Atividade de trancista é reconhecida como profissão
Segundo especialistas, apesar de ainda não existir um censo oficial, o número de trancistas no país varia entre 600 mil e 800 mil

A atividade de trancista foi incluída recentemente na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). Agora, a ocupação passa a existir formalmente nos sistemas públicos e privados de trabalho.
A criação do código viabiliza registro da ocupação na carteira de trabalho e em contratos formais, acesso a direitos da Previdência Social, FGTS e linhas de crédito específicas, inclusão em políticas públicas de qualificação profissional, o reconhecimento oficial por órgãos públicos, bancos, financiadoras e entidades de fomento, a valorização simbólica e reparação histórica, reconhecendo a importância cultural e econômica dessa prática.
Gabriela Lopes, 20 anos, aprendeu a trançar com a mãe que é cabeleireira. "Minha mãe fez um curso de penteados, entre eles a trança. Minhas tias faziam em mim e eu mesma sempre gostei de fazer em mim mesma." Hoje, Gabriela tem o próprio salão, no Mandaqui, na zona norte da capital paulista, especializado em trança, que conta com mais duas profissionais.
Ela diz que, dependendo do modelo, espessura, comprimento e quantidade de tranças leva-se em média de 6 a 8 horas para trançar um cabelo e cobra valores a partir de R$ 100 para a trança Nagô. Já para as chamadas Microbraids (microtranças) o valor pode ultrapassar os R$ 1 mil.
"Além da questão da ancestralidade, esse código representa uma grande conquista para nós, poderemos optar pelo Mei ou pelo registro e teremos acesso a direitos sendo reconhecidas especificamente pela nossa profissão.
Lúcia Udemezue, cientista social e cofundadora do coletivo Manifesto Crespo, afirma que a inclusão da atividade na CBO é uma pauta antiga de coletividades de trancistas de vários estados que já pensavam em como se organizar para reivindicar esse direito de reconhecimento trabalhista.
"É uma grande vitória dos movimentos sociais que fizeram com que essas demandas chegassem até o governo federal. Agora, é importante que o poder público faça um trabalho de divulgação para que essas pessoas possam se registrar. Isso dará visibilidade à profissão."
Segundo especialistas, apesar de ainda não existir um censo oficial, o número de trancistas no país varia entre 600 mil e 800 mil, sendo que a categoria majoritariamente é formada por homens e mulheres negras.
O ato de trançar é ancestral, um conhecimento passado entre gerações e que também passou a ser uma fonte de renda. "Há vários perfis de trancistas. As que vão na casa das pessoas, as que recebem as pessoas em casa, as que têm um salão. Existe muito a indicação de uma profissional para outra, no boca a boca, mas a popularização desse trabalho ganha força a partir de 2010", explica Lúcia.
Para Anatalina Lourenço, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade, do Ministério do Trabalho e Emprego, o reconhecimento da profissão é o reconhecimento dos saberes ancestrais de matriz africana. "É uma prática tradicionalmente exercida por mulheres negras das periferias brasileira. O trançar o cabelo é também um gesto de cuidado, de resistência, de geração de renda."
Ela afirma que o próximo passo é divulgar o máximo possível para que a informação chegue de fato no maior número possível de pessoas que trabalham nessa área, além de dialogar com o Ministério da Previdência Social e com o Ministério da Saúde. "As trancistas se queixam muito de bursite, tendinite e artrose nos dedos. Então, é preciso pensar sobre o reconhecimento dessas lesões profissionais para esta categoria."
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