Selic em 14,25%, eleva custo de financiamentos de veículos e crédito para empresas
Reajuste vai encarecer em poucos reais por mês as parcelas de financiamentos e empréstimos
Escute essa reportagem

O reajuste da Selic (taxa básica de juros) de 13,25% para 14,25% ao ano, anunciado nesta quarta-feira (19), vai encarecer em poucos reais por mês as parcelas de financiamentos e empréstimos. De acordo com cálculos da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a variação anual nas principais linhas de crédito para pessoas físicas será inferior a 2%.
Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac, o impacto é discreto porque existe uma diferença muito grande entre a Selic e as taxas de juros cobradas dos consumidores que, na média da pessoa física, vão atingir, 123,58% ao ano (6,94% ao mês), provocando uma variação de mais de 800% entre as duas pontas. Isso acontece porque as instituições financeiras já operam com margens elevadas para compensar riscos e custos operacionais.
Para ilustrar o efeito da quinta alta consecutiva da Selic, o especialista fez simulações das principais modalidades de crédito usadas pelos brasileiros: compras a prazo no varejo, cartão de crédito, cheque especial, crédito direto ao consumidor para a compra de veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
A taxa para financiar a compra de um carro de R$ 40 mil em banco, no prazo de 60 meses, por exemplo, passa para 2,10% ao mês, deixando o veículo R$ 1.347,01 mais caro.
As simulações demonstram que o maior impacto será sentido em operações de maior valor, como financiamentos de veículo.
Embora o efeito de cada aumento da taxa seja limitado, a persistência dessa trajetória de alta tem efeitos cumulativos no mercado de crédito. Os ajustes elevam os spreads bancários -a diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada dos tomadores- e ainda impõe critérios de análise mais rigorosos na concessão de crédito.
TAXAS MÉDIAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO - PESSOA FÍSICA
Linha de crédito - Taxa mensal com a Selic anterior (13,25%) - Taxa mensal com a Selic atual (14,25%) - Variação
Juros do comércio - 5,26% - 5,34% - 1,52%
Cartão de crédito - 15,06% - 15,14% - 0,53%
Cheque especial - 7,89% - 7,97% - 1,01%
Financiamento de veículos - 2,02% - 2,10% - 3,96%
Empréstimo pessoal bancos - 3,86% - 3,94% - 2,07%
Empréstimo pessoal financeiras - 7,04% - 7,12% - 1,14%
Taxa média - 6,86% - 6,94% - 1,17%
Linha de crédito - Taxa anual com a Selic anterior (13,25%) - Taxa anual com a Selic atual (14,25%) - Variação
Juros do comércio - 85% - 86,69% - 1,99%
Cartão de crédito - 438,38% - 442,89% - 1,03%
Cheque especial - 148,76% - 150,98% - 1,49%
Financiamento de veículos - 27,12% - 28,32% - 4,43%
Empréstimo pessoal bancos - 57,54% - 59% - 2,54%
Empréstimo pessoal financeiras - 126,23% - 128,27% - 1,61%
Taxa média - 121,58% - 123,58% - 1,64%
Para as empresas também há impacto. A taxa média de juros deve aumentar de 56,93% para 58,39% ao ano. No caso de um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, as empresas pagarão R$ 124,55 a mais. No caso de duplicatas do mesmo período no valor de R$ 20 mil, serão R$ 49,78 a mais de juros.
TAXAS MÉDIAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO - PESSOA JURÍDICA
Linha de crédito - Taxa mensal com a Selic anterior (13,25%) - Taxa mensal com a Selic atual (14,25)% - Variação
Capital de giro - 1,84% - 1,92% - 4,35%
Desconto de duplicatas - 1,80% - 1,88% - 4,44%
Conta garantida - 7,84% - 7,92% - 1,02%
Taxa média - 3,83% - 3,91% - 2,09%
Linha de crédito - Taxa anual com a Selic anterior (13,25%) - Taxa anual com a Selic atual (14,25)% - Variação
Capital de giro - 24,46% - 25,64% - 4,82%
Desconto de duplicatas - 23,87% - 25,05% - 4,91%
Conta garantida - 147,38% - 149,59% - 1,50%
Taxa média - 56,93% - 58,39% - 2,56%
Segundo João Peixoto Neto, da Ouro Preto Investimentos, o novo aumento dos juros pode levar a um cenário de crise para muitas empresas e elevar o número de recuperações judiciais, que já bateram recorde no ano passado.
Ele afirma que os maiores bancos devem limitar o crédito, e a tendência é que as empresas recorram cada vez mais ao mercado de capitais, por meio de fundos de crédito privado, como os FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios).
A Selic é definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central e serve como referência para diversas operações financeiras no país. A taxa influencia diretamente o custo do crédito, os investimentos financeiros, a inflação e o controle da oferta de moeda na economia.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a inflação, reduzindo o consumo e os investimentos. Por outro lado, quando reduz a taxa, busca estimular a atividade econômica.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários