Tarifaço: Governo do ES estuda linha de crédito para ajudar produtores e empresas
Governo do Estado estuda criação de linhas de empréstimo, além de subsídios, para produtores rurais e empresas exportadoras
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Diante dos desafios devido ao aumento das tarifas de importação dos EUA, que passam a vigorar a partir da sexta-feira (1), o governo do Estado está oferecendo ajuda aos setores produtivos do Espírito Santo, com foco na manutenção dos negócios das empresas exportadoras e dos empregos.
Linhas emergenciais de crédito, subsídios e até renúncia fiscal são algumas alternativas estudadas. No entanto, tudo isso ainda será definido pelo governo a partir de conversas com os setores produtivos afetados e a análise da situação financeira de cada segmento.
Ocorreram duas primeiras rodadas de reuniões com integrantes do Comitê de Enfrentamento das Consequências do Aumento das Tarifas de Importação e empresários, no Palácio Fonte Grande, em Vitória.
A primeira foi dedicada ao agronegócio. Participaram produtores e representantes de segmentos como café, café solúvel, gengibre, pescados, pimenta-do-reino, macadâmia, celulose, mamão e ovos.
Cada grupo apresentou suas vulnerabilidades, iniciativas em andamento e possíveis estratégias de enfrentamento. Uma das principais preocupações levantadas foi com os pequenos produtores e a economia familiar.
“Precisamos entender as dores de cada um dos arranjos produtivos para que depois possamos endereçar uma solução. Uns têm capacidade de resistir, como é o caso da celulose. Já outros vão precisar do Estado, como é o caso do mamão, da pimenta-do-reino, do gengibre e do pescado”, disse o vice-governador Ricardo Ferraço, coordenador do Comitê.
A tarde, foi a vez do setor de rochas ornamentais. Atualmente, mais de 300 empresas capixabas exportam rochas ornamentais para os EUA. A expectativa do setor é contar com linhas de crédito específicas para exportação, que possam mitigar os efeitos imediatos da taxação.
Ferraço destacou que novas reuniões serão realizadas nos próximos dias, com o objetivo de estruturar, de forma conjunta, planos de ação que levem em conta as especificidades de cada segmento produtivo, promovendo alternativas viáveis para o momento. Participam das conversas representantes do Banco de Desenvolvimento do Estado (Bandes) e o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes).
Desafio de concorrer com a China
Durante o encontro com o governo do Estado, o presidente do Centrorochas (Associação Brasileira de Rochas Naturais), Tales Machado, não escondeu a apreensão dos empresários e o desafio de competir com mercados como Itália, China, Índia e Turquia.
Ele também falou sobre as dificuldades de encontrar mercados alternativos com o mesmo potencial do americano, bem como citou prejuízos que já são realidade por conta da taxação, ou seja, contêineres que deixam de ser embarcados a partir do Estado. “Hoje temos cerca de 1.200 contêineres parados, que não foram cancelados, mas que estão suspensos à espera de uma definição”.
Isso pode representar uma perda de aproximadamente US$ 38 milhões (cerca de R$ 212 milhões) em exportações estaduais.
Atualmente, mais de 300 empresas capixabas exportam rochas ornamentais para os EUA.
Ele também alertou para risco à competitividade, com a tarifa de 50% para o Brasil em comparação aos 15% para a União Europeia. “Os italianos que não conseguiam competir com a gente vieram para cá, pois o Brasil é muito competitivo. Eles conhecem tudo, todos os materiais. Assim, podem levar o material para a Itália, produzir lá e encaminhar por lá”.
Na próxima sexta, a associação vai participar de uma reunião institucional na Embaixada do Brasil em Washington. O encontro marcará a entrega oficial de uma carta à National Association of Home Builders (NAHB), reforçando os impactos negativos da tarifa sobre o custo da construção civil americana.
Produtores de mamão e de peixe dizem não ter plano B
Produtores de mamão, gengibre e pimenta-do-reino, cultivos que o Espírito Santo lidera no mercado brasileiro, temem não conseguirem arcar com o prejuízo após o vigor da tarifa e a consequente redução ou paralisação nas exportações aos Estados Unidos.
Durante a reunião na tarde de segunda-feira (28) no Palácio da Fonte Grande, com a presença de empresários e autoridades, os representantes dos setores afirmaram que não possuem “plano B”, ou seja, uma alternativa à vista para evitar o impacto negativo.
O setor do mamão, por exemplo, está tentando negociar com importadores do país norte-americano para repassar o custo de importação para o consumidor. No entanto, essa é uma tarefa que “não é fácil”, afirma José Roberto Macedo Fontes, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex).
“Já tentamos repassar a taxa, mas os americanos já disseram que não vão absorver tudo. Precisamos de uma interlocução para baixar o nosso custo de produção”, diz o representante do setor.
A previsão é que, com a aplicação da alíquota de 50%, o preço do produto se equipare ao de outros países concorrentes, como México e Costa Rica, gerando uma perda de mercado. O efeito dessa medida será sentido fortemente no Estado, segundo Fontes. “100% do impacto dessa tarifa (para o mamão) é no Espírito Santo. Somos os principais produtores. É o mercado que vai sofrer”, diz
Saiba mais
Dificuldade para gengibre capixaba
Rochas ornamentais
Duramente impactado, neste mês, mais de 1.140 contêineres devem deixar de ser embarcados a partir do Estado, segundo a Centrorochas.
Gengibre
Na produção de gengibre, cerca de 3 mil pequenos produtores serão afetados pela tarifa. Aproximadamente 90% do mercado do gengibre são capixabas e não há mercado para absorver o consumo no Brasil.
Peixe
Já nos pescados, serão mil famílias impactadas. A pesca do Meka (Xiphias gladius), em Itaipava e Anchieta, é a que mais sentirá os efeitos, por ser o produto mais exportado.
Pimenta-do-reino
Para os produtores, que exportam 80 a 90 mil toneladas de por ano aos EUA, cerca de 25% da produção pode ser comprometida com o tarifaço. A perspectiva é que a tarifa elevada inclusive desestimule a produção.
Celulose
Cerca de 19% da produção de celulose pela Suzano no Estado é destinada aos Estados Unidos, segundo a empresa, instalada em Aracruz.
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