Duas mulheres com paralisia voltam a falar após implantes no cérebro
Entenda os processos envolvidos no avanço científico
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Cientistas americanos desenvolveram tecnologias capazes de traduzir sinais cerebrais de pessoas que não conseguem falar em palavras de forma bem rápida, segundo dois estudos publicados nesta quinta-feira, 24, na revista Nature.
Pat Bennett, de 68 anos, que sofre de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) testou a tecnologia e afirmou que ela a ajudará a se manter conectada com o mundo. Eletrodos implantados em seu cérebro decodificam as palavras que ela quer falar.
A tecnologia pode ser crucial para pessoas que não conseguem falar por terem sofrido um derrame, por terem doenças cerebrais ou paralisia. Elas conseguem comunicar seus pensamentos em tempo real.
Antes de ser diagnosticada com ELA, Pat Bennett montava a cavalo e corria todos os dias. A doença, identificada em 2012, afeta áreas do cérebro que controlam o movimento, causando paralisia. A fala foi a primeira coisa a ser afetada.
Embora o seu cérebro não tenha sido afetado em sua capacidade de gerar a linguagem, os músculos de sua boca, língua, laringe e mandíbula estão paralisados e não permitem que ela fale.
Para realizar a pesquisa, um cirurgião implantou quatro sensores do tamanho de um pílula no cérebro de Pat, especificamente em áreas responsáveis pela fala. Quando essas regiões do cérebro enviam comandos para a boca e a mandíbula para emitir sons e formar palavras, um algoritmo decodifica a informação.
"O sistema é treinado para saber quais palavras devem vir antes das outras e os fonemas usados em cada uma delas", afirmou Frank Willett, da Universidade de Stanford, co-autor do estudo, acrescentando que a tecnologia consegue traduzir corretamente três em quatro palavras. "Mesmo que alguma coisa seja interpretada erroneamente, ainda assim será um bom palpite."
"Para aqueles que não são verbais, isso significa que podem permanecer conectados com o mundo, talvez continuar a trabalhar, manter amigos e relacionamentos familiares", afirmou Willet em comunicado à imprensa.
Depois de quatro meses treinando o software para interpretar a fala de Pat Bennett, a sua atividade cerebral começou a ser traduzida em palavras em uma tela, na velocidade de 62 palavras por minuto. Uma conversa normal pode chegar a ter 160 palavras por minuto, segundo os cientistas, e o objetivo agora é conseguir adaptar a tecnologia para que ela possa ser usada no dia-a-dia.
Em um outro estudo, da Universidade da Califórnia em San Francisco, Ann Johnson, que ficou gravemente paralisada depois de um derrame, conseguiu falar através de um avatar digital que conseguia, inclusive, reproduzir suas expressões faciais.
Os cientistas detectaram sinais de mais de 250 eletrodos implantados no cérebro da paciente e usaram um algoritmo para recriar a sua voz baseada na gravação de um discurso feito em seu casamento. O sistema alcançou cerca de 80 palavras por minuto e cometeu poucos erros.
"Me senti uma pessoa completa novamente", afirmou Ann ao jornal The New York Times.
Para funcionar, o implante de Johnson teve de ser conectado por um cabo ao computador. Mas os cientistas já estão trabalhando em versões sem fio. Os pesquisadores esperam que as pessoas que perderam a fala possam conversar em tempo real por meio de imagens computadorizadas de si mesmas, que transmitam ainda tom, inflexão e emoções, como alegria e raiva.
"A tecnologia tem potencial para, dentro de algum tempo, seja possível que os pacientes conversem normalmente praticamente em tempo real", afirmou Sean Metzger, que ajudou a desenvolver a tecnologia.
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