Benefícios do judô na vida de crianças e jovens atípicos
Com cerca de 90 alunos, o Sensei Peri oferece aulas para crianças com e sem limitações cognitivas ou motoras em Vila Velha
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Hoje em dia ninguém discute sobre a importância da prática esportiva na vida de qualquer ser humano. Por isso, um projeto de judô inclusivo, em Vila Velha, está ganhando cada vez mais adeptos. Com cerca de 90 alunos, Erivanaldo Medeiros Amaral, conhecido como Sensei Peri Amaral, oferece aulas para crianças atípicas (que possuem limitações cognitivas ou motoras) e também típicas.
A ideia surgiu logo após seu exame de faixa preta, entre 2015 e 2016. “Nesta época, fiz um curso de inclusão e percebi que poderia fazer algo a mais. Então, de 2017 adiante, comecei a desenvolver esse trabalho diferenciado. Fazendo a inclusão do modo correto”, contou ele.
“O judô, bem adaptado, é uma das melhores alternativas para a estimulação. Mas a forma como a inclusão é feita é de extrema importância. Temos que tentar entender como a criança funciona e qual o melhor jeito de passar a informação, para que ela consiga se desenvolver”, explicou o Sensei.
Um dos alunos mais antigos do projeto é o Cassio Luís de Oliveira Gomes, de 14 anos. O adolescente, que é autista, está no judô desde 2018. Segundo a mãe, Hendy Ana Oliveira, a prática da modalidade foi muito benéfica para o filho.
“Foi muito bacana ver que deu certo. O Cassio atende os comandos do Peri, faz as atividades solicitadas e interage com o grupo. Como o judô é uma prática oriental, exige muita disciplina. Para o Cassio, que tem certa rigidez e é metódico, foi muito bom”, contou.
“Quando descobrimos o autismo dele, tentei mão criar muitas expectativas para não me frustrar. Mas foi surpreendente. Os autistas são uma caixinha de surpresas, às vezes eles não conseguem falar tudo o que estão pensando, mas estão sempre nos surpreendendo”, afirmou Hendy Ana.
Quem também conhece as aulas do judô inclusivo é Mateus Barbosa Calvi de Souza, de 6 anos. Ele, que também é autista, começou na modalidade com 2 anos de idade.
“Devido à deficiência motora, ele caia muito quando começou a andar. Então os médicos recomendaram uma atividade, só que como ele tinha apenas 2 anos, ninguém aceitava. Foi quando conhecemos o Peri”, contou Fabíola Barbosa de Souza, mãe de Mateus.
“Ele colocou o quimono e, hoje, não dá para ver qualquer deficiência motora. O judô ajudou muito em tudo. Se fosse possível, colocava ele para vir todos os dias. Ele gosta bastante”, afirmou Fabíola.
Aulas incentivam a socialização
Como cada aluno possui uma característica própria e uma necessidade especial, as aulas oferecidas pelo Sensei Peri são sempre diferentes e individualizadas.
“O legal é você preparar a aula para o aluno. Falando sobre pessoas atípicas, uma é diferente da outra. Um eu consigo colocar para correr e saltar, mas com o outro vou trabalhar a disciplina, vou tentar ajudar a melhorar a postura, é diferente”, explicou o Sensei.
Uma aluna que está há bastante tempo no projeto é Laura Mares Guia Coutinho Silva, de 13 anos. Segundo o pai, Carlos Magno da Silva, o diagnóstico de autismo aconteceu quando ela tinha 6 anos.
“Já tínhamos ido a diversos médicos e ninguém dizia o que ela tinha. Só fomos descobrir mais tarde, quando ela fez 6 anos. Com o diagnóstico, começamos o tratamento e também as aulas de judô”.
“A Laura tinha dificuldade de andar, caminhar e o médico disse que o judô ajudaria nesse desenvolvimento. A diferença é muito grande. Ela talvez não estaria andando se não fossem os exercícios. Além disso, as aulas foram muito importantes para melhorar a socialização dela”, afirmou Carlos.
Quem também sentiu a diferença de comportamento foi Julia Poeys. Segundo ela, o irmão Arthur, de 6 anos, tinha muita dificuldade de interação, mas evoluiu desde que começou as aulas.
“Queríamos que ele interagisse mais com as pessoas e que praticasse algum esporte. No começo, ele não queria tanto, mas o Sensei Peri foi conquistando o Arthur aos poucos”, revelou ela.
“A diferença mais gritante foi a socialização, tanto em casa quanto com os colegas na escola. Hoje ele fala mais, se expressa melhor… O Sensei percebe os mínimos detalhes. É um trabalho individual com cada criança”, finalizou Julia.
Em coro, Sensei Peri ressaltou a importância de ter uma atenção especial com a característica de cada um de seus alunos. “Os professores que quiserem oferecer aulas inclusivas, têm que se preparar para dar o que cada indivíduo merece. Não adianta colocar a criança para lutar, se ela não aceita a luta. Nem por isso ela vai deixar de praticar o judô. Principalmente se ela gosta da atividade física”, afirmou ele, que acrescentou:
“Um dos pontos principais é o respeito. Quando se tem respeito, você consegue ganhar espaço e mostrar que tudo é possível. Hoje, com o diagnóstico precoce, muitas portas se abrem”, finalizou ele.
Disciplina
Judô para trabalhar o comportamento
Rebeca Hernandez Pereira, de 5 anos, que é uma criança com síndrome de Down, está no judô há cerca de dois anos. Segundo a mãe, Sunamis Hernandez, os benefícios são muitos.
“Na época, procuramos a atividade para trabalhar o comportamento da Rebeca, que estava muito opositora. Não aceitava muito os comandos. Mas ela já aprendeu a esperar a vez do outro, a obedecer regras… o judô trabalha muito a disciplina”, afirmou Sunamis, que indica a atividade para outras crianças.
Saiba mais
Judô inclusivo
- As aulas acontecem no centro de Vila Velha. O endereço é Avenida Castelo Branco, 1230. Próximo ao colégio São José
- Com horários flexíveis, é possível marcar aulas de segunda a sexta, de 7h às 19h
- Entre alunos atípicos e típicos, o projeto atende indivíduos com qualquer tipo de limitação
- Mais informações podem ser encontradas no instagram @judoinclusivohenkan ou pelo telefone: (27) 99227-3800
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