Carros populares de volta?
Montadoras e governo discutem mudanças em impostos para modelos com menos conectividade e movidos só a etanol
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A volta do carro popular é negociada entre governo federal e montadoras. O preço seria de R$ 50 mil a R$ 60 mil. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo estuda usar um fundo abastecido com recursos pagos por empresas de petróleo para renovar a frota.
Haddad se reuniu ontem com o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, para tratar do assunto. O ministro disse que o fundo já existe e não se trata de recursos novos e que colocará uma equipe para estudar o tema.
A proposta agrada concessionárias e fabricantes, por ser uma forma de aumentar a produção e as vendas ao oferecer um veículo mais barato. Para reduzir os preços, o governo teria de criar uma tributação exclusiva para os carros abastecidos só com etanol, com tarifas menores que os flex ou gasolina.
As montadoras acreditam que, se houver acordo e o governo oferecer incentivos tributários, seria possível oferecer um veículo popular com valor pelo menos R$ 10 mil abaixo do praticado atualmente.
Atualmente, o modelo mais barato do Brasil é o Kwid, da Renault, que tem preço inicial em R$ 68,1 mil. O preço dos carros disparou nos últimos anos, especialmente na pandemia, com a falta de peças.
Para o programa ficar de pé, porém, será preciso uma contrapartida do governo e das próprias fabricantes. A discussão indica uma possível redução da carga tributária para os veículos de entrada.
Uma das possibilidades seria atribuir o caráter “verde” a esses carros que usariam apenas o etanol como combustível – motor com tecnologia anterior à atual usada nos carros brasileiros.
No ano passado, 83,3% dos veículos novos vendidos no Brasil tinham tecnologia “flex fuel” – que permite uso de gasolina ou etanol em uma tecnologia que substituiu os antigos “motores a álcool”. Ou seja, oito a cada 10 veículos vendidos no Brasil já podem usar o etanol como combustível.
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No ano passado, o segundo combustível mais usado foi o diesel, com participação de 11,7%, seguido pelos motores que usam apenas a gasolina, com 2,5%. Dados da Anfavea indicam participação zero de motores exclusivamente movidos a etanol.
Há especial preocupação sobre o espaço fiscal, já que a equipe econômica não tem gordura para oferecer benefícios tributários.
Modelos podem vir sem direção, ar-condicionado e vidro elétrico
Por parte das montadoras, a discussão para ajudar a reduzir o preço dos veículos passa pela possibilidade de retirada de alguns itens não obrigatórios dos veículos, como os relacionados à navegação e conectividade do veículo. A tendência é que os novos carros populares percam itens de conforto para que os valores fiquem baixos.
Hoje, qualquer veículo fabricado no País precisa ter itens de segurança que não existiam há 10 anos, quando os carros populares novos custavam a partir de R$ 19.900. A lei que obriga os veículos a terem airbags e freios ABS é de 2014. Outra lei sobre emissões de gases é mais recente. A última, mais restritiva, é de 2022.
É possível que os carros venham sem ar-condicionado e direção hidráulica ou elétrica, e com vidros manuais. As montadoras contudo reconhecem que reduzir o preço dos carros de entrada pode ter efeito limitado em um momento em que a economia tem juros altos e dificuldade na oferta de crédito.
A iniciativa da volta dos carros populares tem sido debatida e muitos executivos encaram o tema como uma ajuda importante para o setor que tem sofrido com a queda nas vendas.
Com juro elevado e instituições financeiras mais restritivas, o percentual de carros novos vendidos com financiamento ficou abaixo de 40% em 2022. Há pouco mais de uma década, a fatia era de 70%.
Ou seja, o crédito mais caro e difícil ajuda a explicar parte da queda da intenção de compra dos motoristas.
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