Israel identifica corpo de penúltimo refém e cessar-fogo se aproxima do fim
Grandes desacordos em temas delicados das negociações voltam a se impor na agenda diplomática sobre Gaza
Israel confirmou nesta quinta-feira (4), após análise forense, que os restos mortais entregues na véspera pelo Hamas e o Jihad Islâmico pertencem ao tailandês Sudthisak Rinthalak. Ele havia sido sequestrado nos ataques de 7 de outubro de 2023, e sua morte foi oficialmente determinada em maio de 2024.
Com o retorno do corpo de Rinthalak, restam na Faixa de Gaza apenas o cadáver do israelense Ran Gvili. A devolução dos reféns vivos e mortos em troca de prisioneiros e corpos de palestinos por Israel é o principal ponto da chamada primeira fase do plano de paz do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Divulgado no fim de setembro e colocado em marcha em outubro, o plano exigia que a devolução total ocorresse em 72 horas. Grupos de familiares de reféns criticaram duramente a demora no retorno dos corpos, que motivou pedidos para que o governo de Binyamin Netanyahu rompesse o acordo.
Tel Aviv, no entanto, seguiu com o cumprimento da trégua, retirando as tropas para a chamada linha amarela, uma redução de sua área de controle direto ainda dentro de Gaza. Em diversos momentos nesses dois meses de cessar-fogo, entretanto, houve confrontos entre o Exército e terroristas e bombardeios israelenses em resposta, além de mortes de civis que, segundo Israel, teriam cruzado a linha amarela e foram atacados por soldados israelenses.
Um incidente desta quarta exemplifica: em resposta a um ataque a tropas feito por terroristas que feriu cinco soldados israelenses, o Exército lançou um míssil na área de Al-Mawasi, área classificada como segura e abarrotada de tendas de palestinos deslocados, matando cinco pessoas, de acordo com autoridades de Gaza, sob controle do Hamas. Segundo contagem do Hamas, 366 palestinos foram mortos e 938 ficaram feridos em ataques desde o início da trégua.
Com a proximidade do fim da fase inicial do acordo, grandes desacordos em temas delicados das negociações voltam a se impor na agenda diplomática sobre Gaza.
O plano de paz de Trump afirma que integrantes do Hamas que "se comprometerem com a coexistência pacífica e a desmantelar suas armas" receberão anistia. O desarmamento da facção, entretanto, é um dos principais campos de discórdia entre as partes: o Hamas tem recusado o desarmamento completo, e Israel não aceita menos do que isso.
Para além dos obstáculos de negociação sobre o tema e da própria dificuldade de se monitorar eventual deposição total de armas, existe ainda dúvida sobre como será executada de fato a governança de Gaza nas próximas etapas.
O plano prevê um governo transitório tecnocrático composto por palestinos, sob supervisão do chamado Conselho da Paz, presidido pelo próprio Trump e composto por líderes globais —mas sem qualquer participação do Hamas, algo que o grupo também tem rejeitado.
Outra diretriz do plano que se relaciona a esse momento de transição é o estabelecimento de uma força internacional de estabilização de Gaza, que deve ter participação de diversos países para treinar e dar apoio a forças policiais palestinas no território. A proposta indica ainda que o período transitório almeja entregar o poder em Gaza à Autoridade Palestina após reforma do grupo e reconstrução do território.
Israel reforçou nesta quarta-feira que vai reabrir a passagem de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, assim que todos os corpos de reféns forem devolvidos. A medida também está prevista no plano de paz, que indica entrada massiva de ajuda humanitária com a reabertura dos postos de controle.
O plano de Trump afirma que a reabertura de Rafah ocorreria sob as mesmas diretrizes do cessar-fogo de janeiro de 2025, ou seja: com papel direto da Autoridade Palestina, sob ajuda e supervisão da Eubam, a missão de assistência de fronteiras da União Europeia. Esse formato funcionou até março, quando a trégua foi rompida com novos ataques israelenses.
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