Crise climática ameaça transporte de produtos
Um exemplo é o Canal do Panamá, que permite aos navios passar entre os oceanos Atlântico e Pacífico, mas está em risco pela falta de chuva
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A crise climática ameaça o transporte global de produtos e a tendência é que os impactos, já sentidos nas operações portuárias, aumentem. Paralisações ou restrições de operações de transporte de cargas, por condições adversas do clima, causam grandes prejuízos.
Entre eles, mudança da rota, aumento do preço do frete e custos envolvidos, insegurança nos prazos de entrega, instabilidade financeira, quebra de confiança entre os envolvidos na transação comercial.
Um exemplo é o assoreamento de uma das hidrovias mais importantes do mundo, responsável por interligar os oceanos Atlântico e Pacífico: o Canal do Panamá. Por ele passam cerca do 6% das mercadorias do comércio marítimo do globo, inclusive do Espírito Santo.
O assoreamento do lago artificial Gatún, que abastece o Canal, devido a chuva insuficiente, levou as autoridades a reduzirem as travessias de navios por ele e até mesmo a quantidade de cargas.
“Devido a interligação das cadeias logísticas globais, haverá impactos na economia brasileira e, consequentemente, no Espírito Santo”, ressaltou Agnaldo Martins, vice-presidente do Sindicato do Comércio de Importação e Exportação do Estado (Sindiex).
“Ainda não é possível mensurar o prejuízo específico no Estado devido aos problemas hídricos no Canal do Panamá, mas as restrições causaram gargalos, atrasos, aumento dos custos de transporte e incerteza sobre o futuro do Canal”.
Uma gama muito grande de contêineres passam pelo Canal do Panamá e chegam ao Terminal Portuário de Vila Velha (TVV). Outros chegam em Santos (SP), passam pelo transbordo e vêm para o Estado por cabotagem (transporte marítimo pela costa), conforme o especialista portuário Anderson Polido.
O Canal do Panamá, na prática, é um atalho para chegada e saída de mercadorias dos portos do Brasil e do Espírito Santo rumo à Costa Oeste dos Estados Unidos e países do Oriente, como a China. Um atalho ao Cabo Horn, no Sul da América do Sul, proporcionando uma economia de sete dias de viagem.
O professor doutor de direito internacional marítimo e portuário da FDV, Marcelo Obregon, destacou que com impacto do assoreamento, uma das grandes preocupações são as mercadorias que vêm do Ocidente chegando a todos os portos do Brasil.
“O Brasil importa combustível, matéria prima e tecnologia”, ressaltou. Ele acredita que os EUA vão solucionar o problema.
Entenda
Canal do Panamá
O que é: uma das hidrovias mais importantes do mundo, o Canal do Panamá é uma interligação artificial entre o Oceano Atlântico e Pacífico. Por ele passam cerca de 6% das mercadorias do comércio marítimo do globo, inclusive do Espírito Santo.
O canal, na prática, é um atalho para chegada e saída de mercadorias dos portos do Brasil e do Espírito Santo rumo a Costa Oeste dos Estados Unidos e países do Oriente, como a China.
Passam pelo canal embarcações com até 32 metros de largura
Como funciona
O canal funciona pelo sistema de eclusas, em que os níveis da água são separados por duas “portas” que funcionam como elevadores para embarcações. A água que alimenta esse sistema vem do lago artificial Gatún.
Na prática, a embarcação fica sobre a água, no compartimento. Quando mais água entra no compartimento, seu volume levanta a embarcação, que navega até chegar na próxima eclusa, que está na altura mínima e que recebe mais água e repete o processo, elevando ainda mais a embarcação.
Já para a descida, a água é parcialmente retirada do compartimento, baixando o nível e levando consigo a embarcação, que também conseguirá navegar para o próximo compartimento, que também vai descer de nível.
História
O Canal do Panamá começou a ser construído pela França, em 1881. Contudo, o projeto foi interrompido por falta de planejamento, problemas de engenharia e pelo fato de mais de 20 mil trabalhadores terem morrido de acidente e doenças tropicais, como malária e febre amarela.
Em 1903, os EUA passaram a controlar o Canal, assumindo as obras até 1999, quando foi entregue ao governo panamenho, que entregou para uma empresa norte-americana administrar.
Relação com o Estado
O Espirito Santo utiliza o Canal do Panamá para importações e exportações. Basicamente são exportadas commodities e importados matérias primas, combustíveis e tecnologias.
Entre os produtos exportados estão granito, celulose, minério de ferro, café, soja, farelo de soja e milho. Já entre os importados estão máquinas e equipamentos.
Economia
A rota pelo canal do Panamá proporciona uma economia de sete dias de frete. Na prática, isso é ainda mais importante porque o fretamento de um navio é feito por produtividade.
Por exemplo, para embarcar 6 mil toneladas por determinado tempo. Só que existe uma penalidade, conhecida como demurrage, que é um valor cobrado quando o contêiner ultrapassa o tempo do frete e permanece mais tempo do que o planejado em posse do importador.
Ou seja, além do frete ficar mais caro por causa da rota maior, corre-se um maior risco de haver o pagamento desse tipo de penalidade.
Consequências materiais: o aumento do preço do frete das embarcações, necessidade de mais dias de trabalho da tripulação, mais combustível, alimentação.
Outras consequências: atraso na chegada da mercadoria ao destino, insegurança nos prazos de entrega, instabilidade financeira, quebra de confiança entre os envolvidos na transação comercial.
Rota Bioceânica
O Brasil está investindo em uma alternativa que é a Rota Bioceânica, um corredor rodoviário de 2.396 quilômetros que vai ligar o Atlântico ao Pacífico passando pelo Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.
O corredor rodoviário vai interligar a BR-267 que corta os estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Uma ponte de 630 metros de extensão, construída sobre o rio Paraguai, vai interligar Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, a Belo Peralta, no Paraguai. A rota atravessa o país, passa ainda pela Argentina e Chile, chegando aos terminais portuários.
A expectativa é que ela facilite a exportação para a China e aumente a competitividade dos produtos do Brasil em países do Oriente.
Novo porto
Localizado na ES-010, em Aracruz, está em construção o Porto da Imetame. De acordo com a empresa, a profundidade de 17 metros do Terminal permitirá que os navios de contêineres possam entrar e sair do Porto totalmente carregados, se comparado a outros portos do Brasil.
Segundo a empresa, o porto poderá receber navios tipo Suezmax e Capesize. E numa fase posterior de dragagem, alcançando 25 metros de profundidade, o transportador de petróleo Very Large Crude Carrier (VLCC).
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