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Entrevistas Especiais

Doutorando em Psiquiatria: “Vivemos no século da solidão”

Especialista analisa os efeitos da solidão, diz quando é preciso se preocupar e o que estrutura o auge do individualismo


Imagem ilustrativa da imagem Doutorando em Psiquiatria: “Vivemos no século da solidão”
Thyago Antonelli Salgado disse que já existe, até mesmo, uma exploração econômica da solidão |  Foto: Divulgação

Justamente na época em que a tecnologia possibilita formas de comunicação rápidas e acessíveis, sempre ao alcance das mãos, estudos demonstram que a sociedade nunca foi tão solitária. Para o psiquiatra Thyago Antonelli Salgado, não há dúvidas sobre o atual momento histórico: “Vivemos no século da solidão”.

Em entrevista ao jornal A Tribuna, o especialista analisa os efeitos da solidão a longo prazo, diz quando é preciso se preocupar e o que estrutura o auge do individualismo como um estilo de vida na sociedade brasileira. Para o especialista, já há, até mesmo, uma exploração econômica da solidão.

- A Tribuna – Vivemos um paradoxo: no século em que temos, às mãos, a possibilidade de conversar com qualquer pessoa, independentemente de distância, nos sentimos cada vez mais sós. O que explica isso, na sua análise?

Thyago Antonelli Salgado – Mesmo que aumentemos a possibilidade de interação com as pessoas, vemos uma diminuição na tolerância para frustrações entre essas relações. Se uma pessoa não me der totalmente o que espero da relação com ela, vou comunicar com outra que provavelmente também não dará totalmente o que quero, e, assim, segue uma mudança contínua de relações superficiais.

O início da interação gera uma satisfação positiva baseada na expectativa que se tem dela e, de forma temporária, reduz a sensação de solidão que sentimos. Contudo, como não aprofundamos essas relações, a sensação de solidão volta e tentamos lidar com ela por meio de novas interações.

As redes sociais são meios que permitem e reforçam esse comportamento, uma vez que temos possibilidades de múltiplas interações. Comparando com outra necessidade básica, que é a de se alimentar, seria como se estivéssemos com fome e enganássemos a fome com um pequeno tira-gosto de forma sucessiva. Obviamente, a fome vai continuar incomodando.

- Podemos dizer que vivemos no século da solidão? Por quê?

Sim, vivemos no século da solidão. Estudos mostram que a solidão aumentou durante a pandemia, mas há uma compreensão de que esse aumento provavelmente já vinha ocorrendo há muitos anos e estamos tendo o ápice das taxas de solidão.

De acordo com o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos em uma pós-modernidade 'líquida', em que as relações são incertas, inconstantes e voláteis. Essa concepção é baseada na constante insatisfação e tendência à frustração do ser humano atualmente.

Ainda, o comércio sempre tende a entender as necessidade do mercado. Com o aumento da solidão, torna-se natural a exploração econômica desse campo.

- O individualismo é um símbolo do nosso estilo de vida?

A cultura do individualismo vem ganhando força ao longo do tempo. Grandes potências econômicas, como os Estados Unidos e o Reino Unido, exercem também grande influência cultural e de estilo de vida no mundo.

Essas sociedades se caracterizam por uma cultura individualista em que o valor do indivíduo é pautado pela autonomia e independência emocional dos grupos sociais.

Com o desenvolvimento da tecnologia, vemos cada vez mais possibilidades de fazer atividades sem depender da convivência com outras pessoas.

Um exemplo são as plataformas de filmes e séries que permitem as pessoas verem o conteúdo a qualquer momento, em qualquer lugar, e cada um pode ver separadamente em seus dispositivos.

A tecnologia não é a vilã e, sim, o uso que fazemos dela. Espero que o individualismo não se fortaleça nos próximos anos. Já vemos alguns movimentos dessas mesmas sociedades citadas.

Inclusive, o Reino Unido criou um Ministério da Solidão para lidar com essa questão quando percebeu o impacto que pode causar para a população.

- Como o senhor avalia os efeitos da solidão a longo prazo?

Estudos mostram que a solidão apresenta associação com vários desfechos ruins para nossa saúde a longo prazo. Alguns, inclusive, mostram que quem tem solidão crônica tem redução na qualidade e expectativa de vida. Seria o equivalente a fumar 15 cigarros por dia.

Há uma maior chance de desenvolver doenças coronarianas (problemas no coração), acidente vascular cerebral (AVC) e demência, por exemplo. A solidão pode estar associada com a hipertensão, a desregulação hormonal, o aumento de colesterol e a má qualidade de sono.

No campo da psiquiatria, vemos uma associação da solidão com a depressão, principalmente, mas também com a ansiedade e com o risco aumentado para o autoextermínio.

- Existem tipos de solidão?

Existem várias classificações para solidão. O mais importante sobre essas classificações é saber que a solidão é um estado emocional doloroso, desconfortável, que é gerado pela discrepância entre as relações que uma pessoa deseja ter e o que percebe estar tendo.

Como é um estado subjetivo, a pessoa pode estar rodeada por uma multidão e, ainda assim, se sentir só. Essa solidão pode ser temporária ou crônica, ou seja, por longo tempo. Devemos nos preocupar, principalmente, com a solidão crônica.

A solidão temporária é um estímulo adaptativo positivo. Serve para nos estimular a ter melhores relações sociais e, assim, termos uma melhor qualidade de vida. Temos que nos preocupar se não conseguimos desenvolver relações significativas para lidar com essa solidão temporária. Nesse caso, a solidão pode se tornar crônica.

- Por outro lado, a solidão também pode fazer bem?

Sim. A solidão é como a fome e a sede, que nos estimulam a comer e a beber para atender necessidades básicas de sobrevivência. O homem é um ser social e necessita da convivência humana. Se não sentíssemos solidão, provavelmente as relações sociais não seriam valorizadas e teríamos grande prejuízo na vivência em sociedade.

- É possível aprender a lidar com a sensação de solidão? O que o senhor recomenda aos leitores que se identificam com isso?

De uma maneira geral, precisamos entender que o processo que leva a ter boas relações é ativo, ou seja, precisamos nos mover para garantir que tenhamos tempo e energia para nossas relações sociais. É importante separar um tempo na rotina para ver e interagir com pessoas que tenham um significado para sua vida.

Além disso, temos que nos atentar à possibilidade de desenvolvermos novas relações, uma vez que algumas relações que já temos podem deixar de existir ao longo do tempo por diversos motivos.

Se há poucas interações significativas e dificuldade em desenvolver novas relações, possivelmente o indivíduo tenha a solidão crônica. Isso pode ocorrer por diversos motivos. Nesse caso, cabe a busca por ajuda de um profissional de saúde mental.

PERFIL

Thyago Antonelli Salgado é médico psiquiatra, formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e doutorando em Psiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Fez residência em Psiquiatria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2018. É, ainda, especialista em Saúde da Família pela Universidade de Brasília (UNB) e em psicoterapia de orientação analítica pelo Centro de Estudos Luiz Guedes.

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