Engenheira reinventa vida profissional e se torna produtora de chocolate
Ao descobrir doença do pai, Fabiani voltou às raízes, reinventou a lavoura com cacau especial e criou uma fábrica premiada
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Engenheira civil de formação, uma empresária viu a vida ser transformada por completo após enxergar na dificuldade uma maneira de reescrever seu destino — e o da sua família.
Filha de agricultores de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, Fabiani Reinholz, de 35 anos, cresceu em meio às lavouras, mas decidiu cedo que queria outro caminho. “Eu vivi e cresci na roça, mas fui a filha que decidiu sair para estudar, porque achava que a roça não ia me dar oportunidade de crescer financeiramente”, contou.
Determinada, seguiu para a faculdade de Engenharia Civil. Tudo caminhava conforme o planejado, até que a realidade bateu à porta com uma dura notícia: o pai havia sido diagnosticado com Parkinson precoce. “E por isso eu voltei, mas não fisicamente, no início, no sentido de ajudar a administrar a propriedade a distância”, disse ela.
Ao assumir a gestão da propriedade da família, ela começou a buscar alternativas mais lucrativas para a agricultura familiar. Foi então que reparou em algo que sempre esteve ali, mas nunca havia ganhado atenção: cerca de 250 pés de cacau, deixados de lado por anos, enquanto o foco da produção na propriedade era o café.
“A produção de cacau especial começou a chamar minha atenção quando vi que ela podia valer três vezes mais do que a do cacau comum. Na mesma área, eu poderia dobrar minha rentabilidade.”
Apaixonada pelo conhecimento, ela mergulhou de cabeça: “Minha intenção era produzir apenas o cacau especial, mas me apaixonei pelo universo do chocolate. Aí surgiu a ideia da fábrica. Quando eu vi que era isso mesmo que queria, larguei a engenharia, parei de trabalhar, voltei para Colatina. Voltei para ficar de frente”, relata.
E então a Reinholz Chocolates foi apresentada ao público em 2019. O trabalho rendeu frutos, e Fabiani foi representar a Região Sudeste no Prêmio Sebrae Mulheres de Negócio, em Brasília, na categoria Produtora Rural.
Andréa Gama, gestora de Comunidades do Sebrae-ES, acompanhou essa história de pertinho. Ela conta que Fabiani não quis seguir exatamente os passos do pai.
“Ela começou a se questionar sobre como poderia agregar valor. Então foi buscar conhecimento, que é uma característica fundamental do comportamento empreendedor. Ela queria fazer um produto com valor real. E conseguiu”, contou a gestora do Sebrae.

A Tribuna — Como foi se ver empreendendo no campo?
Fabiani Reinholz — Sempre tive uma veia empreendedora, mas achava que isso aconteceria na engenharia. Nunca imaginei que iria empreender na zona rural, na propriedade onde nasci e cresci. Se me falassem isso há 10 anos, eu diria que era loucura.
Como foi começar do zero?
Foi desafiador. Precisei aprender tudo do início, mas foi muito gratificante. Fui criando protocolos e formatos adaptados à nossa realidade, ao clima, à propriedade. Ver os resultados depois foi muito legal.
Você enfrentou dificuldades nesse processo?
Sim, principalmente por estar no meio rural. As pessoas ainda têm resistência em aceitar mulheres empreendendo nesse espaço. Mas tive sorte de estar cercada por homens com cabeça aberta — meu pai e meu marido sempre me apoiaram muito.
Como foi essa transição?
No começo, foi difícil. Meu pai veio de uma cultura diferente, mais tradicional. Tive que mostrar pra ele, na prática, que qualidade faz diferença. Quando ele viu a diferença entre um chocolate feito com cacau bom e outro com cacau ruim, ele passou a apoiar mais.
Sua formação em engenharia te ajuda hoje?
Com certeza. Uso muito a engenharia no dia a dia da propriedade. Ela me deu base para criar processos mais eficientes, além de contribuir muito na parte administrativa. Sou prática, detalhista — e acho que isso vem dessa formação.
Qual é a sua visão sobre empreender?
Acredito que a gente pode empreender em qualquer lugar. No meu caso, foi na marra, mas o importante é começar. Se esperar o cenário ideal, a ideia nunca sai do papel. Ação é o que transforma. E, claro, sempre buscando excelência e sustentabilidade em tudo.
Mesmo depois de estabelecer a marca, você precisou se reinventar. Como foi?
As lojas e pontos de venda ficaram fechados durante a pandemia. Foi aí que surgiu a ideia das experiências sensoriais. Hoje, as pessoas podem vir até a propriedade, conhecer todo o processo de fabricação, desde a lavoura até a barra, e viver uma imersão nesse universo.
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