É proibido falar palavrão no trabalho?
No geral, eles devem ser evitados, e podem até ser proibidos pelas empresas, mas, em alguns casos, há como usá-los para engajar
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Normal para uns e inadmissível para outros, o palavrão pode ser proibido pelas empresas no ambiente corporativo.
Mas, em algumas situações, ele pode vir a representar uma estratégia de engajamento entre as equipes, desde que usado com cautela, bom senso e em ambientes que permitam esse tipo de manifestação, o que nem sempre ocorre.
Se por um lado os termos de baixo calão podem ser sinal de desrespeito e usados para machucar, por outro podem servir para extravasar a raiva e criar conexão.
Na prática, tudo depende do contexto em que é usado e o que provoca a quem o ouve, conforme a advogada e presidente da comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil seccional capixaba (OAB-ES), Alice Cardoso. “Melhor que as empresas impeçam o uso para evitar esse desconforto”, opinou ela.
Na visão dela, o uso em um ambiente coletivo acaba sendo uma “violência” contra o colega e mostra “imaturidade e falta de equilíbrio emocional” de quem fala.
A especialista em gestão de pessoas e CEO do Grupo Kato, Roberta Kato, concorda que, em uma empresa formal e que usa um vocabulário polido, o palavrão pode desconstruir a imagem buscada por quem quer ascensão.
Já em um ambiente mais informal, onde o palavreado é tolerado — por vezes, com a intenção de criar conexão —, seu uso pode ser estratégico. “Não existe regra de que é sempre proibido, mas, mesmo onde o palavrão é presente, é preciso bom senso”, frisou.
Estudos apontam que xingar alivia o estresse. Segundo ela, quando se fala o palavrão, o que alivia não é a palavra em si, mas a energia colocada nela. “Uma estratégia é substituir por outra palavra e usar a mesma energia”.
Já a fundadora da Acelera Mulheres, Ana Paula França, disse que usar palavras e expressões que o time usa aumenta a conexão. E lembrou que para cobrar determinado comportamento do colaborador, as empresas precisam deixar claras as regras: “Um código de conduta ajuda. Deixar ir pelo bom senso dos outros é complicado.”
Mas ao se comunicar usando muitos palavrões, pode-se colocar em dúvida o quanto se domina a comunicação não-violenta e o próprio vocabulário, alertou a psicóloga e diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-ES) Alessandra Zanotti: “É preciso usar uma linguagem respeitosa”.
Você sabia?
A comunicação em si é a aquilo que o outro compreende do que eu falo, segundo o psicólogo e conselheiro da ABRH-ES, Cosme Peres. “É aquilo que o outro escuta a partir do lugar dele e do momento de vida dele”.
Dessa forma, um colaborador pode dizer uma palavra sem intenção de agredir e o outro recebê-la e interpretá-la como uma agressão.
Saiba mais
Inadmissível x normal
Para alguns o palavrão é considerado inadmissível, já para outros é normal. Em um ambiente em que todos precisam conviver, especialistas apontam que as regras precisam ser claras.
Liberdade x Respeito
Alguns especialistas acreditam que os colaboradores devem ter liberdade para demonstrar suas emoções no trabalho, sem máscaras. E que o palavrão pode ser uma forma de extravasar.
Já outros apontam que o direito coletivo antecede o direito individual porque a dignidade, segurança e bem-estar coletivos é condição que favorece o bom convívio nos ambientes de trabalho.
Engajamento
Nem para engajar o palavrão deve ser usado, já que em algum momento pode ser mal interpretado, defende a advogada e presidente da Comissão de Direito do Trabalho da OAB-ES, Alice Cardoso.
Para o CEO da Educa Jaime Ribeiro a melhor forma de motivar é explicar para as pessoas por quê elas estão fazendo alguma coisa. Na visão dele, o palavrão pode ser utilizado dentro de um contexto que tenha significado e que não vá ofender.
Escapuliu?
Nem sempre o palavrão sai por querer. Quando um colaborador fala esse tipo de palavra em ambiente corporativo, mesmo sem querer, o ideal admitir o erro e se desculpar com as pessoas que ouviram.
Fonte: especialistas citados na reportagem.
Palavra utilizada com ofensa
Os palavrões podem ser utilizados para expressar emoções, por exemplo, sem serem direcionados a uma pessoa. Dessa maneira, quem ouve pode até se sentir incomodado mas não ofendido.
Essas palavras também podem ser usadas para humilhar, ofender, ser depreciativo com outro ser humano, de forma direcionada, disse o CEO da Educa Jaime Ribeiro.
“Há canalhas polidos e pessoas éticas que se expressam de forma dura. Um chefe pode não usar palavrão, te olhar de forma desprezível e ser muito mais tóxico do que outro que usou o palavrão”, comparou.
Recorrendo à filosofia, ele lembra que a polidez não é considerada uma virtude propriamente dita. “Para a criança é suficiente. Já para o adulto não é suficiente, não garante que será uma pessoa idônea”.
Na visão dele, o palavrão pode ser usado em um contexto que tenha significado e que não vá ofender. Ele revelou que já trabalhou em uma multinacional onde os palavrões eram utilizados com frequência.
Após sofrer processos trabalhistas de funcionários que se sentiram ofendidos na empresa, a multinacional parou para refletir se usar o palavrão era necessário para expressar personalidade.
Aquilo que se define como palavrão é muito cultural, segundo o psicólogo e conselheiro da ABRH-ES, Cosme Peres. “Não é só a palavra, envolve também outros aspectos subjetivos de quem escuta como a entonação, a comunicação não verbal”.
Se o posicionamento da empresa é pelo uso de uma linguagem mais respeitosa, no primeiro momento essa postura será cobrada principalmente dos líderes. “Para muitos colaboradores, eles são os exemplos”, frisou Alessandra Zanotti, diretora da ABRH-ES.
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