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Economia

Ouro negro do agro: bebida especial é a bola da vez

Cenário favorável do café faz com que produtores agreguem ainda mais valor ao produto


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Imagem ilustrativa da imagem Ouro negro do agro: bebida especial é a bola da vez
Gabriel Mocelin com seu café: cuidado extra em todos os processos |  Foto: Clóvis Rangel/AT

O cenário favorável do setor cafeeiro do Espírito Santo tem melhorado a renda de muitos produtores rurais do Estado. Porém alguns conseguem uma rentabilidade ainda maior, agregando valor ao produto por meio de uma seleção mais criteriosa dos frutos e de técnicas mais apuradas no processo de torra e moagem dos grãos.

“Os produtores têm percebido que há uma oportunidade no mercado e buscam formas de aliar produtividade a qualidade”, destaca o gerente corporativo de comercialização e mercado da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Edimilson Calegari.

Tais procedimentos permitem que o café atinja um grau de pureza, doçura, acidez e harmonia que o fazem ser classificado como especial.

“Um café com características especiais é resultado de um processo que começa com práticas cuidadosas na lavoura, passando à colheita no ponto certo de maturação e continuando nos processos de pós-colheita e beneficiamento, com a secagem feita preferencialmente em fogo indireto, em terreiro ou estufa”, explica José Carlos de Azevedo, gerente de comercialização da Cooabriel.

Para chegar a essa classificação, o café precisa atingir uma pontuação acima de 80, conforme os critérios da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Além disso, é preciso ter 100% de pureza dos grãos.

Além de especial, o café pode ser classificado como tradicional, extraforte, superior (ou premium) e gourmet, conforme sua pontuação. Tais critérios foram estabelecidos pelo Programa de Qualidade do Café (PQC), criado em 2004 pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

Produtor de café conilon em Alfredo Chaves, Gabriel Mocelin, 38 anos, decidiu ingressar, ao lado do irmão, Elder Mocelin, 34, no ramo dos cafés especiais. “Resolvemos desenvolver nossa marca própria após nosso café ficar entre os 20 melhores do Estado”.

Para chegar ao resultado, ele conta que há um cuidado extra em todos os processos, desde a colheita até o momento em que o produto chega à embalagem.

Quem também decidiu investir em um café diferenciado foi Guilherme Oliveira, de Nova Venécia, que também produz conilon.

Ele conta que seu produto já recebeu uma premiação local e hoje consegue vender, por meio de amigos, para países como Suíça, Estados Unidos, Panamá e Noruega.

ENTENDA

Café comum

São conhecidos no mercado como extraforte e tradicional. Em ambos os casos, os grãos são colhidos juntos, sem que haja uma seleção entre os verdes, maduros e passados. O extraforte, cuja pontuação é abaixo dos 65, é mais torrado, o que lhe proporciona sabor mais amargo do que o tradicional, que tem pontuação entre 65 e 70.

Café superior

Também conhecido como premium, possui uma pontuação levemente superior, entre 70 e 75. Esse tipo de café possui grãos um pouco mais refinados em comparação com o tradicional ou extraforte, pois são cafés verdes ou que se quebraram no caminho. No entanto, ainda há nele um grau relevante de impureza e de amargor no aroma.

Café gourmet

Cafés com pontuação variando entre 75 e 80 são classificados como gourmet. São considerados uma mistura pura, pois não apresentam defeitos. Porém, não passam por processos de classificação rigorosos como o café especial. Possui características de uma bebida de baixo amargor, acidez e doçura moderada a alta.

Café especial

Para ser considerado especial, o café precisa ser 100% puro e atingir uma pontuação acima de 80, conforme os padrões de qualidade da BSCA. Essa pontuação é feita por meio de uma análise de fatores sensoriais, que avalia a limpeza e doçura da bebida, além de equilíbrio entre corpo e acidez.

Certificações agregam valor extra

Além da classificação do café, de acordo com seu grau de qualidade, outro fator que tem contribuído para agregar valor e tornar o produto mais competitivo no mercado são as certificações.

Elas asseguram que o produtor segue as melhores práticas de manejo, não usa agrotóxicos ou outros produtos químicos e que seu produto prima pela qualidade e boa saúde.

Dessa forma, o café certificado atrai empresas e consumidores mais exigentes, que estão até mesmo dispostos a pagar mais caro por um produto que respeita as normas ambientais e sociais.

Entre as principais certificações está a de que o produto é orgânico — livre de agrotóxicos —, a de que respeita condições ambientais e sociais, e da que atesta a origem do produto.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Corretores de Café do Espírito Santo, Marcus Magalhães, uma certificação pode render ao produto uma valorização entre 10% a 15%.

“O mundo hoje caminha para uma demanda maior de certificações do café, onde o produtor garante que respeita questões ambientais e trabalhistas, por exemplo. Isso tem sido muito valorizado pelo consumidor final”.

Já o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, destaca que a certificação de sustentabilidade será fundamental para que o café capixaba continue conquistando o mercado europeu, que em breve proibirá a importação de commodities produzidas em áreas desmatadas.

“Essa legislação europeia traz desafios, mas também oportunidades. Ela nasce da vontade do consumidor de saber que o que ele está consumindo não é fruto de região desmatada. Isso é bom para o Espírito Santo, que tem um café top em qualidade e que também prima pela sustentabilidade”.

SAIBA MAIS

Algumas das principais certificações do café

Café orgânico: para ter essa rotulação, o café deve ser cultivado com fertilizantes orgânicos e o controle de pragas e doenças deve ocorrer por meio de controle biológico. Portanto, não pode haver nenhum tipo de agrotóxicos em sua produção nem adubos químicos solúveis. A produção e o processamento devem ser monitorados por agência certificadora credenciada.

Café fair trade: consumidores desse café geralmente se preocupam com as condições sociais e ambientais sob as quais o café é cultivado, além do comércio justo. Assim, exigem, por exemplo, que eles venham com certificações de produção sustentável, e estão dispostos a pagar a mais por isto. O processamento também é monitorado, para garantir a presença dos atributos de qualidade desejados.

Café de origem certificada: relaciona-se às regiões de origem dos plantios, uma vez que alguns dos atributos de qualidade do produto são inerentes à região onde a planta é cultivada. O monitoramento da produção é necessário para a rotulagem.

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