Cacau Show vai investir R$ 1 bi para ficar autossuficiente em cacau
Atualmente a fazenda Dedo de Deus, em Linhares, atende cerca de 3% da demanda da companhia brasileira pelo produto
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A alta acentuada dos preços do cacau fez a Cacau Show acelerar seu plano de aumentar sua área plantada para se tornar autossuficiente na principal matéria-prima dos chocolates. Atualmente a fazenda Dedo de Deus, em Linhares (ES), atende cerca de 3% da demanda da companhia brasileira pelo produto.
Para os próximo dez anos, Alexandre Costa, CEO da Cacau Show, prevê o investimento de R$ 1 bilhão para chegar a 7.000 hectares de cacau. A expansão da produção vai ao encontro do plano de crescimento da área plantada de cacau no Brasil incentivada pelo governo e pela indústria.
Em 2024, a empresa projeta produzir 33 mil toneladas de chocolate.
No momento, a companhia está prospectando áreas no Espírito Santo, na Bahia e no Pará (esses dois últimos, os maiores produtores no Brasil) e quer encontrar um sócio no agronegócio para investir no segmento.
Segundo Costa, uma das possibilidades à mesa é a associação com algum grupo grande que ajude a viabilizar a expansão da produção. A primeira colheita do cacau ocorre de três a quatro anos a partir do plantio.
Na fazenda Dedo de Deus, onde a primeira colheita foi há três anos, estão plantados 53 mil pés de cacau em 50 hectares. A propriedade tem ainda uma espécie de viveiro-laboratório, um jardim clonal, onde são testadas e cultivadas as melhores variações da planta.
Esse é um dos fatores para a alta produtividade na Dedo de Deus, de cerca de 2.500 quilos por hectare de área plantada. Algumas áreas chegam a bater a marca de 3.000 quilos. O outro é o uso de tecnologia e de um outro modelo de plantio.
A produção da Cacau Show é feita sob a incidência solar e com os pés plantados com distância suficiente para que caminhões passem entre eles, em contraste ao tradicional sistema cabruca, que usa a sombra das áreas nativas da mata atlântica e onde há baixa mecanização do trabalho.
Por ser produtor de cacau e ter indústria de chocolate, o Brasil tem as três principais moageiras em seu território –Cargill, Barry Callebout e Olam. Cerca de 75% a 80% do que elas processam vêm da produção nacional.
O resto é importado –e a referência de preços de amêndoas nacionais ou importadas é a bolsa de commodities de Nova York.
O pico foi registrado em abril deste ano, de US$ 11,311 mil por tonelada de amêndoa, mas os preços vêm em alta desde o início de 2023. A partir de 2024, porém, o ritmo de alta se intensificou.
Na avaliação do dono da Cacau Show, o mercado internacional de cacau está muito "emocional". Antes do ciclo de alta, os preços pagos aos produtores também estavam muito baixos.
Os maiores produtores mundiais da amêndoa estão na Costa do Marfim e em Gana. O plantio e a colheita na África Ocidental está afetado por novas doenças e mau tempo, encolhendo os estoques.
Para os próximos meses, Alexandre Costa diz que o consumidor de chocolate no Brasil deve começar a sentir o efeito do descontrole do mercado. "Vai ter um nível de reajuste. Temos uma empresa que cresce muito e uma situação em que o preço chegou a triplicar", diz Costa.
O dono da Cacau Show lembra que as indústrias trabalham com contratos futuros de três a seis meses. Esse "estoque de proteção" com preços mais baixos está chegando ao fim.
NOVO PLAYLAND 'CHOCOLATUDO' SERÁ EM SANTO ANDRÉ
A produção de chocolate é o principal braço de negócios da Cacau Show, mas não é o único.
O mais recente foi a aquisição do Grupo Playcenter, complexo de entretenimento e parque de diversões. A compra foi aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em meados de abril e, com isso, diz o CEO da Cacau Show, "eu já posso ir lá".
O Playcenter deu nome ao tradicional parque de diversões na marginal Tietê, fechado em 2012. Atualmente, o grupo mantém duas operações de lazer indoor, principalmente em shoppings. Além das Playland, o Playcenter Family.
A primeira unidade já sob o comando do novo dono será uma Playland no shopping Grandplaza, em São André (ABC paulista). O espaço está sendo reformado. "Vamos inaugurar essa nova loja, que já será muito mais chocolatada, e vamos começar a juntar entretenimento e chocolate", diz Costa.
Outra novidade no portfólio de negócios da Cacau Show é a abertura de um segundo resort, agora em Águas de Lindoia, no interior de São Paulo.
Também batizado de Bendito Cacao –mesmo nome da linha bean do bar –do grão à barra, como são conhecidos os produtos que têm todas as etapas internalizadas pela indústria–, ele pretende ser um "resort para família".
Onde um dia foi o hotel Vacance, o novo resort já está recebendo hóspedes e visitantes, mas ainda não foi oficialmente inaugurado.
O outro resort foi inaugurado em 2021, em Campo dos Jordão (a 181 km de São Paulo), na serra da Mantinqueria, na propriedade onde um dia funcionou o Blue Mountain. Lá, o cacau aparece no spa –a manteiga é usada em tratamentos como hidratante, e a casca, em esfoliações–, na decoração e em pratos doces e salgados.
RAIO-X
Fundação 1988, na Casa Verde, zona norte de São Paulo
Lojas cerca de 4.400; 3.981 franqueadas e 364 próprias
Funcionários 22 mil
Produção Capacidade para 33 mil toneladas ao ano
Faturamento R$ 5,3 bilhões em 2023
Principais concorrentes Kopenhagen, Lindt, Dengo e Brasil Cacau
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