Conta que não fecha: energia cara impede salários maiores e novos empregos
Investimentos acabam não saindo do papel por causa do alto preço, o que pode representar uma desindustrialização do País, dizem especialistas
Em um país com abundância de fontes renováveis, a energia cara é um problema para as indústrias e motivo para a retenção de investimentos e, consequentemente, de criação de empregos e de salários mais altos.
A energia do gás natural, do carvão, da gasolina, do diesel e a elétrica, por exemplo, têm preços que pesam e reduzem investimentos.
A tarifa média em 12 meses, com tributos, do setor industrial capixaba saltou de R$ 800 para R$ 882 cada megawatt/hora entre setembro de 2023 e o mesmo mês de 2025, impactando na competitividade das empresas, segundo a Agência de Regulação de Serviços Públicos do Estado (Arsp).
No caso da energia elétrica, encargos tributários e perdas na rede de distribuição são alguns dos principais motivos, diz o engenheiro e especialista no setor elétrico Carlos Jardim Sena.
Cerca de 8% do que é gerado pelas hidrelétricas brasileiras é perdido em forma de calor ou na criação de campos magnéticos no percurso de transmissão, explica Sena.
Esse percentual acaba sendo maior quando se analisa o caminho entre as distribuidoras que captam a energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) e levam até o consumidor final.
“Na distribuição, isso chega a 23%, dependendo da distribuidora. Estamos sempre enxugando gelo e o sistema de energia é ineficiente. Você perde mais da metade da energia que Itaipu é capaz de gerar só para transmitir ela da região Sul para outras regiões”.
Sena acrescenta que em períodos de escassez de chuvas, por exemplo, e a necessidade de acionamento de termelétricas movidas a carvão e gás — que são mais caras —, o preço pago pela energia se eleva ainda mais.
Um eventual barateamento da energia tende a se refletir em melhores condições caixa para aplicar em outras áreas. “Se você reduz o custo de energia, pode levar esse recurso para salário”, diz o presidente da Metalosa, Lúcio Dalla Bernardina.
Sena afirma que, com os custos com energia reduzidos, a capacidade de investimentos aumenta, os projetos industriais saem do papel e, com isso, também se ela a oferta de empregos qualificados.
A energia, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado (ABIH-ES), Fernando Otávio Campos, é o terceiro item de maior despesas para o setor e fica atrás só da folha de pagamento e do consumo de água.
Usina nuclear no Espírito Santo?
Incluído em 2010 como um dos possíveis estados a receber uma usina nuclear, o Espírito Santo não possui hoje projeto em desenvolvimento para esse tipo de energia, segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes) e a Agência de Regulação de Serviços Públicos do Estado (Arsp).
Mas a solução, que voltou a ser estudada por países europeus como saída para crises energéticas, é um dos modelos viáveis para melhoria do fornecimento da energia no Brasil.
O sistema de Small Modular Reactors (SMR), que são reatores modulares pequenos, são uma tecnologia mais atual e segura que pode ser adotada, conta Carlos Jardim Sena.
“Você trabalha o reator dentro de invólucros estanques, totalmente isolados, de forma que se tiver um problema no reator, você perde apenas ele, sem contaminação do meio ambiente”, diz.
Com potência a partir de 100 megawatts, eles se assemelham à produção da Usina de Mascarenhas, em Baixo Guandu, que tem capacidade para cerca de 130 MW de potência, detalha Sena.
Empresas pedem tributação menor
Reduzir os tributos sobre a energia do sistema de geração distribuída – produzida a partir de painéis solares e energia eólica próprios dos consumidores – é a principal demanda das indústrias para a diminuição dos custos.
Para o conselheiro do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (CDMEC), Fausto Frizzera, os impostos impactam na contratação de mão de obra.
A taxa da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) é um exemplo de encargo que chega na conta. O valor, porém, é utilizado para subsidiar o acesso à energia — como tarifas menores para pessoas de baixa renda, que não conseguem arcar com os custos.
Para as distribuidoras, de forma geral, os tributos correspondem, em média, 45% da energia que comercializa. “Quando você pega a tarifa de energia (para o consumidor), o que corresponde de fato ao custo dela é 35% a 40%”, diz Sena.
Entenda
Salários
A redução dos investimentos diminui a oferta de empregos qualificados, enquanto vagas de baixa remuneração permanecem sem interessados, avaliam especialistas.
Com isso, Há falta de profissionais especializados e salários reduzidos. Com custos menores para a indústria, haveria aumento de investimentos, criação de vagas, elevação salarial e estímulo ao comércio, turismo e à economia em geral.
Tributos
PIS, Cofins e ICMS representam cerca de 45% da tarifa da distribuidora, somados a encargos setoriais e tributos indiretos, segundo especialista, o que faz com que a tarifa “praticamente dobre”.
Apenas 35% a 40% da tarifa corresponde ao custo real da energia. Combustíveis também são onerados por ICMS e pela Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), que incidem sobre o setor.
Planejamento do setor elétrico é questionado
investimentos contínuos em novas linhas de transmissão que não solucionam os problemas estruturais do setor fazem com que o País seja visto como mal planejado. Especialistas questionam as perdas nas linhas de transmissão e a ausência de redes autossuficientes.
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