Aposentada de 71 anos perde R$ 950 mil no golpe do amor
Vítima se envolveu de forma virtual com um homem que dizia ser um engenheiro de 50 anos, e perdeu todas as suas economias
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Viúva há sete anos, uma farmacêutica bioquímica aposentada e pensionista de 71 anos encontrou no mundo virtual o que imaginava que seria uma nova história de amor.
Só que depois de muitas conversas virtuais, videochamadas e encontros presenciais frustrados, restou a decepção e um prejuízo financeiro de R$ 950 mil.
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Sexta-feira (07 de junho), a aposentada – que pediu para o seu nome ser preservado para evitar exposição – recebeu a equipe de reportagem em sua casa, na Serra. Lá, contou que há cerca de dois anos recebeu uma solicitação de uma pessoa pedindo para segui-la nas redes sociais.
Do outro lado, uma pessoa se passava por engenheiro de perfuração, de 50 anos, que afirmava ser divorciado, com uma filha e à procura de um novo amor.
“Ele dizia que trabalhava embarcado e estava há oito meses em um navio no oceano Pacífico perto da Turquia”, contou.
A aposentada disse que ele fazia ligações por videochamada em que aparecia o navio plataforma.
“Ele dizia que estava ligando escondido só para falar comigo. Em uma das ligações, ele me contou que piratas do mar tinham tentado invadir o navio para roubar e teve tiroteio, mas nada foi levado”.
Foram muitas conversas até que o primeiro pedido de dinheiro foi feito, em setembro do ano passado. “Ele disse que tinha sofrido um acidente no fundo do mar e quase morreu. Foi aí que me pediu R$ 3 mil emprestado, sob o argumento de que era para consertar uma peça e que por estar em alto-mar estava com dificuldade de fazer a transação”.
Sem desconfiar de nada, a aposentada fez a transferência, por Pix. “Ele prometeu me pagar assim que saísse do navio, o que não aconteceu até hoje”.
Totalmente envolvida, a aposentada passou a acreditar nas dezenas de histórias contadas por ele e enviou dinheiro para pagar hospedagem em hotéis, passagens aéreas e pagamentos de contas diversas.
Somado, o dinheiro transferido de duas contas poupança para o golpista ao longo desses meses totalizam R$ 600 mil. Não é só isso. Ele a convenceu de fazer um empréstimo de R$ 350 mil, para ser pago em quatro anos. Ela já pagou um ano.
“Eram as economias de toda a minha vida. Parte do dinheiro era de um apartamento que vendi em Jardim Camburi (Vitória) que estava rendendo na poupança. Quando ele pedia, eu ficava cega e transferia, acreditando que tudo seria devolvido, mas isso não aconteceu”.
Apesar de tudo que ele fez, ela revela: “A gente ainda conversa, ele continua pedindo mais dinheiro e fica prometendo que irá devolver tudo. Às vezes tenho esperança, embora tenha a certeza que caí em um golpe, no golpe do amor”.
“Me apaixonei de primeira”, diz farmacêutica aposentada
A Tribuna - Em que momento se apaixonou?
Aposentada - Vou ser sincera: me apaixonei de primeira. Foi amor à primeira vista. Eu acreditei que viveria uma história de amor. Ele escrevia e falava palavras bonitas, enviava poemas, coisas que qualquer mulher gosta de ouvir.
Eu dizia que ele era muito novo pra mim, mas ele falava que não se importava. Não tenho cara de 71 anos. Tem gente que diz que tenho 45 anos, 50 anos.
Ele dizia que era brasileiro? Falava e escrevia em português?
Falava que morava na Califórnia (EUA) e dizia que estava aprendendo português para se comunicar comigo. Depois que nos casamos, ele dizia que passou a ter cidadania brasileira.
Como assim?
A gente se casou por procuração em maio deste ano. Ele pegou R$ 45 mil emprestado comigo, fez uma procuração com um advogado e nos casamos. Foi tudo virtual. Ele me mandou a cópia da certidão de casamento.
Marcaram encontros?
Sim. Comprei quatro passagens aéreas para ele vir me ver, mas ele sempre inventava mil desculpas. A última foi na semana do Natal do ano passado. Ele disse que estava vindo para cá.
Me arrumei toda, comprei presente, organizamos um amigo X, mas ele não apareceu no aeroporto. A previsão de chegada era 20h30. Fiquei esperando até o último voo, na madrugada, e voltei para casa chorando, enquanto dirigia o meu carro.
Qual desculpa ele deu?
Disse que teve que ir para a Dinamarca para receber mais de R$ 1 milhão. Ele disse que iria usar o dinheiro para comprar um apartamento na orla de Jacaraípe (Serra) e me presentear com um anel de diamante, além de me pagar.
Ninguém te alertou?
A minha família, quando descobriu, alertou, mas eu acreditava em tudo que ele dizia.
Além disso, um amigo meu, um general, também me alertou, dizendo que ele (falso engenheiro) não viria, mas não acreditei.
General? Golpistas também se passam por general?
Não. Ele é meu amigo dos Estados Unidos.
O conhece pessoalmente? Ele também pediu dinheiro?
Não, só virtual. Sim, ele também pediu e emprestei R$ 5 mil para deslocamento, mas quando ele pediu mais R$ 10 mil para comprar uma passagem de avião eu não emprestei.
Mas agora está ciente que foi vítima de um golpe?
Caí no golpe, mas ainda converso com ele e com outros, que também ficam pedindo dinheiro. Ele tirou tudo o que eu tinha, todas as minhas economias de uma vida. Agora não consigo nem pegar dinheiro emprestado porque tenho dívidas.
Depois disso, ainda vai aceitar a amizade de estranhos, enviar dinheiro? Terá coragem de se envolver com outras pessoas virtualmente?
Não. Estou bloqueando todos que não conheço e não tenho mais dinheiro. A partir de agora não quero me relacionar com ninguém pela internet, apesar de ainda ser apaixonada pelo engenheiro e falar com ele durante o dia, noite e madrugada.
Agora eu consigo falar mais sobre tudo o que aconteceu, mas já chorei muito.
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