Federação de Jiu-Jitsu de Pernambuco desfilia estuprador
Foi necessária a pressão de mulheres e de atletas para que Emanuel Adelino deixasse a competição estadual
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Por volta das 20h desta segunda-feira (29), a Federação de Jiu Jitsu de Pernambuco divulgou nota, dando a segunda versão sobre a participação de um estuprador, condenado e preso, no campeonato estadual desse esporte, Emanuel Adelino da Silva, 41 anos.
Sem citar o nome de Emanuel, nem usar o termo "expulsão", o comunicado da FJJPE diz que ele "não faz mais parte dos filiados da federação", de modo que não pode mais participar da competição em andamento.
A entidade informou que "repudia totalmente a prática de qualquer crime e, de forma ainda mais veemente, os crimes cometidos contra mulheres, sendo a favor das punições no rigor da lei”.
Durante à tarde, antes da exibição de reportagem no Brasil Urgente, na TV Tribuna PE, ninguém da federação sabia informar sobre como Emanuel conseguiu participar do torneio e estava no topo da lista entre os participantes em ofício enviado ao presídio.
Usaram até a palavra “fantasma”, em tom de brincadeira, para falar sobre quem teria assinado o convite.
Prisão e gravidade do crime só ganham voz com a pressão das mulheres
O comunicado oficial emitido nesta quinta-feira (29) confirma que vários diretores foram informados sobre o preso e sobre a gravidade do crime cometido por um dos participantes e nada fizeram. Pelo contrário. Pediram que os insatisfeitos fizessem um abaixo-assinado sobre o assunto.
Depois dos protestos de sábado e domingo, mulheres protegidas pelo anonimato - em mais uma prova de como se sentem inseguras -, precisaram voltar a falar novamente, desta vez à Tribuna PE, sobre a gravidade de ter que conviver, durante as lutas de um campeonato, com um estuprador andando solto no ginásio, sem sequer usar tornozeleira eletrônica.
Uma atleta chegou a contar à TV Tribuna que começou a fazer jiu jitsu para se proteger de eventuais violências sexuais e estava desolada com a participação de um estuprador no torneio.
Emanuel Adelino da Silva era professor de Jiu Jitsu quando estuprou, em 2021, uma adolescente de 13 anos, uma idade considerada como vulnerável. O lutador, inclusive, utilizou-se da função de professor para ganhar a confiança da menina e violentá-la.
Desfiliação já chega bem tarde
Emanuel Adelino deveria ter sido expulso da federação desde a condenação no dia 19 de junho de 2023. Ele foi escoltado para chegar ao torneio, mas cumpre a pena em regime fechado.
O professor de Jiu Jitsu foi condenado a 15 anos e 9 meses por um crime considerado no Brasil como hediondo.
“É de conhecimento público que existem projetos de ressocialização onde grupos de presos praticam Jiu Jitsu dentro de presídios. Assim sendo, a FJJPE emite um ofício informativo para a diretoria do presídio, da data, local e horário das competições e, quem são os presos filiados em uma relação com vários nomes para que as autoridades tenham conhecimento e os indivíduos possam requerer o que lhes couber perante os órgãos da administração pública e do Judiciário, sem qualquer participação da FJJPE Federação pernambucana de Jiu Jitsu,
Outra parte do texto da FJJPE fala. “Diante da manifestação pública e notória na Segunda Etapa do Campeonato da FJJPE, documentada em nossa ata da competição, buscamos providências dentro das normas, onde informamos que o preso objeto das manifestações "não faz mais parte dos filiados da FJJPE", e consequentemente, está impedido de participar de todas as competições organizadas e chanceladas pela federação”.
Por fim, a FJJPE informa: “Não coadunando com qualquer prática criminosa, buscando com rigor o melhor para a sociedade e a promoção benéfica do esporte”, finalizou a federação, encerrando o episódio sem dar respostas que assegurem punição para atletas que desrespeitarem as leis do país.
Comunicado oficial da FJJPE gera mais polêmicas e indignação
Quase mil pessoas haviam curtido a nota da federação publicada nas redes sociais, até as 23h30, mas a indignação nos comentários permaneceu.
Apesar de frisar, na nota, que havia tomado providências sobre o caso após a polêmica, uma fonte informou à TV Tribuna PE que a iniciativa de desfiliação partiu do próprio condenado, o que não foi confirmado pela entidade.
Nas redes sociais da federação, atletas e seguidores criticaram o comunicado oficial divulgado pela FJJPE em outros aspectos. Internautas disseram ser um erro o estatuto da federação não prever punição severa para quem comprometesse a imagem da instituição.
Um dos trechos mais criticados da nota foi o seguinte: "não existe previsão formal no estatuto ou no regimento interno sobre medidas específicas contra condenados por crimes".
"Está na hora de atualizar o estatuto da FJJPE para que esse tipo de situação nunca mais aconteça. Parabéns às mulheres que tiveram a iniciativa de denunciar e gratidão também a todo o apoio recebido por diversas pessoas. Quem aspira sonhos individuais não prospera, porque só a luta coletiva edifica!", escreveu a professora Thaynah Leal.
"Com essa retratação, fica a sensação de que a Federação será sempre omissa a eventual má conduta de seus atletas federados. Quando deveria exaltar os valores do esporte e banir qualquer atleta e principalmente professores que tenham má conduta ou se utilizem do jiu-jitsu de qualquer forma para oprimir, perseguir ou cometer qualquer tipo de crime, e mais ainda os de natureza sexual contra mulher ou criança", enfatizou o empresário Zeca Lima.
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