Caso Kaylan: PMs suspeitos da morte do adolescente prestam depoimentos divergentes
Três policiais envolvidos no caso apresentaram versões distintas da situação. Eles estão presos e são investigados
Os três policiais militares presos acusados de matar o adolescente Kaylan Ladário dos Santos, de 17 anos, prestaram depoimentos em audiência de Justiça no último dia 14. O caso foi registrado em fevereiro desse ano. Entre os envolvidos, houve uma divergência na narrativa do caso.
Kaylan havia sido detido pelos militares e levado para a Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle), para cumprir um mandado de apreensão. No entanto, o delegado de plantão solicitou que os policiais levassem ele de volta para casa, na madrugada. Durante o trajeto, no entanto, o crime foi cometido.
Confira o vídeo do momento em que o adolescente teria sido atirado da Segunda Ponte.
Cabo Franklin Castão Pereira (chefe da equipe)
De acordo com o Cabo Franklin Castão Pereira, que chefiava a equipe, Kaylan estava bem "nervoso" e desceu da viatura. Ele alegou que a imagem do vídeo onde um objeto estaria sendo atirado da Ponte, seria uma pedra, que ele mesmo teria tirado do caminho, e não o adolescente.
"Ele estava na parte de trás da viatura. Eu fui o primeiro militar a descer. Eu então fechei a porta dele e aí pisei em uma pedra no chão. Eu peguei essa pedra e joguei fora, que é até... até comentei com o meu advogado. É até o momento que a mídia pega esse vídeo e joga dizendo que é uma pessoa sendo jogada, circula em vermelho, entendeu? E isso foi uma pedra que eu joguei", afirmou.
Castão ainda disse ter tentado negociar com Kaylan, antes que ele pudesse pular da Ponte. "Eu até pedi para o Machado (outro policial) para ele se afastar que eu iria verbalizar com ele. O Machado se afastou, mas antes que eu pudesse tomar qualquer atitude, ele passou o pé pelo parapeito e se jogou", declarou.
Soldado Luan Eduardo Pompermayer Silva (motorista da viatura)
O soldado Pompermayer, motorista do carro, contradisse o chefe da equipe. "O cabo Castão desembarcou o menor e deixou a porta do chefe de guarnição, no caso do carona, aberta. Eu fiquei sem visão do retrovisor e ele disse que iria colocar o Kaylan no cofre de segurança. Eu e o Machado permanecemos no carro. No entanto, não sentimos a porta do cofre sendo aberta, e aí o Machado foi até lá para ver", declarou.
Em seguida, o soldado afirma que o companheiro retornou ao carro segundos depois. "Ele me disse que o Cabo mandou se afastar pois ele estava resolvendo. Nisso que ele fala o Cabo retorna e fala: 'vamos para o Batalhão, o menino fugiu'. Eu questionei para saber se iríamos atrás do Kaylan, mas ele disse que era para deixar pra lá, já que não havia nada contra ele".
Soldado Leonardo Gonçalves Machado
Já no depoimento do soldado Machado, relatou que não viu o momento do ocorrido. Ele disse que havia saído da viatura para apoiar o Cabo Castão, mas foi mandado pelo mesmo que retornasse ao veículo. "Eu voltei para a viatura. Eu informei o Pompermayer, logo depois, o cabo Castão entrou dentro da viatura. Ele entrou dentro da viatura e falou para tocar para o batalhão porque o menino tinha fugido. O Kaylan tinha fugido."
De acordo com informações da TV Tribuna/Band, com base nos depoimentos à justiça, a juíza do caso mandou diligenciar os depoimentos dos mesmos envolvidos dados na corregedoria.
Relembre o caso
Na ocasião, Kaylan foi levado ao Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), por envolvimento em um assalto ocorrido em 2023. O delegado responsável pelo caso entendeu que o adolescente não deveria ficar preso, e pediu que os militares levassem Kaylan para casa. Durante o trajeto, o crime foi cometido.
Leicester Ladário, mãe de Kaylan, disse que os policiais subiram na Segunda Ponte e, na altura da placa de Vitória/Guarapari, pararam o carro. "Eles abrem a porta, meu filho sai, eles arremessam a sacola, que era do menino que ficou detido. Aí ele chega próximo do peitoril e eles pegam o pé dele e jogam ele", afirmou.
"Eles veem ele se debatendo, porque ele não sabia nadar, e simplesmente entram dentro do carro e saem", contou ainda a mãe.
O corpo de Kaylan foi encontrado por um pescador, no dia seguinte. Leicester chegou a ir até a delegacia duas vezes, contando que o filho não havia chegado em casa. Lá, recebeu a informação de que os policiais haviam sido orientados a levar Kaylan.
Kaylan teria participado de uma tentativa de assalto em 2023. Na ocasião ele estava com um grupo suspeito do fato. Houve perseguição e troca de tiros contra a polícia e um policial chegou a ser atingido, fato que configurou maior pena a todos que estavam no veículo.
Na época, ele ficou detido por 10 dias e depois foi sentenciado que ficaria detido por 3 anos, mas a detenção nunca aconteceu.
A mãe contou que eles chegaram a se apresentar na delegacia em outras ocasiões, mas o adolescente não ficou detido.
"Eu morri um pouco quando eu achei o corpo dele. Eu sabia que ele não tinha se jogado, de forma alguma ele teria tirado a própria vida. Quando eu vi o vídeo eu terminei de morrer", disse Leicester emocionada.
*com informações do repórter Roger Nunes, da TV Tribuna/Band
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