Home office avança e ES vai ter 328 mil trabalhando por teletrabalho em 6 anos
Profissionais que hoje atuam de maneira presencial vão migrar para trabalhar em casa. E haverá contratados novos na modalidade
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O número de trabalhadores em home office, seja parcial ou integral, tem potencial para ser duas vezes maior que o atual, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
No Estado, a previsão é que, em até 6 anos, os atuais 164 mil profissionais que atuam em trabalho remoto — segundo dados locais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se transformem em 328 mil profissionais atuando neste modelo de trabalho.
É o que destaca o presidente do Conselho Temático de Relações do Trabalho (Consurt) da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Fernando Otávio Campos. Ele salienta que não se tratam necessariamente de novos empregos apenas, mas também de profissionais que hoje atuam no sistema presencial e farão a migração.
“O setor de informação e programação, no Estado, é um exemplo dessa migração, com muitos profissionais atuando nesse sistema, até mesmo para empresas de outros estados e países. É mais econômico”, detalha.
O CEO da Heach RH, Élcio Teixeira, destaca que o Estado tem escolaridade acima da média do País, e que por isso tem sido cada vez mais comum o regime remoto parcial ou total, até mesmo para trabalhar para empresas fora do estado e até do exterior.
A vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos - seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Fabiola Costa, detalha que o sistema híbrido, que mistura o home-office com o presencial ao longo da semana, é a maior tendência e já é o preferido de 70% dos trabalhadores do País.
“Muitas empresas no Estado deixam funcionários atuarem pelo menos um ou dois dias de casa. Há outras que atuam 100% no home office também. É um sistema que está se tornando cada vez mais frequente em setores de serviços, consultoria, tecnologia, mas que algumas funções da indústria, logística e varejo também estão adotando”.
O economista Ricardo Paixão concorda que o modelo de trabalho híbrido tende a se popularizar mais do que o 100% home-office e destaca que se trata de um esquema vantajoso tanto para as empresas quanto para os funcionários.
“Há uma tendência muito maior, porque há algumas reuniões que precisam ocorrer de forma presencial. Mas o impulso criado pela pandemia deve tornar cada vez mais comum o esquema híbrido, até pela redução de custos tanto para a empresa quanto para funcionários”, afirma.
“É vantajoso para os dois lados. Pode até não dobrar o número de profissionais atuando nesse sistema, mas vai haver um aumento significativo”, completa.
Recorde de buscas por trabalho sem sair de casa
Nunca o Brasil procurou tanto por “vaga home office” quanto em 2023, afirma o Google Trends. Em levantamento, a empresa aponta que as buscas pelo termo na plataforma cresceram mais de 50% em comparação com o ano passado.
O levantamento revelou também que “vaga home office” foi a frase mais procurada na categoria “vaga...” nos últimos 12 meses. Nos dois últimos anos, as buscas no Google por “vaga home office” mais que triplicaram no Brasil, chegando a um aumento de mais de 160%.
Os maiores picos de busca pelo termo em 2023 foram registrados nos meses de fevereiro, março e setembro, segundo a empresa. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram os estados que mais procuraram essas oportunidades no último ano.
Já o termo “home office” teve seu auge de buscas no começo de 2020, em meio à pandemia de covid-19, quando, segundo o Google, as pessoas queriam entender o que ele significava. Os dados ainda destacam que “mesa home office” e “cadeira home office” foram os itens de mobília mais buscados ao lado de home office no Brasil no último ano.
Alívio
O modelo de home office pode estar aliviando as pressões salariais no Brasil diante de um mercado de trabalho aquecido, mostra estudo assinado pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, e o analista da autarquia Sergio Leão, em meio a uma trajetória benigna da inflação no País.
Publicado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), o documento observa uma significativa recuperação nos níveis de emprego no País, enquanto os salários em geral ainda seguem aquém dos patamares pré-pandemia, com ganhos reais dos trabalhadores mais qualificados registrando a maior diminuição.
“Uma explicação possível para a menor pressão sobre o crescimento salarial durante a recente recuperação econômica é que os trabalhadores mais qualificados, que têm maiores chances de trabalhar remotamente, aceitaram um crescimento salarial nominal mais baixo em troca do valor de comodidade de uma maior flexibilidade no trabalho”, afirmaram.
SAIBA MAIS
Levantamento
No levantamento “Resultados sobre trabalho no domicílio”, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a projeção é que cerca de 23 milhões de funcionários no Brasil têm desejo de trabalhar em casa, de forma parcial ou total. Isso representaria em torno de 35,7% dos 65 milhões de trabalhadores brasileiros que não são empregadores, familiares, auxiliares ou conta própria no País.
No Estado, a estimativa é de que 164 mil profissionais atuam hoje no regime home office, e esse número tem potencial para subir para até 328 mil nos próximos seis anos.
Benefícios para empresas
Michele Heemann, vice-presidente de Pessoas, Cultura e Gestão da Contabilizei destaca alguns dos benefícios para empresas, com base na experiência própria.
Ela cita que, com o teletrabalho, passou a não ter mais restrição de ambiente para contratar funcionário, agilizou processos seletivos para encontrar profissionais com as características desejadas, além de reduzir custos com ambientes físicos.
Também destaca ter ampliado a taxa de retenção de seus funcionários, o que possibilitou a empresa a manter a qualidade de seu serviço.
Sobre a retenção de funcionários, o advogado trabalhista Guilherme Machado detalha que a flexibilidade permitida pelo home office é um dos pontos mais buscados por trabalhadores.
Controle de horas
Machado explica que o controle do trabalho em home office pode ser feito por tarefas e, não, por hora trabalhada.
“A lei passou a reconhecer que controlar o horário do trabalhador em home office não é necessário. O que a empresa precisa observar é a produtividade desses colaboradores, ou seja, o home office possibilita ao colaborador trabalhar a qualquer hora, sem perder tempo com deslocamento, por exemplo, não havendo necessidade de pagar horas extras”, afirma.
Segundo ele, na hipótese de exigência de monitoramento da atividade, a empresa pode optar por instalar um software de monitoramento no equipamento usado pelo colaborador para acompanhar sua produtividade e avaliar a necessidade do pagamento de horas extras, bem como do controle do WhatsApp através de aplicativo de monitoramento.
Na hipótese de monitoramento do horário de trabalho em home office, se realizadas, o pagamento das horas extras se torna obrigatório.
Fonte: Especialistas citados.
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