85% dos clubes da Série A têm alto risco de enfrentar impacto climático até 2034
Mudanças climáticas devem afetar diretamente os times de futebol
Escute essa reportagem
Os trágicos acontecimentos de maio no Rio Grande do Sul poderão se repetir no Brasil e no Mundo em breve. Um estudo inédito realizado pela consultoria ERM (Environmental Resources Management) e encomendado pelo Terra FC, coalizão global de clubes, torcedores, grupos comunitários e sociedade civil, conhecida internacionalmente como Earth FC, mostrou que dos 20 times que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro em 2024, 17 estão sob alto risco de ter suas atividades impactadas por inundações, incêndios florestais e calor extremo, nos próximos dez anos.
"As mudanças climáticas são hoje o maior adversário do futebol brasileiro. Por isso, estamos reunindo a comunidade do futebol no Brasil e no mundo para mobilizar milhões de torcedores e mais de 50 clubes, entre o G20 e a COP30. É hora de nos unirmos contra nosso inimigo comum e focarmos, juntos, o que mais importa", disse Eric Levine, diretor do Terra FC. A iniciativa, convocada pela Onda Solidária e a Count Us In, aponta como papel decisivo do esporte o apoio popular às ações contra a mudança climática.
O relatório mostra, por exemplo, que todos os clubes da Série A estão sediados em cidades com risco de queimadas. Em 55% delas a classificação é de alto risco, podendo impactar Atlético-GO, Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Cruzeiro, Cuiabá, Fortaleza, Palmeiras, Red Bull Bragantino, São Paulo e Vitória. Nas demais, o risco é considerado médio.
O levantamento também avaliou as ameaças de inundação de rios, inundação urbana e inundação costeira. Salvador, Rio, Porto Alegre e Cuiabá estão em alto risco, sendo que a situação mais alarmante é a dos cariocas, com o alto risco nos três fatores mencionados.
Juntos, esses municípios sediam jogos de 45% dos times da Série A: Bahia, Botafogo, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Vasco e Vitória. Por fim, 30% das equipes estão em cidades de médio risco: Corinthians, Criciúma, Fortaleza, Palmeiras, Red Bull Bragantino e São Paulo.
"Neste ano, testemunhamos o impacto profundo das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a população do Estado e, ainda, sobre a comunidade esportiva do País. O novo levantamento nos alerta para a possibilidade de que esses eventos ocorram com maior frequência no futuro próximo", afirmou Marcos Botelho, diretor do Terra FC.
As enchentes forçaram o adiamento da sétima e da oitava rodada da Série A do Brasileiro, remanejando a tabela restante da competição (32 rodadas, com 10 jogos em casa), afetando todos os times.
Sem poder atuar em Porto Alegre, Grêmio e Internacional ainda se viram obrigados a mandar seus jogos em outras cidades. Dos municípios com times na elite, Curitiba, Criciúma (SC) e Caxias do Sul (RS) - justamente as três que não possuem alto risco de enfrentar um evento climático - foram as escolhidas. Cariacica (ES), Florianópolis e Chapecó (SC) também receberam partidas oficiais dos times no torneio.
"É preciso ter em mente que todas as equipes jogam dentro e fora de casa. Logo, os riscos projetados pelo estudo podem afetar clubes mesmo que eles estejam sediados em cidades com baixo risco", disse Botelho.
O levantamento da ERM traz ainda um panorama dos impactos do clima sobre o futebol brasileiro neste ano. Mostra, que em 2024, os clubes de elite tiveram um prejuízo superior a R$ 100 milhões devido à ocorrência de eventos climáticos extremos. O relatório ressalta ainda que questões relacionadas ao clima, como temperatura e qualidade do ar, têm interferência direta na saúde pública, impactando igualmente atletas e torcedores.
"Há poucas publicações no mundo sobre esses perigos e um número ainda menor relacionando impactos econômicos com riscos climáticos. A falta de informações e estudos é uma chamada à ação", afirmou Fred Seifert, sócio da ERM.
TORCEDORES
Lançado oficialmente durante a programação do encontro do G20 no Rio, neste mês de novembro, o Terra FC visa engajar milhões de torcedores de futebol no combate às mudanças climáticas. A partir do pontapé inicial no Rio, a iniciativa já começa a mobilizar clubes e fãs em países apaixonados pelo futebol - usando o poder do esporte para virar o jogo até a COP-30, em Belém, em 2025.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários