Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo

Dia desses pensava eu sobre o quanto é querida a educação. Todo mundo é a seu favor. Surpreendentemente, no entanto, li que a cada sete minutos um professor é agredido lá no Reino Unido.

Cataloguei casos de mestres mordidos, arranhados, chutados, socados, linchados pelos alunos e até assassinados. Na Europa, a cada ano, 1,5 milhão de professores enfrentam esta dura realidade. E ninguém resolve o problema. O Estado não consegue impor a ordem nem nas salas de aula. É assim que se gosta da educação?

Nunca falta dinheiro para a educação. E assim pesquisadores ingleses gastaram milhões para descobrir se um pinguim olha para o céu quando passa algum avião. Na Suécia, cientistas investiram outros milhões para concluir que galinhas preferem seguir pessoas bonitas fisicamente.

Nos EUA, outra fortuna foi gasta para apurar a relação entre a música sertaneja e os índices de suicídio. Enquanto isso, 25% das crianças norte-americanas passam fome e vivem ao largo dos benefícios da educação. Na Europa, são em média uma a cada sete crianças. É assim que se ama a educação?

Os recursos para a educação devem ser tratados com total seriedade. E lá está a Controladoria Geral da União denunciando irregularidades em 73% dos municípios brasileiros. Calculou-se que a corrupção custa incríveis 10% do PIB nacional. Mas segue firme, pelo país afora, a frequente compra de equipamentos caríssimos que quase nunca serão usados porque falta nas salas de aula a estrutura mais básica necessária. É assim que se cultiva a educação?

Trombeteia-se que uma escola forma cidadãos. Paradoxalmente, no entanto, noções mais básicas da vida real passam ao largo das salas de aula. Será mais fácil uma criança nelas aprender qual o nome do navio que conduziu José Bonifácio ao exílio do que receber uma mínima noção sobre, por exemplo, o funcionamento das leis. As consequências são terríveis: 67% das empresas brasileiras enfrentam dificuldades na contratação de trabalhadores qualificados. É assim que se homenageia a educação?

Berra-se, pelas esquinas afora, que aos estudantes deve-se proporcionar a saúde necessária ao bom desempenho escolar. Porém, 6,8 milhões de alunos brasileiros estão em escolas desprovidas de abastecimento de água, e 5,2 milhões não têm sequer água potável para beber. Há ainda outras 20 milhões de crianças que estudam em escolas desprovidas de esgoto - milhares morrem a cada ano por conta disso, segundo o UNICEF. É assim que se ama loucamente a educação?

Grita-se, aos quatro ventos, que crianças devem estudar em um ambiente civilizado, de paz e serenidade. No entanto, lá estão, pelos jornais, as notícias de que traficantes ordenaram o fechamento de escolas em luto por alguma morte decorrente de mais um tiroteio com as forças policiais. É assim que se cultua a deusa da educação?

Cheguei a uma conclusão: o problema da educação é que tem muitos maiores vivendo às custas dos menores. Diante dele, só um milagre para formar de maneira digna e eficiente as gerações que nos sucederão.

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