Cai número de famílias com dívidas, diz pesquisa
Levantamento aponta que, pelo quarto mês seguido, há menos endividados no Estado. Especialistas falam sobre as dificuldades
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O percentual de famílias no Espírito Santo inadimplentes ou com contas atrasadas diminuiu de 38,8% para 38,2%, de dezembro do ano passado para janeiro deste ano.
O número caiu pela quarta vez consecutiva, de acordo com Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC). Ela foi realizada pela Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES) com base nos dados coletados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada neste mês.
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O índice teve impacto vinculado tanto ao 13º salário, quanto ao programa Desenrola, do governo federal, voltado para renegociação de dívidas, de acordo com o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do ES (CRC-ES) Walterleno Noronha.
Antes do programa, os juros do cartão de crédito chegavam a 500%. Agora, com a limitação imposta, não pode passar de 100%. “Com 13º no mercado e menos juros, a tendência é de melhora nos números”, destacou Noronha.
Segundo o membro do Comitê de Finanças do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES), Marcel Lima, o fácil acesso ao crédito rotativo no cartão provoca sérios problemas a muitas famílias, que se endividam a taxas elevadas e não conseguem quitar as dívidas.
“Felizmente, no final do ano passado, o governo federal limitou a 100% o juro anual nessa modalidade, o que permite menor endividamento das famílias, nessa que é a principal modalidade de crédito dos brasileiros”, explicou.
Obrigações
Na análise da Equipe Connect Fecomércio-ES, apesar de manter-se em um patamar elevado em janeiro (38,2%), a queda reflete uma melhoria na capacidade das famílias de cumprir com suas obrigações financeiras. Os dados do estudo mostraram que o nível de endividamento das famílias foi constante no período: 89,8%.
A contadora, educadora financeira e especialista em Psicologia Econômica Daniele Dornelas destacou que endividamento não é investimento. Grande parcela é de consumo de futilidades. “É um número assustador”, afirma. Ela destacou que no Brasil o endividamento é de 76,6%. “O Espírito Santo é menor e tem um endividamento maior”.
“Alto gasto para manter imagem”, diz especialista
As famílias com renda superior a 10 salários mínimos (equivalente a mais de R$ 14.120) usaram mais o cartão de crédito, atingindo 89,5%, e o cheque especial, que registrou ampliação para 3,1%.
Além disso, houve diminuição do crédito consignado e do crédito pessoal nessa faixa de renda, de acordo pesquisa da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES).
A contadora, educadora financeira e especialista em Psicologia Econômica Daniele Dornelas explicou que não importa o quanto uma família ganha, mas como ela gasta os recursos. “Nunca vai ser sobre quantidade, sempre vai ser sobre a forma como a pessoa gasta ou investe esse dinheiro”.
Daniele explicou que no Estado, muitos moradores “gastam mais do que ganham para sustentar um estilo de vida e manter a imagem de bem-sucedido”.
Ela detalhou que isso inclui carro caro, roupas de marca, bairro onde mora, restaurantes que frequenta, por exemplo. Também destacou as facilidades do dinheiro de plástico. “Você abre uma conta em um banco digital e ele já libera o crédito. Tem pessoas com dez cartões de crédito”, apontou.
Destacou ainda que todo esse padrão de vida é mostrado nas redes sociais. Enquanto o ideal para uma vida financeira saudável seria ter um padrão de vida abaixo da sua capacidade financeira, para poupar dinheiro.
Sites parceiros vão dar acesso ao Desenrola
O Ministério da Fazenda anunciou que a plataforma do programa Desenrola poderá ser acessada, em sua reta final, por meio de parceiros, sendo o primeiro deles a Serasa.
A plataforma passou a funcionar como um hub, o que significa que o seu acesso pode ser feito não apenas pelo site do governo (gov.br), mas também por sites de parceiros, que podem ser bancos e financeiras.
A alternativa começou a ser oferecida na semana passada com a Serasa, permitindo que usuários “logados” no site da empresa de cadastro de crédito possam ser direcionados, sem necessidade de novo login. A intenção do ministério é estabelecer mais parcerias para, assim, facilitar e ampliar o alcance do Desenrola até 31 de março, no fim do programa.
Saiba mais
Gastos
- Especialistas explicam que para sair do vermelho é preciso gastar menos do que se ganha. Há profissionais no mercado que ensinam seus clientes a cuidarem do próprio dinheiro por meio de mudanças de comportamento.
- Um dos grandes problemas identificados é que os consumidores querem levar um padrão de vida acima daquele pelo qual podem pagar.
Pesquisa
- A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) apontou que o percentual de famílias no Espírito Santo com contas atrasadas ou inadimplentes diminuiu de 38,8% para 38,2%, de dezembro do ano passado para janeiro deste ano. O número caiu pela quarta vez consecutiva.
- Ela foi realizada pela Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES) com base nos dados coletados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e divulgada neste mês.
Resultados
Inadimplência
- Em janeiro, a inadimplência caiu pelo quarto mês consecutivo, atingindo 38,2% das famílias capixabas. Contudo, comparando com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 1,7 ponto percentual.
Endividamento
- O nível de endividamento das famílias permaneceu constante nos últimos três meses, registrando 89,8%. No entanto, nota-se um aumento de 0,4 ponto percentual em comparação com janeiro do ano passado.
Inadimplência
- Entre as famílias que enfrentarão dificuldades para quitar as dívidas em atraso no próximo mês, houve estabilidade em comparação com dezembro, mantendo-se em 21,3%. Em contrapartida, há aumento de 1,9 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano passado.
Contribuições
- Especialistas apontam que o décimo terceiro e o Desenrola contribuíram para melhora dos números em janeiro, comparado aos meses anteriores. Mas ressaltam que é preciso cautela, pois os números após o Carnaval podem ser outros.
Fonte: Fecomércio-ES e especialistas citados na reportagem.
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