Dólar cai e Bolsa sobe com clima de cautela no exterior
Um corte na taxa de juros dos Estados Unidos na próxima reunião do Fed, entre 9 e 10 de dezembro, tem virado uma incógnita para os mercados globais
O dólar está em queda nesta sexta-feira (4), dia marcado por cautela nos mercados após sinalizações de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) sobre a taxa de juros norte-americana.
Ainda na cena internacional, temores de uma bolha de inteligência artificial nos mercados de Wall Street também norteiam as negociações.
Às 13h25, a moeda caía 0,34%, cotada a R$ 5,278, revertendo as perdas de mais cedo. Já a Bolsa avançava 0,51%, a 157.967 pontos, amparada pela alta dos papéis da Petrobras em meio ao avanço do petróleo no exterior.
Um corte na taxa de juros dos Estados Unidos na próxima reunião do Fed, entre 9 e 10 de dezembro, tem virado uma incógnita para os mercados globais.
Citando preocupações com a inflação e sinais de relativa estabilidade no mercado de trabalho, algumas autoridades da autarquia estão demonstrando reticiência em estender o ciclo de reduções para além dos cortes dos últimos dois encontros.
Exemplo disso é Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, até então defensora de juros mais baixos. Ela afirmou, na quinta-feira, que qualquer decisão sobre o próximo passo do banco central é "prematura".
"Tenho uma mente aberta, mas ainda não tomei uma decisão final sobre o que penso e estou ansiosa para debater com meus pares", afirmou.
Neel Kaskari, presidente do Fed de Minneapolis, faz coro à cautela. Há alguns meses, ele afirmou que achava que um terceiro corte na taxa de juros até o final do ano estava garantido. Agora, ele classifica os últimos sinais da economista como "mistos", em sinalização de que ele também pode estar em cima do muro.
"Temos uma inflação ainda muito alta, em torno de 3%", disse ele. "Alguns setores da economia dos EUA parecem estar indo muito bem. Alguns setores do mercado de trabalho parecem estar sob pressão."
Já Susan Collins, presidente do Fed de Bostou, afirmou que a taxa de juros provavelmente precisará ser mantida no atual patamar de 3,75% e 4% por "algum tempo".
"Na ausência de evidências de uma deterioração notável do mercado de trabalho, eu hesitaria em flexibilizar ainda mais a política monetária, especialmente devido às informações limitadas sobre a inflação em decorrência da paralisação do governo", disse ela, que votou a favor de ambos os cortes nas taxas do Fed este ano.
Os comentários sugerem que as divisões no banco central estão ficando mais profundas. O presidente do Fed, Jerome Powell, já havia pontuado o desafio da falta de consenso na entrevista coletiva após o encontro de outubro, dizendo que outro corte está "longe" de ser uma certeza, especialmente quando a falta de dados oficiais significava menos visibilidade sobre a verdadeira situação da economia.
Essa falta de visibilidade derivava da palisação do governo dos Estados Unidos, encerrada na quarta-feira após um projeto de refinanciamento ser aprovado no Congresso e sancionado por Trump.
O fim do shutdown, o maior da história dos Estados Unidos, diminui incertezas em relação à economia americana. Desde 1º de outubro, quando o shutdown começou, a falta de financiamento nas agências federais colocou a divulgação de dados econômicos oficiais em suspenso, deixando o Fed no escuro.
Mas, mesmo com a reabertura do governo, dados oficiais de inflação e do mercado de trabalho talvez não sejam publicados a tempo da próxima reunião, segundo a Casa Branca.
Operadores agora estão divididos: 53,6% deles apostam em um corte de 0,25 ponto em dezembro, enquanto os 46,4% restantes vêem uma manutenção como mais provável, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group.
"Há um mês, a probabilidade de um corte era de 95%. A perspectiva de que o Fed pode ser mais lento no corte de juros tende a favorecer o rendimento dos títulos americanos, o que ajuda na atração de investimentos estrangeiros e tende a valorizar o dólar globalmente", diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Em paralelo, investidores globais seguem temendo uma bolha no setor de tecnologia dos Estados Unidos.
A percepção de que empresas ligadas à inteligência artificial talvez estejam valendo mais do que deveriam tem preocupado os mercados globais.
O índice Nasdaq Composite, fortemente concentrado em tecnologia, disparou mais de 50% entre o início de abril e o fim de outubro, à medida que investidores apostavam que a IA impulsionaria um período prolongado de forte crescimento no setor de tecnologia.
Mas o índice tem oscilado nas últimas duas semanas, com um número crescente de investidores comparando a escalada dos papéis de IA com a bolha de empresas de tecnologia no fim dos anos 1990.
"Vemos um risco crescente de que os desequilíbrios acumulados nos anos 1990 se tornem mais evidentes à medida que o boom de investimentos em IA se estende", escreveram os analistas do Goldman Sachs, Dominic Wilson e Vickie Chang, em nota a clientes.
Na cena corporativa brasileira, Petrobras avançava mais de 1%, em meio a força dos preços do petróleo no exterior. A alta da petroleira compensava as perdas da Vale, em queda de 0,5%, também embalada pela desvalorização do minério de ferro na China.
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