Empresas oferecem até 15º salário para atrair e manter funcionários
Para vencer disputa com trabalho autônomo e por meio de aplicativos, empresas têm ampliado a oferta de benefícios para reter seus talentos
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Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e com a concorrência com o trabalho autônomo feito em aplicativos de entrega e transporte, empresas estão oferecendo até 15º salário para atrair e reter talentos.
O mentor de carreiras e consultor de desenvolvimento humano Elias Gomes explica que a oferta de benefícios extras, que ele chama de “CLT Premium”, tem sido cada vez mais comum e são parte de uma estratégia já considerada como fundamental para atrair e reter talentos em meio ao surgimento de um cenário de rejeição à CLT entre os trabalhadores.
“Além do 14º e do 15º salários, há ainda oferta de bônus por desempenhos, dias de folgas adicionais e até programas de participação nos lucros. É uma forma de fortalecer o engajamento do colaborador e criar um ambiente mais motivador”.
Essa rejeição à CLT, que tem sido relatada por empresas de diversos setores, vem acompanhada do crescimento do trabalho autônomo, puxado pela pejotização e pelo serviço realizado em aplicativos de transporte e entrega, como o Uber e o iFood.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis do Espírito Santo (Abih-ES) Fernando Otávio Campos relata que na construção civil já é comum o pagamento de uma espécie de 14º salário, na forma de participação por lucros ou resultados (PLR).
“Há muitos modelos de benefícios que são uma solução para driblar o custo de se aumentar salários, já que para cada R$ 1 do salário do funcionário a empresa precisa pagar até R$ 3 de encargo. São meios de se fidelizar o funcionário”.
Presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Agostinho Rocha confirma que, em negociações coletivas realizadas no Estado, as indústrias tem adotado uma série de benefícios adicionais para valorizar e fidelizar seus empregados.
Ele cita como exemplos reajustes salariais acima da inflação, vale-alimentação, planos de saúde e odontológicos e benefícios complementares como a participação nos lucros e resultados.
“Essas medidas têm contribuído significativamente para a retenção de talentos e fortalecimento das relações trabalhistas”.
Grana extra e até apoio psicológico
A Sicredi Serrana, que no ano passado chegou a ser premiada como uma das melhores para se trabalhar no Brasil pelo Great Place To Work (GPTW) oferece 14º e 15º salários na forma de gratificações semestrais, alem de ticket-alimentação com valor acima da média, gympass, apoio psicológico, auxilio creche e auxilio educação.
"Nossa cultura organizacional é centrada em valores como simplicidade, proximidade, colaboração e ação. Isso se traduz em um ambiente de trabalho acolhedor, onde os colaboradores são incentivados a crescer, aprender e contribuir com propósito”, explica Fabrício Cambruzzi, diretor executivo da Sicredi Serrana.
Na foto abaixo, estão reunidos os funcionários da Sicredi Serrana no Espírito Santo e no Rio Grande do Sul.
Disputa no mercado
Rejeição dos jovens
Empresas de diferentes setores relatam dificuldades de contratação ou de reter profissionais por conta da preferência cada vez maior de profissionais pelo trabalho autônomo, impulsionados pela popularização de aplicativos de entrega e transporte, como o Uber e o Ifood.
Além disso, essa busca pelo trabalho autônomo também é puxada por uma rejeição ao modelo CLT de trabalho, que é visto por uma parte mais jovem do mercado de trabalho como pouco flexível e com menores possibilidades de crescimento e de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
“CLT Premium”
Para contornar essa situação, parte dessas empresas tem adotado a estratégia de oferecer benefícios “premium”, que vão além daquilo que tradicionalmente era oferecido aos trabalhadores.
É o caso do pagamento de gratificações semestrais, que funcionam como espécies de 14ºe 15º salários, e benefícios voltados para uso de serviços de academia, psicólogos e até formação profissional.
O termo “CLT Premium” se refere a profissionais contratados dentro do regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e que recebem esses benefícios diferenciados. Vale lembrar que esses benefícios não são considerados direitos trabalhistas, diferentemente do auxílio- transporte, das férias, do 13º salário e do Fundo de Garantia (FGTS). Sendo assim, as empresas não têm a obrigatoriedade de oferecê-los.
Foco nos jovens
Em 2024, o Brasil registrou um recorde de pedidos de demissão. Ao menos 8,5 milhões de pessoas deixaram os respectivos empregos com carteira assinada, segundo o levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Desse total, 30% eram jovens entre 18 e 24 anos.
“A geração Z tem muito acesso à informação, e leva muito em consideração a saúde mental, a qualidade de vida, o propósito. São todos pontos nos quais que a geração anterior nem parava para pensar”, diz aponta Amanda Adami, gerente da empresa de recrutamento Robert Half.
Segundo o especialista em gestão de carreira e professor de Gestão de Pessoas da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Marcelo Treff, essa tendência reflete a crescente valorização do “salário emocional” – um conjunto de benefícios voltado para o bem-estar e a qualidade de vida no trabalho.
Aplicativos de bicos crescem
Quem busca uma renda extra já pode contar com os chamados “aplicativos do bico” — plataformas que conectam trabalhadores a vagas temporárias, especialmente no comércio. A promessa é de liberdade e horários flexíveis.
Esses aplicativos funcionam de maneira parecida com os de transporte: fazem a intermediação entre quem precisa contratar e quem quer trabalhar. Algumas plataformas são especializadas em bares e restaurantes; outras, em lojas e supermercados. As jornadas variam entre 4 e 12 horas.
A média de pagamento é de R$ 70 por seis horas de trabalho. Considerando 22 dias trabalhados no mês, o valor chega a R$ 1.540 — pouco acima do salário mínimo, mas sem nenhum direito garantido por lei, como INSS, FGTS ou vale-transporte.
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