'Se sair, volto a matar', diz canibal que hoje é pastor em presídio de Pernambuco
Líder do trio que matou e usou carne humana em empadas afirma estar convertido e teme ser morto ou voltar a ouvir vozes se deixar a cadeia
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Jorge Beltrão, líder do trio condenado por matar mulheres e usar carne humana em empadas em Garanhuns (PE), hoje prega em unidades prisionais e afirma que não quer liberdade por temer recaída e assassinato. Um vídeo gravado em um presídio viralizou ao mostrar o líder dos "Canibais de Garanhuns" pregando como pastor evangélico. (veja vídeo abaixo)
A gravação foi feita há cerca de um ano na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá (PE), e mostra Jorge Beltrão Negromonte, condenado por assassinatos e uso de carne humana em alimentos vendidos à população.
Vida religiosa dentro do presídio
A defesa afirma que Jorge está convertido e atua como pastor no presídio. Segundo o advogado Giovanni Martinovich, a gravação é antiga. Ele diz que seu cliente prega há mais de dois anos no sistema prisional, dedica-se exclusivamente à vida religiosa e conta com apoio de internos do setor evangélico.
Diagnosticado com esquizofrenia e cego, Jorge afirma que não quer sair da prisão. "Se sair, volto a matar", declarou o ex-integrante do trio canibal a seu advogado e ao corpo de jurados durante o julgamento. O defensor afirma que o cliente teme tanto uma recaída quanto ser assassinado fora do presídio.
Recusa à liberdade
A defesa afirma que Jorge poderia hoje cumprir pena fora do presídio, mas ele próprio recusou. Segundo o advogado, há condições jurídicas para colocá-lo em prisão domiciliar, mas Jorge prefere permanecer recluso, por medo de represálias e da própria mente. Ele teme voltar a ouvir vozes que o levariam a repetir os crimes cometidos.
Vídeo mostra atuação como pastor
Negromonte é apresentado como "pastor da penitenciária" no vídeo que viralizou. Na cena, ele aparece ao lado do diácono Rodrigo Gracino e de um missionário chamado Peterson, que falam rapidamente sobre o trabalho do preso, que está de camisa e gravata e traz um violão às costas.
O preso relata sua conversão e cita versículos durante a gravação. O diácono afirma que o pastor é "uma bênção" e lembra que ele "era conhecido como um dos canibais de Garanhuns". Ao microfone improvisado, o preso conta que um missionário o abordou em 2012 e o convidou a seguir a fé.
Fé como saída no cárcere
O advogado diz que a conversão de Jorge é verdadeira e tem sido alvo de críticas. Segundo ele, muitas pessoas consideram o vídeo uma encenação, mas o defensor insiste que se trata de uma transformação autêntica. Maierovich afirma que, no sistema prisional, os detentos acabam escolhendo entre caminhos opostos — e Jorge teria optado pela fé.
Ele também destacou que não pretende pedir revisão de pena nem progressão de regime, pois seu cliente insiste em permanecer no regime fechado. Segundo o advogado, faltam unidades psiquiátricas adequadas em Pernambuco, o que inviabilizaria a reintegração fora do presídio.
Igrejas evangélicas assumem papel de apoio
Para a defesa, a conversão de Jorge reflete um fenômeno comum nos presídios brasileiros. Em meio à precariedade do sistema carcerário, a religiosidade — especialmente a evangélica — se torna uma via de escape e reorganização. O advogado afirmou que a presença católica é mínima nas unidades, enquanto as igrejas evangélicas atuam com mais força, sendo responsáveis pela recuperação de muitos detentos.
Relembre o caso dos "Canibais de Garanhuns"
O trio acusado de canibalismo foi denunciado pela Justiça em abril de 2012. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva respondiam por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, após o assassinato de uma jovem de 17 anos, Jéssica Camila da Silva Pereira. Partes do corpo da vítima foram encontradas enterradas no quintal da casa, e a carne teria sido usada na produção de empadas consumidas por eles e vendidas na cidade.
O caso ganhou notoriedade com a suspeita de motivações ritualísticas e práticas de sacrifício. Ficou conhecido nacionalmente como o dos "Canibais de Garanhuns" e envolvia a possível atuação do trio em uma seita. Em entrevistas e depoimentos, os acusados falavam em purificação e mencionavam rituais ligados ao consumo de carne humana.
Condenação e penas ampliadas
O trio foi condenado em dois júris populares e teve as penas ampliadas pela Justiça. Em 2014, Jorge, Isabel e Bruna foram julgados pela morte de Jéssica Camila e sentenciados a mais de 20 anos de prisão. Em 2018, voltaram ao banco dos réus pelos assassinatos de Gisele Helena da Silva, 31, e Alexandra Falcão da Silva, 20. As penas foram somadas e, em 2019, a Justiça aumentou as condenações do grupo.
O Tribunal de Justiça de Pernambuco elevou a pena de Jorge Beltrão para 71 anos e 10 meses de prisão. Isabel e Bruna também tiveram as penas ampliadas, chegando a 68 anos e 68 anos e 2 meses, respectivamente.
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