Impacto da tecnologia na Educação: resgate de jogos e mais socialização
Uso do celular pode impactar a interação entre alunos
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A preocupação com o impacto das tecnologias no comportamento e na concentração dos alunos tem levado instituições de ensino da Grande Vitória a afastarem os estudantes dos celulares, incentivando-os a interagirem entre si no dia a dia.
Na rede municipal de Cariacica, por exemplo, o aparelho eletrônico só é liberado para uso em atividades pedagógicas, sendo proibido nos outros momentos, inclusive durante o recreio.
Com isso, uma de suas unidades, a Escola Municipal de Ensino Fundamental em Tempo Integral Cívico-Militar (EMEFTI Ecim) Dr. Afonso Schwab, em Jardim América, tem um projeto especial que resgata brincadeiras antigas.
Durante o recreio dos alunos do 6º ao 9º ano, dos turnos matutino e vespertino, são disponibilizados diversos tipos de jogos, como os tradicionais dominó, mola maluca, xadrez, frescobol, dedobol, peteca e o famoso UNO, queridinho deste século e das estudantes Sophia Souza, Ana Carolina Oliveira, Clarice Helena Fraga, Alice Carvalho e Ingrid de Almeida.
“Esses momentos lúdicos são fundamentais não apenas para o desenvolvimento físico e mental, mas também para a construção de habilidades sociais que serão importantes ao longo de toda a vida da criança”, disse a diretora escolar Miriene Manzoli.
Luzian Belisario, secretária de Educação do município, afirmou que, embora o potencial dos dispositivos eletrônicos como ferramentas educacionais seja reconhecido, é imprescindível que seu uso seja orientado e consciente.
Saudável
“Nosso objetivo é promover uma relação saudável entre os estudantes e a tecnologia, garantindo que os aparelhos sejam utilizados de forma a enriquecer o processo educativo, sem comprometer a concentração e o engajamento nas atividades pedagógicas”.
Na capital, o Centro Educacional Primeiro Mundo, proíbe o celular completamente desde o dia 4 de novembro.
“Com essa medida, podemos ver no recreio os alunos brincando de roda, com jogos de tabuleiros, UNO, as quadras sempre cheias, assim como as áreas de convivência. Os estudantes conversam muito mais no recreio do que antes”, disse o coordenador pedagógico da unidade, Carlos Azevedo.
A escola tem quatro quadras de esporte e disponibiliza material de educação física no intervalo, assim como duas futmesas.
Opiniões
Orientação
Política rigorosa
Em Cachoeiro, o Instituto de Pesquisas Educacionais (IPE), que atende mais de 450 alunos do ensino fundamental II e ensino médio, adota desde 2017 uma política rigorosa de proibição do uso de celulares nas dependências da escola.
Ao chegarem para as aulas, os alunos devem depositar aparelhos em uma sacola, que fica sob os cuidados da coordenação. Os celulares são devolvidos ao final do turno escolar.
“Quando a regra é desrespeitada, o aparelho é recolhido, levado para a sala da direção e só é entregue ao responsável após conversa com representante da equipe pedagógica”, explicou Karla Chequer, supervisora do IPE.
Análise
Conflitos com uso indiscriminado
“Como especialista em Educação, sempre fui a favor do uso da tecnologia. Durante os últimos anos, todos os especialistas em Educação sempre estiveram lutando para que a tecnologia fosse uma ferramenta usada a favor do aprendizado.
Porém, o que temos percebido é que nessa trajetória – não somente adolescentes e estudantes, mas toda a sociedade – tem ficado adoecida com o uso indiscriminado de rede social, de celular.
As pessoas, infelizmente, não têm utilizado essa ferramenta para estudar ou buscar conhecimento. Nesse sentido, o uso do celular nas escolas tem, de fato, trazido conflitos.
Ele acaba sendo mais utilizado para olhar, indevidamente, coisas não relacionadas com o que o professor está propondo.
Diante desse cenário, essa discussão sobre restringir o uso do celular tem que ser levantada, sim, e concordo que deve começar pela escola.
No entanto, é preciso que esse uso excessivo da tecnologia não seja apenas uma discussão no âmbito escolar ou unicamente responsabilidade da escola e do professor, provocando uma carga ainda maior.
Muitas vezes na vida, a gente precisa dar passos para trás, ou melhor, precisa mudar a rota para poder avançar. E é isso que toda essa discussão tem feito.
Temos que mudar a rota em relação ao uso do celular. Além disso, é importante trazer o aluno para o centro da discussão, fazendo com que ele seja mais protagonista nesse processo. Isso é fundamental”.
Fique por dentro
Maioria restringe uso, diz Sinepe
Proibição dos celulares
Estado
Na rede estadual, o celular pode ser usado como ferramenta didática e o uso inadequado do aparelho pode causar advertência.
Vitória
A rede municipal permite o uso de celulares para fins pedagógicos.
Vila Velha
O município canela-verde proíbe o uso de celular e equipamentos eletrônicos em sala de aula, com a ressalva apenas para utilização com autorização prévia pelo professor para fins pedagógicos. A utilização inadequada deles resulta em advertência.
O uso do aparelho, portanto, é proibido na entrada, nos intervalos das aulas, no recreio e na saída.
Serra
Na rede municipal, não há legislação proibindo o uso do celular. O aparelho é utilizado para fins pedagógicos de acordo com o plano de aulas do professor.
O uso pelo aluno, para outros fins e horários, portanto, depende da autorização do professor.
Cariacica
O uso de celulares pelos alunos é proibido em sala de aula, exceto quando autorizado para finalidades pedagógicas. Portanto, a utilização na entrada, nos intervalos das aulas, no recreio e na saída é proibido.
É definido como indisciplina caso o aluno leve o celular sem permissão, bem como em situações como sair da sala de aula para usar o aparelho nos corredores.
Escolas particulares
O Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES) informa que a entidade não interfere na autonomia das escolas com relação à utilização do celular em suas dependências.
O Sinepe-ES tem a informação de que a maioria das instituições restringe o uso do aparelho.
Fonte: Prefeituras consultadas na reportagem, Sedu e Sinepe-ES.
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