“Me chamava de gorda”, diz Ana Hickmann sobre ex
A apresentadora contou detalhes sobre a agressão causada pelo marido e afirmou que sofreu abuso psicológico por anos
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Em sua primeira entrevista após ter sido agredida pelo marido, Alexandre Correa, no dia 11 de novembro, a apresentadora Ana Hickmann, de 42 anos, contou detalhes sobre a agressão e afirmou que, além de violência física, sofreu abuso psicológico durante anos por parte do empresário, de 51 anos.
“Escutei muito que estava gorda. Ele dizia: ‘Ninguém vai te querer velha. Está gorda. Ninguém quer uma Ana Hickmann velha'”, desabafou. Segundo a apresentadora do “Hoje em Dia”, Alexandre também controlava sua agenda. “Determinava o dia da academia, do médico, me pressionava para fazer cirurgia plástica. Eu disse: ‘chega, não sou um objeto'”.
Ela descreveu o marido como “preconceituoso”, “agressor”, “covarde” e “canalha” e sugeriu que Alexandre será alvo de “uma grande investigação por fraude, desvio de dinheiro e falsidade ideológica”.
Ana Hickmann disse ainda na entrevista que solicitou o divórcio de Alexandre utilizando a Lei Maria da Penha, que protege vítimas de violência doméstica e pode acelerar o processo.
“Dei entrada pela Maria da Penha. A lei está aí para nos proteger. Foi criada por conta de uma mulher que foi vítima disso e tantas outras que também foram vítimas. A lei, que é cada vez mais forte, me protegeu”, disse Ana.
A promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Celeste Leite dos Santos, explica o que mudou na Lei Maria Penha a partir das alterações que entraram em vigor em outubro 2019.
“A mudança na lei permite que o próprio juiz da Vara de Violência Doméstica e Familiar possa decretar o divórcio. Em situações que não envolvam agressão contra a mulher ou crianças, o divórcio é regulado pela Vara de Família. Essa mudança entende que a vítima está em risco e o processo de separação precisa ser mais rápido”, explicou Celeste.
Cão
Uma curiosidade que a apresentadora contou foi que, durante agressão cometida por seu marido, ela foi protegida pelos seus cães. Fani e Joaquim, os pets, obedeceram a sua ordem de avançar sobre o empresário durante a briga.
“Os meus cachorros estavam atrás de mim, a Fani e o Joaquim, latindo muito por conta da briga. Toda vez que ele gritava, os cachorros ficavam muito alterados. Eu gritei ‘pega!’ e o cachorro pegou”.
Dificuldade de identificar violência
A dificuldade de identificar que está sendo vítima de violência de gênero é um dos motivos que leva mulheres a não denunciar seus agressores, segundo a advogada especialista em Direito das Famílias Mylenna Preato Dimbarre.
Ela observa que, em recente pesquisa do Senado, do Mapa Nacional da Violência de Gênero, a principal violência sofrida pelas mulheres é a psicológica, seguida da violência moral e, depois, a física.
“Muitas mulheres sofrem diariamente violência psicológica, moral e também patrimonial, e não se dão conta de que estão sendo vítimas e que podem, e devem, buscar refúgio e proteção do Estado, seja por meio das delegacias, das casas de acolhimento e também pelo Poder Judiciário”, diz.
Isso porque, destaca, a Lei Maria da Penha considera como forma de violência doméstica e familiar contra a mulher não só a violência física, mas a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral.
De acordo com o Anuário Estadual da Segurança Pública 2023, 18 mulheres denunciam agressões todo os dias no Espírito Santo e mais de 7 mil mulheres pediram ajuda da PM para evitar aproximação de agressores, no ano passado.
A socióloga, advogada, pesquisadora em gênero e raça Layla Freitas destaca que a mulher enfrenta vários medos. “São muitos: que o agressor volte para casa, que o Estado falhe com a vítima, o medo de não conseguir manter sua casa e seus filhos, pelo agressor ser a única fonte de renda. Também há o medo de ser constrangida pela sociedade, julgada”, observa.
A advogada destaca que a Lei Maria da Penha tem 26 atualizações, mas a parte preventiva ainda é considerada falha por ela. Outro ponto, segundo a advogada, é a necessidade de cursos para agentes que atendem essas vítimas, para que não causem novos traumas.
A psicóloga, psicanalista e professora doutora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Claudia Murta destaca que o machismo estrutural está implicado na impunidade.
“O Estado colabora bastante, tem muitos equipamentos. Claro, quanto mais tiver, melhor. Não é questão pessoal ou exclusiva do Estado. É uma questão social e que envolve Estado, indivíduo e sociedade de uma maneira ampla”.
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