Dólar fecha em R$ 6,07 com leilões, pacote fiscal e promessa de Lula
Já a Bolsa encerrou o pregão do dia com alta de 0,75%, aos 122.102 pontos
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O dólar fechou em forte queda de 0,87%, a R$ 6,071, nesta sexta-feira (20), após uma sessão de alta volatilidade.
Os investidores repercutiram os três leilões extraordinários realizados pelo BC (Banco Central), a conclusão da votação do pacote de corte de gastos no Congresso e a fala do presidente Lula sobre a autonomia do BC.
Já a Bolsa encerrou o pregão do dia com alta de 0,75%, aos 122.102 pontos.
A moeda norte-americana iniciou a sessão desta sexta em queda, cotada a R$ 6,085, e intensificou o movimento após um primeiro leilão à vista de US$ 3 bilhões realizado pelo BC (Banco Central). Com a intervenção, o dólar chegou a despencar 1,18%, negociado a R$ 6,051.
Nesta primeira intervenção do câmbio, foram aceitas oito propostas acolhidas entre 9h15 e 9h20.
Após um segundo leilão de linha de US$ 2 bilhões, a moeda reduziu as perdas e voltou ao mesmo patamar de antes da primeira intervenção do dia, a R$ 6,082. Nesta segunda atuação, a autoridade monetária aceitou cinco propostas, acolhidas entre 10h20 e 10h25
Entre 12h30 e 12h35, o BC realizou um terceiro leilão, no qual vendeu mais US$ 2 bilhões. Foram aceitas duas propostas.
O dólar passou a intensificar forte queda após a conclusão da votação do pacote de contenção de gastos proposto pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que jamais vai interferir no trabalho de Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC.
"A combinação da aprovação do pacote fiscal, a atuação coordenada do Banco Central e do Tesouro, e o discurso de Lula contribuíram para essa melhora no ambiente econômico hoje", afirma Pedro Moreira, sócio da One Investimentos.
Ao longo da semana, o BC intensificou sua atuação no mercado cambial com a injeção de dólares. Na última segunda-feira (16), a autoridade realizou um leilão à vista de US$ 1,6275 bilhão e outro de linha no valor de US$ 3 bilhões. O dólar fechou cotado a R$ 6,091, batendo um novo recorde histórico nominal.
No dia seguinte, apesar de novas intervenções (US$ 1,272 bilhão à vista e US$ 2,015 bilhões em leilões de linha), o dólar subiu levemente e fechou a R$ 6,095, renovando o recorde.
Na quarta-feira (18), sem leilões, a moeda disparou para R$ 6,267, o maior valor da história.
Nesta quinta-feira (19), a moeda norte-americana despencou 2,28% e fechou cotada a R$ 6,124, sob efeito dos dois leilões realizados pelo BC pela manhã.
Desde o último dia 12, foram injetados US$ 27,77 bilhões pela autoridade monetária no mercado de câmbio -maior valor já registrado em um mês.
Os leilões são intervenções do BC no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.
As intervenções têm contido a disparada do dólar nos últimos dias, oriunda da crescente desconfiança do mercado quanto à capacidade do governo de equilibrar as contas públicas. Só em dezembro, a moeda norte-americana acumula alta de 4,45% em relação ao real. No ano, registra valorização de 29%.
Nesta sexta-feira, em um vídeo publicado às 14h19 nas redes sociais do presidente Lula, ao lado de Galípolo, e dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), o chefe do executivo disse que Gabriel Galípolo estará na presidência do Banco Central por confiança dele e negou interferência no futuro mandato de seu escolhido para o cargo.
"Quero que saiba que jamais, jamais haverá, por parte da Presidência, qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central", disse Lula a Galípolo.
Às 15h45 desta sexta, o dólar atingiu a mínima do dia, quando bateu R$ 6,044.
No cenário doméstico, os analistas repercutiram a conclusão da votação do pacote de contenção de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passou enfraquecido.
Os parlamentares blindaram emendas obrigatórias contra bloqueios, afrouxaram o comando para combater supersalários, derrubaram boa parte das mudanças no BPC (Benefícios de Prestação Continuada) e excluíram a medida que permitiria à União reduzir os repasses futuros ao FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal).
Nesta sexta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou uma possível desidratação do pacote de gastos.
Haddad disse que as mudanças feitas pelo Congresso Nacional tiram pouco mais de R$ 1 bilhão do impacto total das propostas ao longo dos dois primeiros anos.
"Os ajustes de redação não afetam o resultado final. Mantêm a mesma ordem de grandeza de economia", afirmou durante café da manhã com jornalistas que cobrem o Ministério da Fazenda.
Sobre as cotações do dólar, o ministro afirmou que é preciso corrigir a "escorregada" que a moeda deu no Brasil. Ele afirmou, porém, que não se trata de buscar um nível de cotação para a moeda norte-americana.
"Houve um fortalecimento da moeda americana no mundo inteiro e aqui o fortalecimento [contra o real] foi maior. Temos que corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui. Não no sentido de buscar um nível de dólar, não no sentido de mirar uma meta", avaliou.
Segundo ele, o papel do Banco Central é corrigir as disfuncionalidades do mercado de câmbio em razão de incertezas e inseguranças.
O futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, negou que a disparada seja fruto de um ataque especulativo do mercado financeiro e afirmou que a percepção dele sobre o tema tem sido bem aceita pelos membros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias", disse. "A ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem o movimento que está acontecendo no mercado hoje."
Na entrevista a jornalistas, Galípolo, que assumirá o comando da instituição em 1º de janeiro, esteve ao lado do atual presidente, Roberto Campos Neto.
Campos Neto disse que o BC resolveu intervir no câmbio em reação a "operações atípicas no volume que estão acontecendo". Ele citou que os dividendos pagos pelas empresas estão acima da média, que o fluxo financeiro no ano está bastante negativo, apontando para ser um dos piores anos recentes da história, e que as pessoas físicas estão tirando maior volume de recursos do país.
"A gente tenta fazer uma intervenção que se contrabalanceie em relação ao fluxo que está vendo e, geralmente, fatia o volume que entende que é o razoável para suprir essa liquidez em alguns dias", afirmou Campos Neto.
No cenário externo, investidores repercutem dados do índice PCE -o indicador de inflação preferido do FED (Federal Reservem, o banco central americano)-, em busca de sinais sobre a trajetória da taxa de juros dos Estados Unidos no próximo ano.
Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, destacou os principais fatores que devem continuar impactando o mercado financeiro na próxima semana, entre eles o impacto das intervenções do Banco Central e o possível cenário fiscal do Brasil.
"Já no cenário internacional, a evolução do impasse orçamentário nos EUA e os dados econômicos globais podem trazer mais volatilidade aos mercados", afirma.
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