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Polícia

Famílias pedem ajuda para encontrar 100 desaparecidos no ES

Dados da Polícia Civil apontam que a maioria dos desaparecidos no Estado, em 2022, tem mais de 18 anos e é do sexo masculino


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Há 20 anos, a monitora de crianças Jane de Jesus carrega no peito uma angústia causada pela falta de notícias do filho. Marcio Lucas de Jesus Lopes tinha apenas 10 anos quando desapareceu e nunca mais foi visto. 

Mas a família da monitora não é a única que convive com esse sentimento. Além dela, outras 99 famílias que moram no Estado sofrem com a ausência de parentes que estão desaparecidos. 

Somente no ano passado, 460 boletins de ocorrência foram registrados na Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD). Desse número, 360 pessoas foram encontradas, sendo 24 delas sem vida. Outras 100 continuam desaparecidas.

Os dados da Polícia Civil apontam que a maioria das pessoas que ainda estão desaparecidas é adulta (acima de 18 anos) e do sexo masculino (61 casos). O sexo feminino vem em segundo lugar, com 20 casos. Já os adolescentes,  de ambos os  sexos, estão em terceiro lugar nessa lista, com 19 casos. 

Delegado titular da DEPD, Wanderson Prezotti destaca, porém, que esse número pode ser um pouco menor, já que nem todas as famílias comunicam o encontro de desaparecidos à polícia. 

“Muitos vão à delegacia, registraram o desaparecimento, mas, quando o familiar é encontrado, eles nem, ao menos, ligam para comunicar que a pessoa já foi localizada. E nossa base de dados acaba não sendo atualizada”, explicou.

Sobre o que leva ao desaparecimento, o delegado diz que os motivos são diversos. No caso de adolescentes, por exemplo, as motivações podem ser relacionamentos amorosos e falta de diálogo em casa. “Por isso, é importante a conversa  entre pais e filhos”.

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Em outros casos específicos, famílias buscam ainda entender o que levou ao desaparecimento de seus entes queridos.

Se tiver informações sobre alguma pessoa desaparecida, entre em contato com o delegado Wanderson Prezotti, através do telefone da DEPD 27-3137.9065, dos e-mails [email protected] e [email protected], e do celular  (27) 99891.8236.

“Tenho certeza de que André está vivo”

Imagem ilustrativa da imagem Famílias pedem ajuda para encontrar 100 desaparecidos no ES
A comerciante vive na esperança de encontrar seu filho com vida. |  Foto: Acervo Pessoal

“Eu tenho certeza de que meu filho está vivo”. Essa é a frase que move a vida da comerciante Valcy Souza da Paz, de 52 anos. Ela é mãe de André Luiz Souza da Silva, que desapareceu há 20 anos, quando brincava com um amigo, em Nova Almeida, na Serra, durante as férias na casa do pai de André.

O menino tinha 10 anos quando sumiu e, desde então, nunca mais foi visto. “Ainda sinto uma angústia muito grande por não ter notícia. Estou na espera há 20 anos”, disse Valcy.

A comerciante vive na esperança de encontrá-lo com vida. “Na época, espalhei cartazes na cidade inteira, fiz tudo que poderia ter feito, mas não tive notícias até hoje. Ainda assim, tenho certeza de que meu filho está vivo, eu sinto isso. Tenho muita fé”.

Uso de redes e inteligência artificial

Sensibilizado com os inúmeros pedidos de socorro de mães e pais que estão à procura de filhos desaparecidos, um investigador da  Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD) decidiu ir além com o seu trabalho.

Adriel Ludolfo Moreira criou contas nas redes sociais em que divulga – com autorização das famílias – fotos das pessoas desaparecidas.  

“Conforme vão chegando as ocorrências, entro em contato com essas pessoas e pergunto se elas autorizam a divulgação nesses canais. Eles são importantes e nos ajudam com informações sobre o paradeiro”, disse Adriel.  

 Outras pessoas pelo País também tentam, de alguma forma, ajudar as famílias.  É o caso de Hidreley Dião, um paulistano que viralizou nas redes sociais ao dar início ao trabalho de progressão facial, feito com inteligência artificial. 

“Já recebi pedidos de artistas internacionais, como foi o caso da cantora Madonna, que me enviou um e-mail pedindo para que eu fizesse uma progressão de sua mãe. Atualmente, recebo inúmeros pedidos de pessoas do País inteiro, querendo progressões (faciais) de parentes desaparecidos”, diz. 

A pedido da reportagem de A Tribuna, Hidreley Dião aceitou trabalhar no rosto de três pessoas que estão desaparecidas há muitos anos. Veja abaixo  o resultado.

Imagem ilustrativa da imagem Famílias pedem ajuda para encontrar 100 desaparecidos no ES
Márcio Lucas De Jesus Lopes Desde 15 de novembro de 2013, Márcio, na época com 10 anos, não foi mais visto. Hoje, se vivo, tem 30 anos. |  Foto: © Divulgação
Imagem ilustrativa da imagem Famílias pedem ajuda para encontrar 100 desaparecidos no ES
Suelen de Ávila Pereira Suelen desapareceu no dia 5 de dezembro de 1999, quando tinha 15 anos de idade. Se estiver viva, ela está com 39 anos. |  Foto: © Divulgação
Imagem ilustrativa da imagem Famílias pedem ajuda para encontrar 100 desaparecidos no ES
André Luiz Souza da Silva Desapareceu no dia 23 de dezembro de 2001, quando tinha 10 anos. Se estiver vivo, André tem hoje 37 anos. |  Foto: © Divulgação

ANÁLISE


“Situação crescente em todo Brasil”

“O desaparecimento de pessoas está em crescimento em todo o Brasil. Os motivos vão desde violência doméstica, tráfico de drogas, doenças mentais,  entre outros. Um dos maiores reflexos dessa situação é o absoluto trauma causado nas famílias, que ficam completamente às cegas e sem ter noção do paradeiro de seus entes.

Para minimizar isso, algumas ações públicas podem ser fundamentais, tais como os sistemas de monitoramento de imagens em vias públicas e, principalmente, desenvolver um banco de informações de DNA de pessoas desaparecidas. 

No Rio Grande do Sul, por exemplo, uma iniciativa por meio do Instituto Geral de Perícias, desenvolveu uma ação em diversas cidades para a captação de material genético de pessoas desaparecidas e de seus familiares, para a criação desse banco que permita a possível identificação posterior. 

Por outro lado, com o avanço da Inteligência Artificial e a qualidade dos sistemas de monitoramento, é possível a identificação biométrica facial em vários locais, como saídas de rodoviárias, aeroportos e centros urbanos”.


PERFIL - DESAPARECIDOS


Dados no Espírito Santo

A maioria são homens e mulheres de 18 anos acima. 

Somente em 2022, 267 homens desapareceram. Desse número, 206 foram encontrados, sendo 21 sem vida. 

Já o sexo feminino, a faixa etária é a mesma: de 18 anos acima. 

Ao todo, 86 mulheres desapareceram, sendo que 66 delas foram encontradas. Uma sem vida. 

. Crianças de 0 a 11 anos 

Em todo o ano passado, 3 crianças do sexo feminino sumiram, sendo todas elas encontradas. Nenhuma morta.

. Crianças do sexo masculino  de 0 a 11 anos

4 crianças desapareceram, sendo que 3 foram localizadas. Nenhuma morta

. Adolescentes do sexo feminino de 12 a 17 anos 

Ao todo, 75 adolescentes desapareceram, sendo que 62 foram encontradas. Nenhuma morta. 

. Adolescentes do sexo masculino de 12 a 17 anos 

Pelo menos 25 desapareceram, sendo 19 encontrados. 2 deles sem vida. 


Fonte: Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD)

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