Ex-sogra usou neta e enganou traficante para que professor de jiu-jítsu fosse morto
Thiago Louzada foi assassinado na frente da casa onde a filha vivia com a avó, na Serra; entenda o caso

A Polícia Civil concluiu as investigações sobre a morte do professor de jiu-jítsu Thiago Louzada Charpinel Goulart, de 43 anos, morto a tiros no bairro Vila Nova de Colares, na Serra, em janeiro deste ano. De acordo com as investigações, o crime foi orquestrado pela ex-sogra dele, que enganou uma liderança do tráfico da região para que a vítima fosse executada pelo tribunal do crime.
Thiago foi morto na frente da casa da ex-sogra, no momento em que iria buscar a filha, uma menina de 6 anos de idade. No dia do assassinato, segundo a polícia, a suspeita usou a neta para atrair o professor até o local do crime — oferecendo uma caixa de bombom para que a menina pedisse ao pai, por telefone, que fosse até a casa onde ela vivia com a avó.
Com a conclusão de inquérito, a corporação indiciou três homens e a mulher por homicídio qualificado por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima. Além disso, os três suspeitos homens também foram indiciados por associação ao tráfico, com aumento de pena pelo emprego de arma de fogo.
Veja quem são os indiciados e a participação de cada um:
Vanda de Oliveira Rosa, de 54 anos: ex-sogra de Thiago e mandante do assassinato.
Luis Fernando Moreira Souza, vulgo Mancha, de 30 anos: líder do tráfico da região e suspeito de ser o intermediário entre a mandante do crime e os executores.
Higor Reis de Jesus, de 30 anos: executor do crime
William dos Santos Pereira, de 29 anos: responsável por pilotar a motocicleta que levou Higor até o local do crime e deu fuga e ele após a execução
Entenda o caso
Segundo a polícia, Thiago Louzada e a ex-sogra, Vanda de Oliveira Rosa, de 54 anos, possuíam desavenças em relação à criação da filha da vítima. A mãe da menina, filha da suspeita, morreu dias após o parto — por complicações causadas por uma condição pré-existente e que era de conhecimento da família.
"Thiago era casado com uma mulher e os dois sabiam que eles não poderiam ter filhos, porque a gravidez geraria um grande risco para a mãe e também para a criança. E ele sempre se cuidou com relação a isso, mas um dia numa festa, em um descuido, acabaram tendo uma relação sexual. A mulher engravidou e, quando ocorreu o parto, poucos dias após, a mulher faleceu. E a criança ficou sob a guarda da avó, da mãe da mulher que havia falecido. Sempre tendo contato com o pai também, que é o Tiago. [...] Isso já gerava uma certa mágoa na Vanda, porque ela acreditava que a culpa da morte da filha teria sido por causa do Tiago, que teria engravidado a filha", explicou o delegado Rodrigo Sandi Mori, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa da Serra.
Vítima e suspeita também se desentendiam em relação à criação da menor de idade. Ainda de acordo com a investigação, a mulher permitia que a menina usasse maquiagem, roupas curtas e salto alto, além de reproduzir danças adultas vistas no TikTok, o que incomodava o pai da criança. No entanto, o estopim para a morte do professor foi o fato de ele estar se preparando para solicitar a guarda definitiva da filha.
Ex-sogra planejou o crime e enganou liderança do tráfico
Por não aceitar perder a guarda da neta, Vanda decidiu tramar uma emboscada para que o professor de jiu-jítsu fosse morto. Cerca de 15 dias antes do crime, segundo a investigação, ela foi até o chefe do tráfico de drogas da região, Luis Fernando, e afirmou que Thiago estaria abusando sexualmente da filha — uma vez que, no tribunal do crime, estupradores e molestadores de criança são punidos com a morte.
No dia do assassinato, a ex-sogra ligou para Thiago, que não atendeu o telefone. Minutos depois, ela enviou uma mensagem para ele, o chamando de "filho" e afirmando que a menina queria vê-lo. Thiago chega a perguntar se a criança poderia dormir com ele, mas Vanda diz que a neta estava com uma amiga e queria apenas ver o pai.
"Nesse momento, então, Thiago liga para o celular da Vanda, a criança atende e convida o pai para ir até o local. Ele era extremamente apaixonado pela filha. Ele não tinha o hábito também de sair tarde da noite para ver a filha, ainda mais em Vila Nova de Colares. Mas o chamado da filha acabou fazendo com que o pai fosse até o local", explicou o delegado.
Enquanto o professor se deslocava até o local, Vanda encontrou Luis Fernando e avisou que a vítima estaria na região em breve. O chefe do tráfico, então, avisou Higor e William, que fazem parte da mesma organização criminosa, e cometeram o crime.

Vítima foi atingida pelas costas
Thiago chegou à residência por volta das 22h e foi recepcionado pela filha, a ex-sogra e por uma irmã de Vanda. Eles conversaram por alguns minutos e, em determinado momento, a suspeita pediu que a neta entrasse em casa para trocar de roupa. A conversa entre os adultos continua e, de acordo com a polícia, a mulher distraiu Thiago até que os traficantes o assassinassem.
Os executores chegaram em uma motocicleta. Higor, que estava vestido com o uniforme de uma empresa, desceu do veículo, se aproximou de Thiago pelas costas e então efetuou quatro disparos na cabeça da vítima. O professor morreu ainda no local do crime e os três suspeitos fugiram logo após o assassinato.
Em troca do favor, ainda de acordo com a investigação, Vanda deixava os criminosos se esconderem dentro da própria casa quando a polícia chegava no local.
Prisão dos suspeitos
O primeiro suspeito preso foi Higor, acusado de ser o autor dos disparos que mataram o professor. Ele foi preso em flagrante por tráfico de drogas durante uma campana da polícia em Vila Nova de Colares. De acordo com o investigador, ele também é réu por outro homicídio pcorrido no mesmo bairro.
William, que teria levado o executor até o local do crime e dado fuga a Higor, foi preso em 9 de julho. Dez dias depois, a polícia prendeu Luis Fernando, mandante do crime e chefe do tráfico da região, dentro da residência onde ele vivia. No local foram apreendidos R$ 14 mil em espécie, uma pistola acoplada com mira laser e anotações referente ao tráfico.
Já no dia 21, a ex-sogra de Thiago foi presa no bairro Jardim Camburi, em Vitória. "Vanda foi a responsável por atrair a vítima até o local do crime e por inventar ao Luis Fernando que a menina estava sendo abusada sexualmente pelo pai e pedir para ele para ele ser morto", afirmou o investigador.
Criança negou ser vítima de abusos sexuais
Após a prisão da avó, a filha de Thiago foi levada para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente. No local, ela foi questionada sobre a relação com o pai e negou ter sofrido abusos sexuais. "Ela relatou que jamais foi abusada pelo pai ou por qualquer outra pessoa, e o principal, o que chamou a nossa atenção, foi o fato dela ter relatado para a assistente social que ela chamou o pai na casa naquele dia em troca de uma caixa de bombom que a Vanda teria oferecido para ela", explicou o delegado.
"Nas palavras dela, entre aspas: 'a minha mãe Wanda disse 'se você chamar o seu pai aqui, eu te dou uma caixa de bombom'. Aí eu aceitei, mas quando ele foi embora, ele foi morto, mas eu não sabia de nada'. Essas foram as palavras da criança que chamou o pai sem saber em troca de uma caixa de bombom", contou.
Ainda segundo a polícia, a ex-sogra de Thiago é "extremamente fria, dissimulada e calculista". Em seu primeiro depoimento, a mulher apresentou uma versão irreal dos fatos e, durante a investigação, foi descoberto que ela gravou o corpo da vítima após o assassinato e enviou as imagens para todos os seus contatos, contando detalhes de como o assassinato ocorreu.
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