Dólar fecha estável após decisão de juros do Fed
Sessão também contou com um leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) do BC, no qual foram vendidos US$ 2 bilhões
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O dólar fechou próximo à estabilidade nesta quarta-feira (29), dia de decisões de juros nos Estados Unidos e do Brasil.
O Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) optou por manter a taxa de referência inalterada, interrompendo a sequência de cortes em curso desde setembro do ano passado. Já o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) fará a divulgação após o fechamento dos mercados, às 18h.
A moeda, que encerrou em queda marginal de 0,01%, cotada a R$ 5,867, teve uma sessão volátil. A manhã foi marcada por um leilão de linha do BC com compromisso de recompra, no qual US$ 2 bilhões foram vendidos, e o dólar oscilou entre os sinais até o fim do dia. Na máxima do dia, encostou em R$ 5,888; na mínima, R$ 5,843.
Já a Bolsa caía 0,25% às 17h, aos 123.744 pontos.
O Fed manteve a taxa de juros na banda de 4,25% e 4,5%, em linha com as expectativas do mercado.
No comunicado, removeu a linguagem das últimas atas que dizia que a inflação estava progredindo em direção à meta. Agora, apenas observou que o ritmo de aumento nos preços "permanece elevado". As leituras recentes dos indicadores inflacionários permanecem cerca de 0,5 ponto percentual acima dos 2% almejados.
As autoridades ainda disseram acreditar que o progresso na redução da inflação será retomado este ano, ainda que não tenham dado nenhuma indicação de quando as taxas irão voltar a cair.
Após reunião de dezembro, as autoridades -de olho na persistência da inflação acima da meta de 2%, no mercado de trabalho forte e na incerteza sobre efeitos da política econômica do presidente Donald Trump- já tinham indicado uma postura mais cautelosa e previsto menos cortes em 2025.
Em entrevista coletiva após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que é muito cedo para dizer o que as possíveis medidas de Trump causarão sobre a economia e que o banco central levará o tempo necessário para avaliar o significado do novo regime de políticas governamentais.
Desde a campanha eleitoral, o republicano tem prometido elevar as tarifas de importação para produtos vindos da China, Canadá, União Europeia, México, entre outros.
Segundo especialistas em comércio, a imposição de tarifas mais altas afetaria os fluxos comerciais, aumentaria custos e provocaria retaliações. Na economia doméstica dos EUA, ainda há o risco de um repique inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.
Nenhuma ordem foi assinada por enquanto. A leitura é que a política tarifária tem sido menos agressiva do que se esperava para os primeiros dias de governo, e o mercado pondera se as ameaças são bravatas políticas ou de fato planos concretos do presidente. Até agora, Trump apenas orientou que as agências federais investiguem os déficits comerciais dos EUA e práticas comerciais "injustas" de países parceiros.
As autoridades do Fed estão "esperando para ver quais políticas serão promulgadas", disse Powell.
"Não sabemos o que acontecerá com as tarifas, com a imigração, com a política fiscal e com a política regulatória."
Para André Valério, economista-sênior do Inter, a postura de aguardar novos desenvolvimentos da política tarifária de Trump é "prudente".
"Powell enfatizou em sua coletiva que ajustes adicionais na taxa de juros deverão ocorrer se houver novos avanços na convergência da inflação ou piora adicional no mercado de trabalho. Assim, mantemos o cenário base de mais dois cortes em 2025, como projetado pelo Fed em dezembro", diz.
"Naturalmente, esses cortes serão dependentes das novas divulgações de dados, e as políticas de Trump são um risco para esse cenário, especialmente a implementação de tarifas. Entretanto, até o momento tais tarifas não foram implementadas e, nesse caso, podemos ter as condições necessárias para o Fed dar continuidade ao ciclo de cortes."
A indefinição sobre a política tarifária tem feito o dólar perder parte do valor no Brasil e em outras praças. Segundo dados da Bloomberg, o investidor estrangeiro reduziu em US$ 19,7 bilhões as apostas de que o real perderia valor ante o dólar no mercado de fundos cambiais desde o último pico, de 16 de dezembro de 2024.
As posições hoje compradas em dólar marcam US$ 57,83 bilhões, contra US$ 77,61 bilhões em dezembro.
Além da falta de medidas concretas do governo Trump, a valorização do real tem sido atribuída à ausência de novidades na cena fiscal brasileira e à perspectiva de uma taxa Selic mais alta em 2025.
Na reunião do Copom desta quarta, a expectativa é que a Selic suba em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano. O próprio colegiado avisou, no comunicado da reunião de dezembro, que elevará a taxa em 2 p.p. no total, parcelados agora em janeiro e em março.
"Não teremos grandes ruídos neste Copom. Está praticamente precificado o aumento de um ponto", afirmou João Ferreira, sócio da One Investimentos. "A perspectiva de um novo aumento de um ponto em março, como sinalizou o BC, também está mantida. Mas será que vai continuar depois disso?"
O objetivo da elevação é segurar a inflação. No último boletim Focus, analistas ouvidos pelo BC esperam que IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano em 5,50%.
O centro da meta para a inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
A piora nas projeções reflete a desconfiança dos economistas com o compromisso do governo Lula com o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Em novembro, o Copom reforçou o alerta sobre risco fiscal e disse que uma piora adicional das expectativas de inflação poderia prolongar o ciclo de alta de juros.
"Copom precisará ser muito preciso no comunicado. Uma postura mais conservadora, ou a expectativa para isso, fortaleceria o real", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, indicando que o aumento do diferencial de juros entre EUA e Brasil torna a moeda brasileira mais atrativa.
A sessão também contou com um leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) do BC, no qual foram vendidos US$ 2 bilhões entre 10h20 e 10h25. Foram aceitas quatro propostas, a uma taxa de corte de 5,401%.
Essa foi a segunda intervenção cambial da gestão do novo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo. A operação, anunciada na véspera, buscava rolar outro leilão de linha realizado em 12 de dezembro, quando foram vendidos US$ 2 bilhões ao mercado com compromisso de recompra em 4 de fevereiro deste ano.
Ao realizar o leilão desta quarta, o BC garante liquidez ao mercado e evita que a demanda adicional por dólares possa estressar as cotações da moeda norte-americana ante o real.
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