Cida Pedrosa critica autoridades que amenizaram crime de racismo no Recife
Novo boletim de ocorrência foi registrado nesta quinta-feira pelas vítimas do ato criminoso
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A vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), com atuação no Recife, disse ao Tribuna Online, nesta quinta-feira (4), que cobrará das autoridades que o crime cometido contra uma área de lazer montada pelos filhos do terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé, na comunidade Jardim Petrópolis, na Várzea, seja tipificado como racismo, imprescritível e inafiançável. Ela se mostrou impactada com o fato de as autoridades do caso terem denunciado o agressor apenas por depredação e injúria.
“A legislação que trata desses crimes demorou muito para se tornar realidade e encontra grande desafios para se viabilizar ainda hoje, porque as autoridades do estado, em sua grande maioria, são pessoas brancas, que negam a existência dessas violências, um absurdo”, afirmou a vereadora.
Cida Pedrosa acrescentou: “O caso do terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan segue esse contexto, uma pessoa branca é a agressora e o estado tem dificuldade de imputar os crimes que de fato aconteceram, tentam amenizar, apaziguar a situação, o que é outra violência para com as vítimas”.
Segundo Cida, a área de lazer só foi vandalizada porque era ligada a um terreiro de religião de matriz africana, se fosse de qualquer outra, não seria.
“Por esse fato já fica claro que a violência tinha um cunho racista e contra a livre manifestação da fé. Iremos cobrar para que as autoridades tipifiquem o crime de forma correta, como manda o código penal”.
O homem, identificado como Thiago Campelo, de 43 anos, é flagrado em vídeo quebrando todo o jardim montado pelos "filhos de santo" do terreiro, como se denominam, para receber crianças nas férias, Ele justificou que ali seria um espaço para juntar marginais.
De acordo com as testemunhas, Thiago costumava usar o espaço para estacionar seu veículo, mesmo o terreno não sendo de sua propriedade. Ele disse que não queria o jardim na sua passagem, enquanto sua mulher tratava o local como “isso e aquilo”, uma coisificação das pessoas por trás da iniciativa.
Segundo a advogada Patrícia Teodósio, os danos ao jardim foram realizados um dia depois de uma das filhas do terreiro ser chamada de “negra safada” e “negra sebosa” pela sua esposa, que é uma alemã.
Tais ofensas não foram registradas em vídeo, como a depredação do jardim. A advogada explicou que a ofensa racista não foi gravada em imagens, porque ainda não se imaginava a gravidade da situação.
Patrícia Teodósio informou que, ainda nesta quinta-feira, foi registrado novo boletim de ocorrência, desta vez virtual, que será remetido à delegacia de circunscrição.
Patrícia é do Projeto Oxé, criado pela Rede de Mulheres Negras, juntamente ao Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares – GAJOP
“A estratégia é incidir para que ambas as ocorrências sejam investigadas no mesmo inquérito para que, por fim, após jurados os vídeos e ouvir as panteras, a autoridade policial possa concluir o inquérito considerando o caso como racismo”.
Thiago destruiu a marretadas o banco feito com pneus e madeira, dizendo que um “bandido” o aguardaria lá sentado para roubá-lo, além de danificar todas as plantas e jarros.
O homem ainda tirou pneus coloridos do lugar, deixou o espaço todo danificado na manhã desta última quarta-feira (3). Tudo já foi recuperado pelos filhos de santo desde a noite de ontem.
“Ele disse que local chamaria para assalto de marginais, mas somos nós que usamos o lugar, que sempre estamos ali o tempo todo. Então, significa que ele disse que os marginais somos nós, porque a gente que freqüenta, a comunidade que freqüenta, não é ninguém de fora. A gente mora ali há muito tempo e nunca teve assalto”, disse uma das vítimas. Numa das gravações divulgadas, é possível ver Thiago dizendo que não adiantava ninguém processá-lo porque ele tinha muito dinheiro.
Na delegacia, enquanto o boletim de ocorrência não era preenchido, devido a operação padrão realizada pela Polícia Civil, ele ficou soltando frases do tipo “conhecereis a verdade e verdade vos libertará”, que remete a um versículo da Bíblia muito usado pelos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O homem, mais uma vez, não foi locaizado pela reportagem.
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