Como indulto de Trump a ex-presidente de Honduras mostra incoerência da guerra ao narcotráfico
Donald Trump, que afirma trabalhar para combater cartéis de drogas na América Latina, libertou da prisão uma pessoa condenada por liderar um "narcoestado" na região. Juan Orlando Hernández, ex-presidente de Honduras cumpria pena de 45 anos de prisão nos EUA por narcotráfico e recebeu perdão oficial na noite de segunda-feira, 1º.
De acordo com o Departamento Federal de Prisões dos EUA, Hernández deixou na segunda-feira a prisão de Hazelton, na Virgínia Ocidental, onde cumpria sua sentença emitida no ano passado, a informação foi divulgada pela BBC News.
"Meu marido Juan Orlando Hernández voltou a ser um homem livre graças ao perdão presidencial assinado pelo presidente Donald Trump", escreveu a esposa do ex-mandatário, Ana García, em seu perfil na rede social X, declaração repercutida pela emissora.
Trump havia anunciado sua decisão na sexta-feira, 28, após sua controversa ofensiva militar contra supostos traficantes de drogas na América Latina ultrapassar 80 mortos em ataques a barcos nas águas do Caribe e do Pacífico.
O presidente norte-americano afirmou ainda que os EUA começarão a realizar "ataques terrestres" que podem ter como alvo a Venezuela ou qualquer país que considere estar produzindo ou vendendo drogas ilegais. Segundo a publicação britânica, o governo alega que essas ações letais são legais e visam proteger cidadãos americanos.
Especialistas ouvidos pela BBC News alertam que os ataques a civis podem configurar execuções extrajudiciais e ilegais, enquanto outros analistas suspeitam que o verdadeiro propósito seja pressionar o ditador venezuelano Nicolás Maduro a deixar o poder.
Membros do Partido Republicano de Trump e analistas consultados pela rede britânica veem um paradoxo entre essas ações violentas e o indulto concedido a alguém que ajudou a contrabandear mais de 400 toneladas de cocaína para os EUA, segundo promotores americanos.
"Realmente cria uma incoerência: 'vamos usar a força letal contra supostos traficantes de baixo e médio escalão no mar' e 'um chefe de Estado condenado por possibilitar as mesmas rotas (de drogas) ser tratado de forma muito diferente'", afirmou Rebecca Bill Chavez, presidente do Diálogo Interamericano, em entrevista à BBC News.
"Isso faz com que a missão de combate ao narcotráfico, ao menos em sua narrativa, pareça muito mais seletiva e motivada por razões políticas", acrescentou Rebecca, que foi subsecretária de Defesa dos EUA para o Hemisfério Ocidental entre 2013 e 2016.
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