Por que o Brasil precisa de fertilizante da Rússia?
Tensão entre países ameaça importação de fertilizantes usados no agronegócio brasileiro
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Em mais um capítulo da escalada comercial, o presidente americano Donald Trump anunciou que vai impor tarifa adicional de 25% sobre as importações da Índia, em retaliação pelo fato de o país asiático importar derivados de petróleo da Rússia.
Trump se referiu especificamente à compra de petróleo da Rússia, mas há um temor de que futuramente a sanção possa se estender para o comércio de outros produtos. Se isso acontecer, vai ser um desastre para o agronegócio brasileiro, que depende do fornecimento de fertilizantes da Rússia.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, mais de 90% dos fertilizantes utilizados são importados, o que torna o setor agrícola vulnerável às oscilações do mercado internacional e impacta diretamente os produtores rurais.
A Rússia aparece como o principal país fornecedor, respondendo sozinha por 30% do que é importado, superando potências como China, Canadá e EUA.
O presidente do Sindicato Patronal da Indústria do Café do Estado (Sincafé), Aildo Mendes Fonseca, disse que o País é dependente das importação de fertilizantes, mas que é possível buscar alternativas. “Nossas jazidas de fertilizantes não tem dimensões para atender o mercado interno. Dependemos deles”.
Bruno Maciel Santos, professor de Análise de Política Externa do curso de Relações Internacionais da Universidade de Vila Velha (UVV), destaca que é difícil competir com os fertilizantes russos por conta dos preços e da escala de produção deles.
Além disso, ele disse que a questão dos fertilizantes tem muito a ver com os próprios limites geológicos do Brasil. “Nós temos um Plano Nacional de Fertilizantes, mas temos um subaproveitamento das jazidas de fosfato e potássio devido à demora na viabilização para o seu aproveitamento”.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, disse que o governo brasileiro tem que estar em alerta para o risco de uma retaliação dos EUA envolver proibições de compras de produtos.
“A posição dos EUA que foi dada à Rússia foi que, se ela não resolvesse o problema da guerra, eles iriam abrir retaliações que envolveriam quem compra produtos da Rússia. E nós compramos petróleo e fertilizantes, que são muito sensíveis ao agronegócio”.
Receio com primeiro passo na OMC
Sem um canal aberto de negociação com a Casa Branca, o governo brasileiro apresentou, na quarta-feira (06), um pedido de consulta à missão dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), sediada em Genebra (Suíça).
Esse é o primeiro passo para uma ação na OMC contra as sobretaxas impostas pelos EUA a produtos brasileiros. Mas isso pode ser a solução?
Em entrevista ao O Globo, Ana Caetano, sócia da área de comércio exterior do escritório Veirano Advogados, disse que teme que a abertura de uma consulta na OMC pelo Brasil seja encarada pelo governo dos EUA como uma retaliação à sobretaxa adicional de 40% anunciada na semana passada.
O decreto do presidente Donald Trump que instituiu uma sobretaxa explicitamente de que a tarifa poderia ser ainda mais elevada em casos de retaliação.
“Temos que tomar cuidado para ver se os EUA não vão entender o movimento como retaliatório” disse Ana Caetano.
Demora
Além disso, o estágio do caso pode levar anos. Isso porque o Órgão de Apelação da OMC, que funciona como última instância em um recurso movido pelo país que se sente prejudicado pela decisão dos julgados, está paralisado.
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