sempre falamos sobre isso no grupo de trabalho de prevenção e combate ao roubo de cargas, que envolve um trabalho integrado, com forças policiais, empresas e instituições, sob coordenação da subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública”.
As investigações também apontam que em alguns casos há a conivência de caminhoneiros. “Dos crimes de roubos investigados pela delegacia, em todos foram identificados a autoria do crime”.
Furtos e roubos de carga no Estado
2024
- 39 ocorrências foram registradas de janeiro até o dia 30 de junho, sendo 30 furtos e nove roubos.
Produto alimentício: 30,8%
Carga fracionada: 20,5%
Bebidas: 12,8%
Eletrônicos: 10,3%
Cosmético: 5,1%
Produto químico: 2,6%
Produto siderúrgico: 2,6%
Outros: 15,3%
Dia da semana
Domingo: 10,3%
Segunda-feira: 7,7%
Terça-feira: 17,9%
Quarta-feira: 7,7%
Quinta-feira: 23,1%
Sexta-feira: 25,6%
Sábado: 7,7%
Faixa de horário
Meia-noite às 5h59: 38,5%
18h às 23h59: 25,6%
6h às 11h59: 20,5%
12h às 17h59: 12,8%
Em branco: 2,6%
Por região
Sul: 51,3%
Metropolitana: 25,6%
Norte: 12,8%
Noroeste: 5,1%
Serrana: 5,1%
Obs.: A maioria dos furtos e roubos de cargas (26) ocorreu na BR-101.
Comparação
No mesmo período do ano passado, de janeiro a junho, foram 22 furtos e roubos de cargas no Estado.
Durante todo o ano foram 49 furtos e roubos de cargas no Estado até o mês passado.
Fonte: Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
Empresas reforçam segurança do transporte
Diante da ação de criminosos, que usam desde os métodos mais rústicos, como jogar pregos na pista para furar pneus de veículos, até aparelhos que bloqueiam o sistema de rastreamento das cargas, as empresas têm investido cada vez mais na segurança do transporte de cargas.
O superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas (Transcares), Mario Natali, conta que estão sendo sugeridas medidas como rever os horários de viagem. “Estamos sugerindo não trafegar após as 22 horas”, afirmou.
Mario Natali conta que outra sugestão que vem sendo adotada é na contratação de pessoal, uma vez que já houve casos de funcionários da própria empresa lesada envolvidos no roubo de cargas.
Outra alternativa é no investimento em tecnologia para bloquear a ação dos aparelhos que desconfiguram o sistema de rastreamento dos veículos de transporte.
Segundo Mario Natali, as cargas mais visadas no Espírito Santo são café, pimenta-do-reino, produtos farmacêuticos, incluindo os cosméticos.
Compra pela internet faz crescer número de casos
As compras pela internet fizeram com que ocorresse um maior número de roubo de cargas, segundo o superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas (Transcares), Mario Natali.
“O e-commerce cresceu muito na pandemia e fez com que muitos carros pequenos fossem usados para a entrega dessas mercadorias, o que contribuiu para o aumento do número de roubo de cargas”.
O superintendente destacou que, desde 2015, a Transcares faz parte de um grupo junto com a Secretaria de Estado da Segurança, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Vports e Ministério Público do Estado, que se reúne a cada dois meses. “Apresentamos os esforços de cooperação das forças de segurança e iniciativa privada”.
O coronel da PM paulista Mauro Ricciarelli, assessor de segurança da NTC&Logística, conta que 80% dos roubos de carga no Brasil ocorrem no Sudeste e estão no ranking nacional alimentos, fármacos e cigarros.
Ricciarelli destaca que o Espírito Santo, em comparação com os demais estados, tem um número pequeno de casos. Ele falou sobre o destino da carga roubada.
“Os roubos são feitos no País inteiro para alimentar as facções criminosas, que se utilizam de recursos ilícitos”, afirmou.
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