Entenda a crise que fez dólar disparar e bolsas caírem
Após a quebra de dois bancos americanos, mais uma instituição, desta vez suíça, leva o mercado ao temor de contaminação no setor
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O mercado financeiro teve ontem mais um dia de tensão diante da possibilidade de o banco suíço Credit Suisse enfrentar uma crise de liquidez e, assim, contaminar o sistema financeiro internacional. Isso logo após a quebra dos bancos americanos Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank.
As Bolsas recuaram em todo o mundo. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, fechou com queda de 0,25%, aos 102.675 pontos - o menor patamar desde 1º de agosto. Já o dólar subiu 0,7% e terminou o dia a R$ 5,29.
As perdas eram maiores no decorrer do dia e só foram amenizadas no fim do expediente, depois de o Banco Nacional da Suíça (SNB) e a principal autoridade de supervisão financeira do país (Finma, na sigla em Inglês) afirmarem que o Credit Suisse atende às exigências de capital e liquidez impostas aos bancos considerados “sistematicamente importantes”.
O SNB se dispôs ainda a fornecer liquidez ao Credit, em caso de necessidade. Em conferência financeira na Arábia Saudita, o presidente do conselho de administração do Credit Suisse, Axel Lehmann, disse que o banco tem “fortes índices de capital”.
Ainda assim, as ações do Credit Suisse despencaram 13,9% – durante o dia, o recuo chegou a 26%. Nos EUA, o S&P cedeu 0,7% e o Dow Jones, 0,87%. Apenas o Nasdaq avançou 0,05%. Na Europa, Londres recuou 3,83%; Frankfurt, 3,27%; e Paris, 3,58%.
As quedas foram puxadas pelas retrações das ações de bancos. O Deutsche Bank perdeu quase 10%, enquanto o Barclays teve baixa de cerca de 9% e o Société Générale, de mais de 10%.
A crise de desconfiança estourou após o principal acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank (SNB), descartar oferecer mais assistência financeira ao banco, em dificuldades desde 2020. Nos últimos três anos, escândalos de espionagem e de grande exposição a clientes considerados de risco mancharam a imagem do banco.
“A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples, que é regulatória e estatutária”, afirmou o presidente do SNB, Ammar Al Khudairy, em entrevista à Bloomberg TV. O SNB tem pouco menos de 10% do capital do banco suíço.
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Analistas não creem em um “novo 2008”
Pode complicar?
Apesar da queda nas Bolsas ontem, a turbulência no Credit Suisse e a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank não têm ainda o potencial de causar uma crise financeira global nas proporções da de 2008, segundo analistas.
Na avaliação deles, o colapso de bancos americanos e a tensão em torno do suíço são consequências naturais de uma mudança no nível de liquidez internacional e de más administrações nas instituições.
“Não estamos em uma situação como a de 2008, que foi sistêmica e muito mais grave. Agora, são crises em bancos que foram mal conduzidos”, diz o economista Sergio Vale.
Mudanças no mercado
A regulação do sistema bancário americano hoje é muito mais robusta que a de 2008 e as instituições estão mais capitalizadas agora, o que dificulta um colapso como o de 15 anos atrás, segundo Felipe Salles, economista-chefe do C6.
Salles diz ainda que o problema agora parece estar restrito a bancos de menor porte e que a adoção de medidas pelos órgãos americanos, como garantir que todos os clientes tenham acesso a depósitos e oferecer rapidamente linhas de crédito, foi mais rápida do que em 2008.
Risco com os suíços
No caso do Credit Suisse, poderia haver risco maior de contaminação dado o porte do banco.
Mas o potencial de destruição que um colapso de uma instituição como o Credit pode causar também faz com que seja mais provável um resgate conjunto por parte do governo suíços e autoridades europeias.
Mas o economista Nouriel Roubini alertou que o Credit Suisse “pode ser grande demais para quebrar, mas também muito grande para ser salvo”. À Bloomberg TV, ele disse que “não está claro se o sistema federal tem recursos suficientes para elaborar um pacote de ajuda”.
Ainda assim, a avaliação é de que o contexto da crise do banco europeu também é distinto do de 2008.
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