Inteligência artificial chega às fazendas
Agronegócio adere à tecnologia e melhoram produção. Resultado é, entre outros, previsão melhor do tempo e aplicação de defensivos
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Imagine o desafio de um agricultor que possui 5 mil hectares de terra e precisa monitorar o processo de produção de uma cultura em meio às intempéries. Ou ainda a dificuldade enfrentada por um gestor público que necessita prever o tempo e mapear locais de risco para conter deslizamentos ou ondas de calor.
Graças à inteligência artificial, gerenciar cenários assim ganhou assertividade. Do campo à cidade, a IA se tornou uma aliada das organizações para enfrentar os principais desafios de sustentabilidade, como mudanças climáticas, gestão de recursos e desenvolvimento sustentável.
Relatório encomendado pela Microsoft aponta que a IA poderá contribuir com US$ 5,2 trilhões para a economia mundial, reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 4% e criar 38,2 milhões de novos empregos até 2030.
A Usina Caeté, produtora de etanol e cana-de-açúcar em Alagoas e São Paulo, investiu na criação de uma central de inteligência agrícola em 2020, além de sensores e sistemas de IA para otimizar o processo produtivo. O resultado foi uma economia de R$ 3,5 milhões em logística.
A companhia utiliza a Alice, uma plataforma de IA que trabalha na nuvem e recomenda tomada de decisão. A assistente virtual identifica o transbordo mais próximo da colhedora. Quando sua capacidade lota, o sistema define via geolocalização o caminho a ser feito pelo operador de máquina até a usina.
Com a tecnologia, diminuiu o tempo de motor ocioso e levou a uma economia de R$ 1 milhão em combustível de 2020 para 2021.
Os ganhos foram possíveis a partir das soluções da startup brasileira Solinftec, que cria ferramentas inteligentes ao agronegócio. Além da Alice, a empresa desenvolveu o robô Solix AG Robotics que funciona com energia solar e pode ser integrado à plataforma de IA.
A máquina é capaz de percorrer uma plantação inteira em busca de uma erva daninha e as trata de forma individual, reduzindo em até 95% o uso de herbicidas. Á noite, o Solix Hunter (outra versão do robô) “caça” insetos com eletricidade e feixes de luz.
“O produtor consegue ver tudo em tempo real. Hoje você não consegue fazer gestão sem tecnologia”, diz Emerson Crepaldi, diretor de operações da Solinftec.
Momento ideal para plantar e colher
A um clique de distância, produtores rurais no Sul do Brasil conseguem saber o momento ideal para plantar, colher, fertilizar e pulverizar. A “salvação da lavoura” veio com as soluções da Ignitia, uma climatech que trabalha com análise de dados climáticos e modelagem preditiva avançada.
A empresa obtém informações geradas pelo modelo do Centro Europeu de Meteorologia e aplica uma camada de inteligência artificial sobre os dados, de forma a compreender padrões sobre climas tropicais.
A companhia fornece aos produtores informações precisas e hiperlocalizadas sobre o clima, que podem ser adaptada tantos para uma multinacional quanto para um pequeno produtor.
Os insights auxiliam na programação do plantio, aplicação de fertilizantes e herbicidas. Os dados chegam via plataforma, app, SMS ou WhatsApp.
“Tudo isso traz não só benefício econômico, mas também um impacto positivo como a redução de produtos químicos aplicados nas culturas“, diz João Rodrigo de Castro, diretor regional da Ignitia na América Latina.
O setor público também já usa a tecnologia em prol da sustentabilidade. Na cidade de Pindamonhangaba (SP), a prefeitura firmou parceria com a startup iNeeds para aprimorar o serviço da Defesa Civil.
Para isso, começou a mapear áreas de risco e a monitorar informações coletadas por sensores de temperatura e umidade. A IA cruza dados e o app da prefeitura dispara alertas aos cidadãos sobre o tempo.
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