Filhos mais dependentes: blindagem dos pais atrapalha a carreira, diz especialista
Especialistas também destacam que o comportamento da Geração Z também é resultado da forma como eles foram criados pelas gerações X e Millennials
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A superproteção dos pais é vista com preocupação por psicólogos e especialistas da área de recursos humanos.
A coordenadora do curso de Psicologia da FAESA, Caroline Bezerra, aponta que muitos pais da geração dos Millennials e da Geração X são altamente envolvidos na vida dos filhos, os “blindando” de perigos e não lhes dando espaço para que desenvolvam autonomia.
“A Geração Z cresceu em um ambiente altamente conectado e com muita supervisão, e por isso acaba apresentando níveis mais altas de dependência em relação aos pais. Isso se deve, em parte, à estrutura familiar e aos métodos de educação que enfatizam o apoio constante”.
Psicóloga e diretora de Liderança, Cultura e Diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES), Gisélia Freitas, relata que interferências dos pais na vida dos filhos, como querer participar de uma entrevista de emprego, podem infantilizar a imagem do jovem no mercado de trabalho e deixá-lo ainda mais nervoso nesse processo.
Ela acrescenta que criar filhos muito dependentes atrasa o processo de amadurecimento e capacidade de resolver problemas deles, algo comum dentro da rotina de trabalho.
“Os pais tentam blindar os filhos, mas esquecem que a frustração e as dificuldades da vida são o que moldam um perfil resiliente que é necessário para o mercado de trabalho que está cada vez mais competitivo e exigente. Essa blindagem dos pais atrapalha os mais jovens”.
Eliana Machado, diretora da Center RH, explica que os pais precisam entender que devem apoiar e orientar, mas que não podem tomar os espaços dos seus filhos.
Segundo ela, a “invasão” dos pais na vida profissional dos filhos não se limita ao processo seletivo, sendo comum que os pais queiram rever o contrato de trabalho e até mesmo assinar o contrato no lugar dos filhos.
“Eles querem tirar a autonomia dos filhos. Diante da primeira dificuldade relatada, querem ligar para a empresa e resolver a situação eles mesmos. E, geralmente, sempre acham que o filho está certo. Isso faz com que o jovem seja visto como mimado no ambiente de trabalho”.
Tempo de estabilidade inacessível
Especialistas alertam que o comportamento “ultraprotetor” dos pais com os filhos que estão entrando no mercado de trabalho pode acabar se tornando uma “muleta” para o comportamento dos jovens.
“É uma geração que tem métodos e prioridades diferentes das gerações anteriores. Mas que, de toda forma, também precisa entender que precisa assumir seus papéis e que não poderão usar os pais como muleta em suas ações”, aponta o advogado especialista em Direito Trabalhista Sandro Rizzatto.
Segundo ele, essa relação dos jovens com os pais faz a Geração Z ser muitas vezes vista como “fraca, desmotivada ou mimada”, mas, para ele, trata-se de uma visão simplista e até injusta com eles, já que ignora as complexas realidades econômicas e sociais que moldam o comportamento dessa geração.
“A estabilidade que as gerações mais antigas viveram é, muitas vezes, inacessível para a Geração Z, porque a oferta de vagas com boas remunerações diminuiu e a concorrência aumentou, não só no Brasil como no mundo”.
Especialistas também destacam que o comportamento da Geração Z também é resultado da forma como eles foram criados pelas gerações X e Millennials, que os antecederam e tendem a ser “superprotetores e superpresentes”, numa tentativa de serem diferentes de seus próprios pais, que eram mais distantes.
Para o advogado Guilherme Machado, esse “excesso de disponibilidade” dos pais dos jovens da Geração Z acaba por dar-lhes uma imagem negativa no mercado de trabalho.
“Eles acabam ficando mais inseguros e isso fica nítido para empresas. É uma geração que vai precisar aprender a estabelecer maior contato visual, maior resiliência... Enfim, se preparar melhor para a realidade do mercado”
Ajuda para ter um trabalho
A Geração Z tem buscado os pais para obter todas as vantagens possíveis na busca por um emprego. Uma pesquisa recente com candidatos a emprego feita pela McKinsey mostra que 70% dos membros da Geração Z pedem que os pais os ajudem a conseguir um trabalho.
Daqueles que encontram, 83% atribuem os resultados positivos à orientação parental.
Segundo o estudo, um em cada 10 candidatos a emprego da Geração Z teve ajuda dos pais para completar a triagem do RH, uma etapa inicial do processo seletivo, enquanto 1 em cada 8 fez com que seus pais escrevessem seu currículo do zero.
As mães são mais prestativas e solidárias, já que 76% dos membros da Geração Z relatam receber mais ajuda delas (contra 45% que recebem ajuda dos pais).
Das pessoas que tiveram entrevistas virtuais, 71% disseram que um dos pais estava presente, mas fora das câmeras, para apoiá-los. As mães são mais prestativas e solidárias, já que 76% dos membros da Geração Z relatam receber mais ajuda delas (contra 45% que recebem ajuda dos pais).
Quase 30% afirmaram que os pais estavam diante das câmeras e, se eles aparecessem, a probabilidade de falarem com o entrevistador era de 85%.
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