Brasil cria 306 mil vagas formais de emprego em fevereiro, com impulso de serviços
Número supera com folga o resultado registrado no mesmo mês do ano passado
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O Brasil gerou 306.111 vagas formais de trabalho em fevereiro, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados nesta quarta-feira (27), pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
O número supera com folga o resultado consolidado registrado em fevereiro do ano passado, quando foram abertas 252.487 vagas com carteira assinada no país.
Na comparação anual, em fevereiro deste ano, a geração líquida de vagas foi 21,2% maior do que em igual mês de 2023.
Também é bem maior que o esperado pelos analistas econômicos: a projeção era de 236 mil vagas.
Ao todo, no segundo mês deste ano, foram registradas 2,249 milhões de contratações e 1,943 milhão de demissões.
Com a mudança de metodologia, analistas alertam que não é adequado comparar os números com resultados obtidos em anos anteriores a 2020.
Os cinco setores de atividades econômicas tiveram saldo positivo em fevereiro, com maior impulso do setor de serviços -193.127 empregos formais. Também houve geração líquida de 54.448 postos na indústria, 35.053 na construção, 19.724 no comércio e 3.759 na agropecuária.
Às vésperas da nova divulgação, membros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já repercutiam o vigor do mercado de trabalho brasileiro. Desde o início do ano, foram criados 474.614 empregos formais no Brasil.
Em entrevista à rádio Itatiaia, na manhã desta quarta, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que o número de criação de empregos em fevereiro seria "bastante expressivo". "A economia brasileira inicia um ciclo longo de crescimento econômico e nós precisamos preparar a nossa juventude para ocupar esses postos de trabalho", disse.
Já o ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmou, um dia antes, em entrevista coletiva a jornalistas no Palácio do Planalto que os dados do Caged seriam "extraordinários".
Em entrevista a jornalistas sobre os dados do Caged, o ministro Luiz Marinho (Trabalho) disse que o presidente Lula ficou "muito feliz" com o resultado de fevereiro.
"Esperamos que março venha reforçar ainda mais também para enxergarmos uma tendência do que pode acontecer neste ano", afirmou.
Para Marinho, o Brasil pode ultrapassar a linha de 2 milhões de empregos líquidos gerados ao final do ano.
Dos cinco setores de atividades econômicas, quatro tiveram saldo positivo no acumulado dos dois primeiros meses de 2024. O grupo de serviços ajudou a impulsionar o resultado do ano, com a criação de 268.908 vagas formais. Na sequência, aparecem indústria (120.004 postos), construção (81.774) e agropecuária (25.751). No comércio, houve saldo negativo de 21.824 empregos formais.
A força do mercado de trabalho vem soando como alerta para o Banco Central e para as perspectivas sobre o ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic) à frente.
Na ata do último Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada na terça-feira (26), o colegiado registrou uma extensa discussão sobre a resiliência do mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a atividade econômica e a inflação.
"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", disse.
Para o Copom, a evolução do indicador que mede a diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo (hiato do produto) e do comportamento do mercado de trabalho será muito relevante para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta (3%).
Diante dos alertas do BC, Marinho criticou a atuação da autoridade monetária, defendendo maior redução dos juros, e afirmou que os diretores da instituição precisavam "estudar mais os fundamentos da economia".
Para o ministro, controlar a inflação por meio de aumento de juros e corte de crédito é uma "forma burra" de ação. O "jeito inteligente", segundo ele, é atuar pelo lado da oferta e exigir planejamento dos agentes da iniciativa privada.
"Eu convido o Banco Central a aprofundar mais esse debate da produtividade do Brasil. Não por constatação, por números globais, é preciso dar uma aprofundada nas especificidades de cada setor para ver o que está acontecendo", disse.
No mês passado, o salário médio de admissão caiu para R$ R$ 2.082,79, uma redução real (descontada a inflação) de R$ 50,42 em relação a janeiro (R$ 2.133,21) -variação negativa em torno de 2,36%. Na comparação com fevereiro do ano anterior, houve ganho real de R$ 28,29 (alta de 1,4%).
Os dados do Caged mostram também que foram abertas vagas de emprego em todas as regiões do país em fevereiro, sendo 159.569 no Sudeste, 84.862 no Sul, 34.044 no Centro-Oeste, 17.062 no Norte e 10.571 no Nordeste.
Em 24 das 27 unidades da federação foram registrados saldos positivos. O principal resultado foi verificado em São Paulo, com a geração de 101.163 vagas formais (alta de 0,7%), com destaque também para o setor de serviços (soma de 67.750 postos).
Na outra ponta está Alagoas, com retração de 2.886 empregos formais (queda de 0,65%).
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