Especialistas alertam para riscos em investimentos após Banco Master quebrar
Analistas e assessores de investimentos apontam os sinais de que uma instituição ou um título podem representar cilada
Em meio à quebra do Banco Master, investidores acendem o alerta para os riscos ao colocar dinheiro em instituições financeiras, sobretudo pequenas e médias — como as fintechs, ou bancos digitais.
Foram afetados no Espírito Santo 14 mil investidores, segundo estimativa do economista Marcelo Loyola Fraga e do líder do Comitê de Conteúdo Qualificado de Economia e Finanças do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Estado (Ibef-ES), Sávio Bertochi Caçador.
Consultados pela reportagem, analistas falam dos riscos em bancos que oferecem retornos muito atrativos, com pagamentos altos em curto prazo, por exemplo.
Segundo o assessor de investimentos Thiago Goulart, da Valor Investimentos, há sinais claros de risco que é preciso observar.
“Remuneração muito acima do mercado, banco crescendo rápido demais com 'funding' (financiamento) caro e notícias negativas recorrentes, como investigações e vetos do Banco Central, são alertas importantes. Quando a instituição acelera demais e a captação vira tapa-buraco, o risco aumenta”, diz.
Concentração excessiva de investimentos em poucos bancos também têm ampliado o risco de prejuízos — mesmo em produtos considerados seguros, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) — modalidades cobertas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), diz.
Para Goulart, muitos investidores acabam ignorando esses sinais por acreditarem que o FGC elimina qualquer possibilidade de perda. Essa proteção, porém, não cobre valores acima do limite por CPF e instituição e, mesmo quando cobre, o processo de ressarcimento pode levar semanas ou meses.
Concentrar boa parte da carteira em poucos bancos também amplia o impacto de problemas, diz ele.
Mesmo CDBs, LCIs e LCAs podem gerar prejuízos indiretos quando o investidor aposta pesado em uma só instituição que passa a enfrentar dificuldades, diz o assessor de investimentos e sócio da Valor Investimentos, Virgílio Lage.
A recomendação, diz, é diversificar não só entre produtos, mas também entre emissores e prazos, além de desconfiar de ofertas de remuneração que destoam do mercado.
O que dizem os especialistas?
Como, afinal, fugir de cilada ao investir?
Verificar o grau de risco da instituição via rating — que é um grau de avaliação que o mercado dá a essa instituição — é um dos mecanismos indicados por especialistas para evitar investimentos em empresas de baixa credibilidade.
Certificar se o banco está saudável em matéria de fundamentos, com caixa, com perspectivas, se não entra em créditos ou títulos “podres” ou alavancagens financeiras excessivas é crucial para a estratégia.
É importante também ficar atento às altas remunerações que destoam do mercado e desconfiar de taxas boas demais.
Garantir diversificação nas aplicações financeiras e olhar governança, compliance e histórico de eventos regulatórios também ajuda a evitar problemas futuros.
Cuidado com prazos em banco pequeno também é necessário. Para bancos pequenos e médios, prazos mais curtos, de 6 a 24 meses, é o ideal. Já para prazos mais longos, melhor é o Tesouro Direto, debêntures de qualidade, grandes bancos ou fundos bem diversificados.
Quais sinais de problema?
Não existe detector infalível, mas dá para detectar alguns pontos, dizem especialistas. Remuneração muito acima do mercado, consistentemente bem acima da curva para o mesmo prazo e perfil de emissor.
Se todo mundo está pagando 110%, 120% do CDI, e aparece 150%, 170% ou mais em um banco pequeno, o prêmio é justamente pelo risco de dar problema. Taxa alta não é brinde, mas sinal de risco maior.
Banco crescendo rápido demais com funding caro. Crescimento acelerado, financiado por CDBs distribuídos em massa, e o banco podendo estar tapando buraco com captação.
Notícias negativas recorrentes como investigações, operações policiais, intervenções, vetos do Banco Central e balanços questionáveis também são indicativos. No caso do Master, houve vetos do Banco Central, investigação da Polícia Federal, prisão do controlador e, na sequência, liquidação extrajudicial.
Rebaixamento de rating, queda de rating da Fitch, S&P e Moody’s ou mudança de perspectiva para negativa provocam desconfiança também.
Indicadores de balanço se deteriorando, como o Índice de Basiléia — métrica que avalia a saúde e a solidez de um banco — caindo, índice de inadimplência subindo forte e necessidade de capital recorrente são um ponto.
O FGC cobre investidores?
Sim! Mas depende do volume aplicado e do tipo de investidor. Pessoas físicas e empresas, por exemplo, terão tratamento diferenciado no resgate dos valores.
Quantias até R$ 250 mil por Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) serão pagas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
A cobertura segue o limite por CPF ou CNPJ, por conglomerado financeiro — ou seja, a somatória de todos os investimentos no banco. Se exceder, não é coberto.
O valor inclui o montante investido e os rendimentos acumulados até a data da liquidação. Isso quer dizer que tudo o que foi ganho até a data da liquidação será pago.
Como requisitar?
O ressarcimento não é automático. O investidor deve fazer o pedido pelo aplicativo do FGC — disponível para Android e iOS.
Já empresas credoras devem utilizar o Portal do Investidor do FGC.
Fontes: Thiago Goulart, Virgílio Lage, Pedro Lang e Agência Brasil.
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